Convencional, "Sangue Bom" se divide entre crítica à mídia e mensagem de otimismo
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Divulgação
Uma das principais atrações da novela, Giulia Gam vive a atriz decadente Barbara Ellen em "Sangue Bom"
Superado o impacto e a pirotecnia iniciais, é possível tentar avaliar "Sangue Bom" pelo que ela realmente é: uma novela convencional, sem maiores novidades, mas muito agradável e atraente, como se espera do horário das 19h30.
A trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari está claramente dividida entre dois grandes núcleos – um bem escrachado, próximo da caricatura, e outro melodramático, com um pé na comédia romântica.
O mais interessante, naturalmente, é este primeiro. "Sangue Bom" parece disposta a refletir sobre um tema muito contemporâneo: o papel da mídia na criação de modas, na invenção de celebridades e na manipulação do público.
Para discutir este assunto, os autores colocaram no centro da trama uma agência de publicidade, dirigida pelo boçal Natan (Bruno Garcia), uma diva meio decadente da televisão, Barbara Ellen (Giulia Gam), e uma repórter de programa de celebridades, Sueli Pedrosa (Tuna Dwek), além de uma série de personagens periféricos engraçados.
Outros programas já se aventuraram pelo tema. A boa novela "Celebridade" (2003), de Gilberto Braga, e a arrasadora série "Vida Alheia" (2010), de Miguel Falabella, vem imediatamente à lembrança, mas "Sangue Bom" já deu indícios de que pretende ir além, especialmente por levantar a discussão sobre como a mobilidade social que o país vive, com o crescimento da classe C, afeta a mídia.
A opção pela caricatura e pelo exagero na representação dos personagens deste núcleo facilita o trabalho dos autores. Longe do registro realista, Maria Adelaide e Villari podem se arriscar mais e rir, inevitavelmente, do próprio mundo em que estão mergulhados. Até o momento, na minha opinião, é neste terreno que o afiado texto da novela está conseguindo chamar mais a atenção.
O foco principal de "Sangue Bom", porém, é o outro grande núcleo, construído em torno dos seis jovens – Bento (Marco Pigossi), Amora (Sophie Charlotte), Malu (Fernanda Vasconcellos), Maurício (Jayme Matarazzo), Giane (Isabella Drummond) e Fabinho (Humberto Carrão).
Como explicitou a própria Globo nas chamadas que antecederam a estreia, o poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade, parece orientar o argumento da novela ("João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém").
Além do amor não correspondido, os perfis dos seis jovens convidam a pensar sobre vida de aparências (Amora) e ambição desmedida (Fabinho), dois temas indispensáveis num bom melodrama.
Impossível, também, não notar o otimismo que a trama procura vender já a partir do título. Há muitos personagens com "sangue bom" na novela, tanto entre os remediados da Casa Verde quanto entre os ricos. O clima é compatível com o horário, mas não deixa de causar certo estranhamento. Os poucos personagens com dificuldades estão sempre com um sorriso no rosto, prontos a superar os obstáculos da vida.
Ainda assim, comparada à São Paulo de "Guerra dos Sexos", a cidade que Maria Adelaide e Villari propõem em "Sangue Bom" parece muito mais real, diversificada e interessante. Encarando um dos personagens centrais, e talvez o mais difícil, da novela, Giulia Gam está se saindo muito bem como a atriz Barbara Ellen.
Mauricio Stycer
É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL