"Segredo de Gerson" é caso de Procon
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Depois de muita expectativa e mistério, Silvio de Abreu finalmente revelou que o segredo de Gerson é... colecionar fotos "escabrosas" na internet
Em maio, bem antes da estréia de “Passione”, já circulava o boato de que o personagem de Marcelo Anthony na novela guardava um segredo misterioso. Na festa de lançamento, em São Paulo, o ator lançou uma bomba: “Meu personagem vai viver uma quebra de paradigma, algo que nunca aconteceu na tevê brasileira”. O quê? – perguntaram em coro uns dez jornalistas que ouviram a revelação. “Só posso dizer que é uma quebra de paradigma”.
Com “Passione” no ar, o público foi informado que o mistério escondia-se no computador de Gerson, o personagem de Antony. Era a senha óbvia para que alguém bisbilhotasse e descobrisse o segredo.
A primeira a fazer isso foi Diana, então mulher do piloto de Stock Car. A personagem de Carolina Dieckmann, que até então nunca havia desconfiado de nada errado com o marido, ficou enojada com o que viu na tela. O segundo a ver foi Saulo, irmão de Gerson, que tentou chantageá-lo após dar de cara com o computador escancarado.
Depois de perder a mulher para o melhor amigo, Gerson ouviu seus conselhos e, em setembro, procurou ajuda profissional. Deu na porta do consultório do terapeuta Flavio Gikovate, no papel dele próprio.
Com o segredo tomando esta proporção dramática, e ganhando destaque na mídia, um patrocinador, cuja marca estava conectada ao personagem, consultou a Globo. Queria saber aonde Silvio de Abreu pretendia chegar com aquilo. Foi tranqüilizado com a informação de que Gerson não cultivava nenhuma tara ou maluquice que pudesse ser associada a um crime, como pedofilia, por exemplo.
Foram quase dois meses de lenga-lenga com Gikovate, até que, em meados de novembro o piloto confessou que sofreu abuso sexual na infância. Não era este, porém, o segredo que escondia no computador. Havia algo mais grave, que o atormentava.
Com ampla divulgação, a Globo informou que o mistério seria finalmente revelado nesta segunda-feira, 29 de novembro. Gerson deixou Felícia conversando com as orquídeas e correu para o consultório de Gikovate. Lá chegando, desandou a falar. Registrei algumas frases:
“Na adolescência, descobri as revistas proibidas”.
“Nunca tive atração por homem, mas o cheiro fétido dos banheiros públicos me atraía”.
“Não eram os homossexuais que me atraíam, era o cheiro”.
Certa noite, Gerson contou ao terapeuta, ele pegou uma prostituta gorda na rua. Com ela dentro do carro, foi abordado por dois policiais, que a dispensaram e o achacaram. Segundo ele, levaram todo o seu dinheiro e até os cartões de crédito. Passou a ter medo de procurar emoções na rua e começou a explorar a Internet, disse:
“Entrei em todos os sites de sexo”.
“Fui colecionando uma enormidade de cenas escabrosas. Quanto mais sujo, quanto mais pavoroso, mais me dá prazer”.
“Não queria que ela (Diana) soubesse. Nem ela nem ninguém. Tenho muita vergonha.”
“Não quero mais ser assim”.
Enquanto o público se perguntava qual seria o segredo de Gerson, Gikovate informava ao paciente que seu problema não era nem um pouco grave. E, na cena seguinte, o piloto, com cara de alívio, batia à porta da casa de Felícia, mãe de sua filha, Fátima, carregando um arranjo de flores.
É, ou não é, caso de Procon?
Mauricio Stycer
É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL