Caso Luan mostra que o público sabe editar o "BBB" melhor que a Globo

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

Poucas horas depois da estreia do "BBB15", já na madrugada de quarta-feira (21), um dos confinados na casa, o ex-militar Luan Patrício, de 23 anos, contou a alguns colegas que matou uma pessoa durante a operação de invasão no Complexo do Morro do Alemão, no Rio, enquanto servia o Exército, em 2010.

Muita gente que acompanhava o programa pelo serviço pago, que mostra imagens 24 horas por dia, engasgou e saltou da poltrona ao ouvir a história do rapaz. A conversa imediatamente repercutiu no Twitter, gerando os mais variados comentários e interpretações.
 
Luan explicou que estava na parte de baixo do complexo de favelas quando atirou. "Eu fiquei na linha de tiro embaixo, de rifle, dando cobertura para quem estava subindo". O "brother" ainda explicou que o jovem usava uma submetralhadora. "Acho que ele era mais novo do que eu. Eu estava com 19, ele devia estar com 16", disse.
 
Por fim, Luan ainda detalhou o momento do disparo, imitando o som de um tiro e gesticulando com o dedo indicador para a testa. "Rasgou a cabeça dele e a caixa d'água", contou. "Na hora eu tremi, o sargento olhou para mim e disse: Ou era você ou ele", concluiu.
 
A riqueza de detalhes do relato seria um prato feito para a edição do dia seguinte do "BBB". Mas nada foi mostrado. Como se o assunto não tivesse existido. 
 
Não é a primeira vez que a Globo age assim, deixando de mostrar no programa que exibe diariamente diálogos ou situações polêmicas que só o espectador que paga pelo serviço 24 horas consegue ver.
 
O problema, neste caso, é que o relato de Luan ganhou vida própria e fugiu ao controle da emissora. A Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro anunciou que quer ouvir Luan sobre as suas declarações. O Exército, por sua vez, emitiu um comunicando informando que o rapaz, no tempo em que serviu, não participou de qualquer ação no Morro do Alemão.
 
Um amigo de Luan, que esteve ao seu lado no Exército, se manifestou igualmente sobre o assunto. "Não me lembro dele ter participado da ocupação no Alemão como eu. Ele contou vantagem", afirmou Leonardo Lima.
 
A mãe de Luan também já deu seu palpite sobre o assunto. "Eu não sabia. Ele sabe que eu ficava muito preocupada e como estava internada no CTI, creio que preferiu me poupar", afirmou Kátia Alves dos Santos, que precisou ficar um mês no hospital para se recuperar de um AVC (acidente vascular cerebral).
 
O caso Luan, enfim, mostra mais uma vez que o público é melhor editor do "BBB" que a própria Globo. 
 

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.

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