Insensata Norma: público tem pena e raiva da personagem
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Divulgação/TV Globo
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É possível um folhetim sem herói ou heroína? Oficialmente, “Insensato Coração” até tem um casal de “mocinhos”, formado por Pedro e Marina, mas eles jamais mereceram dos autores o cuidado que se reserva aos protagonistas de uma trama. Para piorar, os atores que vivem estes personagens, Eriberto Leão e Paola Oliveira, nunca exibiram carisma suficiente para arrebatar o público.
O papel de protagonista da novela foi reservado por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com todo o cuidado, a Norma (Gloria Pires). Técnica de enfermagem humilde e dedicada, foi enganada pelo vilão da história, Leo (Gabriel Braga Nunes), perdeu o pouco que tinha e ainda amargou alguns anos na cadeia por um crime que não cometeu.
Perfil perfeito para uma heroína, Norma leu Dostoievski na prisão e ganhou consciência do seu lugar no mundo. Perdeu a inocência e entendeu que precisava ser não apenas boa, mas esperta, para sobreviver na selva.
Ao final de 100 capítulos, quando finalmente iria começar o reinado de Norma, notou-se que algo deu errado nesta transição. Por motivos que ignoro, os autores transformaram a “nova” Norma numa psicopata, cujo desejo de vingança e, ao mesmo tempo, a paixão por Leo a cegaram completamente.
Para alcançar seu objetivo, a ex-enfermeira foi responsável, direta ou indiretamente, por quatro mortes (Araci, na prisão, Teodoro, Milton e Zeca), transformou seu algoz em escravo, em vez de entregá-lo à polícia, e caminha, nesta reta final, para abraçá-lo, compreendendo que são “iguais”.
Transformada pelo sentimento de amor e ódio por Leo, Norma perdeu as estribeiras completamente. Tornou-se uma pessoa por quem o público alimenta um misto de pena e raiva, uma personagem sem sentido, insensata como a novela que a criou.
Mauricio Stycer
É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL