Apesar de conflito "ioiô", "Cordel Encantado" termina com merecido reconhecimento
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Divulgação
Somente no penúltimo capítulo, depois de inúmeras idas e vindas, o vilão Timóteo perdeu a princesa Açucena para o mocinho Jesuíno
- ''Cordel Encantado'' termina com 32 pontos no Ibope e leitura de cordel
- As autoras Duca Rachid e Thelma Guedes contam bastidores da novela
- Penúltimo capítulo resolveu principais conflitos
- "Quero que ele sofra muito", diz Bruno Gagliasso sobre o fim de Timóteo
- "Cordel Encantado" apresenta qualidades que faltam a outras tramas da grade global
A rara unanimidade alcançada por “Cordel Encantado” se explica, logicamente, por suas muitas qualidades, visíveis desde o primeiro capítulo, mas também como um sinal do cansaço do público com o modelo que tem dado a tônica da maioria das novelas nos últimos anos.
Em oposição ao realismo e ao naturalismo da maioria das produções, a novela das 18h apostou, como anunciou seu título, no mundo encantado. Salpicada de elementos da literatura de cordel e dos contos de fada, a história de Duca Rachid e Thelma Guedes seduziu públicos de todas as idades por seu apelo, de fato universal, à fantasia e aos instintos infantis.
Além de um elenco bem escalado, ótimo texto, direção de verdade e padrão de cinema (24 quadros por segundo), como apontei logo depois da estreia, acrescentaria às qualidades os figurinos impecáveis e a fotografia e iluminação realmente impressionantes da novela.
A favor de “Cordel Encantado” também pesa, na comparação com as novelas das 19h e das 21h, a duração mais curta dos capítulos (40 minutos) e um menor tempo de permanência no ar (cinco meses).
Mesmo assim, a dupla de autoras não foi capaz de evitar a típica enrolação que acomete toda novela, a chamada “barriga”, nem de desenvolver bons conflitos alternativos ao tema principal da trama – a luta do mocinho Jesuíno (Cauã Raymond) contra o vilão Timóteo (Bruno Gagliasso) pelo coração da princesa Açucena (Bianca Bin).
Como bem observou o pesquisador Nilson Xavier, até onde eu sei o primeiro a notar o problema, o conflito entre Jesuíno e Timóteo se transformou numa infinita briga de “Tom & Jerry”, uma espécie de ioiô, sempre voltando ao ponto de partida. De fato, perdi a conta do número de vezes que o vilão conquistou e, em seguida, perdeu o poder em Brogodó.
Ainda assim, a diversão oferecida ao longo dos meses superou, de longe, esta limitação. O saldo de “Cordel Encantado” é francamente positivo. Entra para o seleto grupo de novelas que o espectador lamenta quando termina.
Em tempo: Entre as inovações de “Cordel Encantado”, pode-se acrescentar que inverteu a ordem de exibição do último e do penúltimo capítulo. O da véspera foi cheio de emoção e desfechos, incluindo a morte do vilão Timóteo e o casamento de Jesuíno e Açucena em Seráfia. O final, exibido sexta-feira, praticamente não teve emoção nem surpresas, exceto pela apresentação de um novo vilão. Quem sabe não vem aí, algum dia, uma continuação?
Mauricio Stycer
É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL