Gilberto Barros repete o batido figurino do programa de auditório em "Sábado Total"

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL
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    Gilberto Barros, entre Monica Pimentel e Katia Gardin, da RedeTV!, ao anunciar a estreia de seu programa

    Gilberto Barros, entre Monica Pimentel e Katia Gardin, da RedeTV!, ao anunciar a estreia de seu programa

“Eu sou o cheiro e a cara do povo brasileiro”, diz Gilberto Barros, na abertura de “Sábado Total”, programa que marca o seu retorno à TV. Ao vivo, em um estúdio da RedeTV!, ele acrescenta:. “O programa é do meu tamanho”.

Por três horas, o apresentador vai comandar uma atração que tem a cara da televisão brasileira: antiga, conservadora, avessa a novidades e ousadias.

Faço aqui um resumão do que ocorreu por 180 minutos para o leitor julgar por conta própria.

A primeira atração do programa foi o padre Marcelo Rossi. Ficou 30 minutos no palco, cantou quatro músicas religiosas e abençoou o apresentador. Em seguida, Barros apresentou a dona de uma lanchonete, cujo cachorro-quente é de ótima qualidade, mas os negócios vão mal, e anunciou a reforma do seu estabelecimento.

Em seguida, um helicóptero, apelidado “Leão-cop”, mostrou imagens áreas da Virada Esportiva, no que pareceu uma ação promocional da Prefeitura de São Paulo.

Barros chamou ao palco, então, o grupo Bom Gosto, que cantou “Patricinha de olho azul”. “Vocês começaram há pouco tempo ou já tem muita estrada?”, perguntou o apresentador. “Não. Já são 15 anos de estrada”, respondeu o cantor. “Poxa vida. Eu é que fui burro que não ouvi antes”.

Um “game” musical colocou dois grupos diante do desafio de completar a letra de músicas tocadas no palco – uma proposta que deve ter a idade da televisão no Brasil.

Num dos momentos mais curiosos, Barros recebe alguma informação sobre a audiência do programa pelo ponto eletrônico e, então, improvisa: “Pode assistir meia hora, uma hora, um pedacinho. Fala pra vizinha, fala pro taxista, fala lá no trabalho. ‘Olha, o programa tem um lado chato, que eu não gosto, mas tem um lado que eu gosto e assisto’.”

João Lucas e Marcelo, intérpretes de “Tchu Tcha Tcha”, ocupam o palco por quase 15 minutos, metade do tempo oferecido ao padre Marcelo. Primeiro, cantam o hit, depois repetem a música e, por fim, acompanham a reinterpretação do sucesso em vários gêneros, do tango ao bolero, da valsa ao funk. Ou seja, uma mesma música foi ouvida quase uma dezena de vezes no palco do programa.

Depois de duas horas, vem o primeiro intervalo comercial, brevíssimo. Outros dois ainda serão exibidos, igualmente curtos, num sinal de que o programa ainda busca apoio comercial.

Empolgado, Barros atropela os fatos e diz: “RedeTV!, a emissora que mais cresce no país, a caçula que vai comer as ultrapassadas, antigas TVs brasileiras, meu povo”.

O programa ainda traz a Banda Calypso, Amado Batista e o ex-BBB Daniel, que participa do quadro “De Cara com a fera”. Depois de jurar dizer “a verdade, nada mais que a verdade”, o modelo responde a cinco perguntas e não diz absolutamente nada de relevante.

“Sábado Total”, enfim, repete o figurino de tantos outros programas de auditório, comandados por apresentadores, como Gilberto Barros, que acreditam ser “a cara do povo brasileiro”, mas fazem televisão da forma mais conservadora possível.

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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