Eliminação de Angélica coloca o racismo em debate, mas Bial foge do tema

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

O mundo real, eventualmente, bate à porta do "Big Brother Brasil". Este ano, com três participantes negros (Angélica, Douglas e Luan), um número acima da média histórica do programa, o tema do racismo rapidamente apareceu – dentro e fora da casa.

A auxiliar de enfermagem foi quem, claramente, mais manifestou interesse em falar sobre o assunto. Logo no primeiro dia, Angélica se irritou com Luan depois de ouvi-lo dizer, meio que brincando, que "todo preto é ladrão". Ela protestou: "Essa mania de preto querer esculachar preto é ridícula. O próprio negro se inferioriza. Ele é preconceituoso", disse para suas amigas na casa.

Esta semana, o assunto voltou à tona por conta de um comentário de Mariza, ao saber de uma das travessuras de Luan. "Ainda bem que a outra negra da casa, a Angélica, não participou disso". 
 
A professora se viu acusada de racismo por Amanda. Ela explicou que se referiu a Angélica como um bom exemplo para comparar com Luan, justamente por ele ter dito, no início do programa, que "todo preto é ladrão".
 
A postura agressiva de Angélica dentro da casa, para muitos vista como arrogante, ou "destrambelhada", como disse Bial, acabou provocando reações racistas de muitos espectadores nas redes sociais. Nesta terça-feira, a "Folha" informou que a família da auxiliar de enfermagem decidiu tomar providências legais contra os comentários.
 
"No Facebook, Twitter, Instagram, ela é chamada de macaca, preta e tem a mãe xingada", disse Erick Castro, irmão da participante.
 
Angélica saiu do "BBB15" com 69% dos votos. Diferentemente do que normalmente faz ao receber o eliminado, o apresentador Pedro Bial entrevistou primeiro a mãe dela, Carmem Ramos. 
 
Bial quis saber de Carmem porque ela parecia tão feliz com a saída da filha: "Por que a senhora está agradecendo tanto?". "Porque o que minha filha estava passando aqui e a gente passando lá fora. Estava pedindo a Deus, aos meus orixás, ao meu pai Ogum, minha mãe Oxum, porque a gente estava sofrendo demais aqui fora com o racismo". 
 
Foi a deixa para o apresentador interromper a conversa imediatamente: "Lá dentro! Lá dentro!". E dirigindo-se a Angélica, perguntou: "Será que não faltou um pouquinho de diplomacia?" E ela: "Não. Essa sou eu. Eu não seria outra pessoa." 
 
Bial, em resumo, perdeu uma ótima oportunidade de tratar de racismo -- tema, aliás, que já foi abordado em outro programa que comanda, o "Na Moral". O caso de Angélica mostra a necessidade de falar mais - e abertamente - sobre o assunto. Pena que não houve espaço na noite desta terça-feira.

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.

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