Inovações e elenco produzem a melhor 'Fazenda', mas problemas ainda irritam o público

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

Mesmo sem emoção na final, a quinta edição da “Fazenda” foi, de longe, a melhor. Ótimo elenco, boas novidades e um domínio melhor das ferramentas de edição ajudaram a fazer deste programa o mais atraente da série. Por outro lado, o reality da Record repetiu problemas e cacoetes antigos, que irritam o espectador e poderiam ser evitados.

A preocupação de renovar e inovar produziu bons resultados. O confinamento de seis peões no “celeiro” logo no primeiro dia criou uma tensão inédita. A introdução da “poder da chave” deu nova dinâmica ao jogo. E a edição se mostrou mais ousada, não se limitando apenas a descrever de forma cronológica os acontecimentos.

O elenco foi o mais divertido até hoje. A seleção incluiu grandes personagens, tipos esquisitos e figuras engraçadas, como Sylvinho Blau-Blau, Vavá, Penélope Nova, Leo Áquila, Rodrigo Capella e Diogo Pombo, para não falar da minha favorita Nicole Bahls, além das bizarras Ângela Bismarchi e Gretchen.

A falta de agilidade na edição ainda permanece como marca do programa. Igualmente, incomoda a inabilidade na inserção dos comerciais e a insistência em algumas bobagens, como “a noite do terror”.

Depois de uma hesitação inicial quanto ao melhor horário, “A Fazenda” se estabilizou numa faixa fixa, o que pode não ter sido o melhor na luta pela audiência, mas foi bom para o público.

Aqui um resumo do que vi de melhor e pior na edição:

Nicole Bahls
A modelo carregou o programa nas costas. Passou mais de 80 dias com cara de brava. Arrumou briga com quase todos os participantes, em especial com sua rival, Viviane Araujo, que viria a vencer o reality. Falou absurdos, inventou palavras, chorou abraçada a um cabrito. Deu show.
Ângela Bismarchi
A chamada “personalidade de mídia” protagonizou um episódio polêmico. Ao ser informada da morte violenta da irmã, teve a opção de deixar o programa para ir ao enterro ou ficar. Ficou. Um mês depois, foi eliminada com altíssima rejeição (87% dos votos), na primeira ocasião em que enfrentou o julgamento do público.
Gretchen
A passagem da cantora foi igualmente divertida – para o público. Ela irritou-se com uma série de situações, deu escândalos variados, mostrou um mau-humor infinito, fez greve e, do nada, desistiu do programa.
Celeiro
A ideia de separar os candidatos em dois grupos desde o início não é nova, mas “A Fazenda” conseguiu fazer isso de maneira original, com uma prova logo no primeiro dia, que teve como consequência levar dez peões ao bem bom da sede e seis para a miséria do “celeiro”.
Theo Becker
A passagem de Theo Becker foi uma excelente ideia, mas mal aproveitada. Sem explicação ou lógica, o cara mais doido da primeira edição passou 24 horas na companhia dos participantes da quinta edição. Deveria ter ficado uma semana.
Edição mais firme
Antes narrado de forma cronológica, a quinta edição do programa contou com a intervenção mais marcante do editor, selecionando mais o que vai ao ar. O recurso ajuda a mostrar como cada candidato constrói personagens dentro da casa, mas pode orientar a maneira do público enxergar o que se passa.
Edição sem agilidade
Na lógica burocrática que muitas vezes orienta “A Fazenda”, o que acontece no meio da tarde ou no início de uma noite só vai ao ar no dia seguinte. Desta forma, muita coisa legal não é vista no dia, perdendo a sua força.
Britto Jr.
Não sei se por inibição do próprio apresentador ou insegurança do diretor, o mestre de cerimônias sempre tem texto demais para ler durante os programas e improvisa pouco. Também dá sinais de que ouve instruções em excesso pelo ponto eletrônico, o que o deixa ainda mais travado.
Poder da chave
Outra novidade desta edição, introduziu a possibilidade, interessante, de um candidato se indicar para a roça, por exemplo. Em uma situação, porém, deixou na mão de Felipe Folgosi uma decisão que cabia à direção – a substituição, ou não, de Gretchen.
Lhama
O animal protagonizou boas cenas nesta edição, mais do que alguns candidatos. Deu cusparadas surpreendentes e assustou bem. Só não precisava ter sido “entrevistado” no último programa.
Castidade
A escolha de muitos candidatos casados ou comprometidos inibiu uma das diversões deste tipo de programa, que são os casais que se formam. A quinta edição terminou virgem.
Propaganda prévia
A Record martelou o público com dois slogans infelizes (“um reality show de verdade” e “um reality acima de qualquer suspeita”). Além de prometerem mais do que podiam cumprir, os slogans tentaram comprar briga com o rival “BBB”.
“Daqui a pouco”
No esforço de amarrar o público no sofá, “A Fazenda” usa e abusa de um dos mais velhos e irritantes artifícios da televisão: a promessa de exibir alguma atração especial “daqui a pouco”.
Intervalos na hora errada
Igualmente irritante, o programa continua recorrendo ao “break” em momentos decisivos, interrompendo, por exemplo as votações.
Terrir”
Tradição na “Fazenda”, a chamada “noite de terror” é sempre um momento constrangedor em que a produção finge assustar os peões, que fingem sentir medo, com o objetivo de divertir o público. O problema é que o público não parece se divertir.

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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