"Cordel Encantado" apresenta qualidades que faltam a outras tramas da grade global

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

E na terceira tentativa, finalmente, a Globo apresenta uma novela em 2011 capaz de tirar o fôlego do público. “Cordel Encantado”, a atração do horário menos nobre, encheu os olhos com um conjunto de qualidades que parecia esquecido: elenco bem escalado, ótimo texto, direção de verdade e padrão de cinema (24 quadros por segundo).

Duca Rachid e Thelma Guedes não são novatas, mas ainda não fazem parte do seleto time de autores autorizados a escrever para o horário nobre. Juntas, reescreveram “O Profeta” (2006) e assinaram “Cama de Gato” (2009), ambas exibidas às 18h.

“Cordel Encantado” apresenta, como já informa seu título, uma trama sem compromisso com a realidade. Uma fábula que se estabelece a partir do encontro de dois universos fictícios, um reino europeu, a Seráfia do Norte, e Brogodó, no sertão nordestino, temperada por misticismo, humor e romance.

Quem assistiu aos dois primeiros capítulos já sabe que os dois protagonistas escondem segredos. A interiorana Açucena (Bianca Bin) desconhece ser uma princesa, filha do rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia). Já Jesuíno (Cauã Reymond) foi criado pela mãe (Claudia Ohana), com a ajuda do coronel Januário (Reginaldo Faria), sem conhecer o pai, o temido cangaceiro Herculano (Domingos Montagner).


Entre Jesuíno e Açucena vai surgir Timóteo (Bruno Gagliasso), filho do coronel Januário e um dos vilões da história. Em chave mais cômica, o casal formado pela duquesa Úrsula (Debora Bloch) e seu amante, o mordomo Nicolau (Luiz Fernando Guimarães), vai infernizar a vida dos heróis do reino.

Miguézim (Matheus Nachtergaele), o profeta nordestino, e Amadeus (Zé Celso Martinez), o oráculo do rei, enfrentam, cada uma à sua maneira, a descrença dos céticos, nos dois continentes.

 

Novidade e repetição

Na mistura de literatura de cordel, misticismo religioso, cultura popular e tradição europeia que a embala, a novela ecoa, aqui e ali, “Auto da Compadecida”, mas consegue ir além.

Ajudada pela tecnologia, é verdade, mas não só por ela, “Cordel Encantado” transmite a sensação de novidade e frescor, diferentemente das novelas que a sucedem na grade global.

Em “Morde & Assopra”, Adriana Esteves e Marcos Pasquim formam casal romântico pela terceira vez em uma novela. E, a despeito de seus andróides e dinossauros, a trama de Walcyr Carrasco dá a impressão de já ter sido exibida antes.

Por sua vez, “Insensato Coração”, a cada capítulo, parece um pastiche, uma cópia mal realizada de outras novelas de Gilberto Braga. E o casal formado por Paola Oliveira e Eriberto Leão é, talvez, o mais sem graça da história da televisão.

Dentro da rigidez das regras que orientam a Hollywood brasileira, “Cordel Encantado” se destina a um público interessado em algo mais leve, sem a malícia da novela das 19h nem a crueza da trama das 21h. Mas poderia muito bem ocupar tanto um horário quanto o outro.

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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