Contra a vontade de Boninho, mundo real insiste em bater à porta do "BBB"

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

Vencido por Marcelo Dourado, o "BBB10", exibido em 2010, pegou fogo por causa da presença de três homossexuais assumidos na casa – minha hoje colega de UOL Morango, Dicesar e Serginho. Em meio às muitas polêmicas causadas por este mix no reality, o diretor Boninho deu uma inesquecível entrevista à "Folha".

"Não colocamos ninguém no BBB para discutir homo ou heterofobia, minorias… Não escolhemos um personagem representando coisas. O fato de ser ou não homossexual não é para interagir no jogo. Não estou preocupado se o cara é gay ou não. Ele não vai entrar por ser gay, mas pelo que traz para a competição", disse ele ao jornal. E acrescentou: "Big Brother não é cultura, não é um programa que propõe debates. É um jogo cruel, em que o público decide quem sai."
 
A arrogância não durou muito tempo. Por conta de declarações equivocadas de Dourado sobre a transmissão do vírus HIV ("hétero não pega Aids", ele disse), a Globo foi obrigada a exibir um esclarecimento sobre o assunto.
 
Antes de cumprir a decisão judicial, o apresentador Pedro Bial ainda tentou remediar, dizendo: "As opiniões e batatadas emitidas pelos participantes do programa são de responsabilidade exclusiva dos participantes. Para ter acesso às informações corretas sobre como é transmitido o vírus HIV acesse o site do Ministério da Saúde".
 
Quatro anos depois, nesta quinta-feira (20), 66º dia do "BBB14", a Globo se viu mais uma vez obrigada a debater um assunto do mundo real. Por conta de comentários equivocados de Cássio e Ângela sobre Aids, a emissora promoveu a visita de uma médica infectologista, Rosana Richtmann, que deu uma aula sobre o assunto aos candidatos. 
 
A visita ocorreu depois de forte pressão de uma ONG defensora dos direitos de soropostivos. A infectologista não informou a eles o motivo de sua visita, mas enfatizou que os portadores do vírus HIV podem levar uma vida normal. "Será que a gente falou besteira?", perguntou Angela, depois de ouvir a lição. Muito perspicaz.
 
Dez dias antes, Bial já havia feito uma outra intervenção de cunho sócio-educativo. Questionando Diego, que havia dito considerar que "uma criança com duas mães ou dois pais poderia interferir no psicológico dela, no crescimento desta criança", o apresentador ensinou:
 
"Lembrando que o desejo de ter um filho já é uma coisa rara entre casais héteros. O desejo de adoção é algo precioso e muito raro. Se tem duas pessoas que tem esse desejo, essa criança tem uma grande chance de ter uma educação cheia de amor, respeito e cuidado." 

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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