Capítulo longo entope "Insensato Coração" de bobagens, diálogos inverossímeis e encheção de linguiça
Os autores reclamam que os capítulos de novela são cada vez mais longos. O de segunda-feira (25), de “Insensato Coração”, teve quase 56 minutos. É cena demais para preencher tanto tempo. Isso talvez explique o festival de clichês, bobagens, frases sem sentido, diálogos inverossímeis e encheção de linguiça que, diariamente, a novela das 9 oferece ao espectador. Selecionei alguns trechos do capítulo. Julgue você mesmo:
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Cortez: “Eu não recebo ordens de ninguém, muito menos de um delegadozinho de bosta que nem você.”
Delegado: “Prende ele, algema ele”
Cortez: “Era só o que me faltava: os paparazzi”
Rafa: “Para de tirar foto. Meu pai não fez nada de errado”.
Cortez (para o delegado): “Isso é coisa sua, né? Chamou a imprensa para ganhar prestígio às minhas custas”
Outro delegado (de barba): “Não, fui eu que chamei a imprensa para documentar a sua prisão. Sabe, Cortez, prender um tubarão grande como você é muito bom. Serve de exemplo.”
Natalie (sobre a prisão de Cortez): “O bofe é rico, o bofe é lindo, o bofe é gostoso, o bofe é poderoso... Eu vou querer que seja honesto ainda?”
Vitória (sobre a prisão de Cortez): “Então, Horácio Cortez aprontou alguma. Confesso que estou surpresa. Como marido ele sempre foi deplorável. Mas como empresário, eu pensei que fosse honesto.”
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André (Lázaro Ramos) e Leila (Bruna Linzmeyer) se beijam em boate, em "Insensato Coração" (25/4/11)
Leila: “Eu vim aqui pra dançar. Eu não quero saber de homem e não estou a fim de papo”
André: “Então combinou. Porque eu também não quero saber de homem e não gosto de jogar conversa fora”.
André: “Quem é aquele moleque?”
Leila: “Um pentelho. Eu não te disse que não quero saber de homem? Você não me disse que é de pouco papo?”
André: “Tá bem. Vou parar de falar. Mas não vou ficar de boca fechada, não” (e beija Leila)
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Wagner (advogado de Cortez): “Fica calmo. Eu vou agora mesmo impetrar um habeas corpus em seu favor. O plantão judicial está funcionando. Daqui a pouco você está solto. Delegado, eu preciso de uma cópia do auto de prisão para fundamentar a petição”
Delegado: “O escrivão vai providenciar”
Wagner: “Lendo os autos, nós vamos saber das provas usadas para convencer o juiz a decretar a sua prisão”.
Cortez: “Seja eficiente. Você é pago pra isso”
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Norma: “Como você está se sentindo, Araci?”
Araci: “Muita dor de cabeça. Mas vai passar quando eu acabar com a sua raça, Norma. Eu vou te matar, eu vou te matar bem devagarzinho.”
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Marina: “Não acredito! Então foi por isso que você não conseguiu o emprego?”
Pedro: “É. O verdadeiro motivo foi que ela descobriu que eu sou um ex-presidiário. Isso é muito injusto. O cara passa o maior tempo pagando a pena na cadeia, que já é um troço terrível, e depois sai de lá achando que a vida tá zerada, achando que as portas vão estar abertas... Mas não. As portas se fecham na sua cara. É um castigo que parece que não acaba mais. É como se fosse uma marca que fica na gente e não vai sair nunca mais.”
Marina: “Mas ninguém em sã consciência pode olhar pra você e te ver como um bandido”
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Leila: “Mas o lugar que eu mais gostava pra dançar, no fim das contas, era o Fabric”
André: “Nossa! E imaginar que a primeira vez que eu fui a Londres já era o melhor lugar da cidade”
Leila: “Eu gostava de uma pista de dub que tinha, escondidinha, no segundo andar”.
André: “Ah, não. Eu preferia a principal”.
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Norma: “Eu vim te avisar que você vai morrer.”
Araci: “Morrer?”
Norma: “O doutor falou que isso que você tá sentindo, essas dores na sua cabeça, isso aí é uma coisa muito grave. Você não vai passar desta noite. Eu não tenho ódio de você. Eu quero te ajudar. Se você quiser dar um recado pra alguém, um recado pra sua filha...”
Araci: “Eu queria pedir perdão pra ela”
Norma: “Eu tenho certeza que ela vai perdoar. Você não quer, também, dizer pra sua filha onde está o seu tesouro?”
Araci: “Tesouro? Fala pra ela... Tenho uma grana escondida lá fora que eu ganhei antes de vir pra cá...”
Norma: “Onde está essa grana?”
Araci: “Tem um armário na rodoviária...”
Norma: “Um armário na rodoviária? E qual é o número desse armário?
Araci: “Tem uma chave dentro de uma santinha.”
Norma: “Onde? Onde está essa santinha?”
Araci: “Na minha cela. Pega essa chave, Norma, e entrega pra minha filha”
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Carol: “Finalmente o Antonio dormiu. Estou exausta”
Alice: “Você tá sentindo falta do tempo que você tinha mais liberdade, né? Uma festinha hoje, um chopinho com os amigos amanhã...”
Carol: “Não... Eu tenho a vida inteira pra me divertir. Esse primeiro ano de vida do Antonio é mágico.”
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André: “Não se preocupa, não. Já chamei um táxi pra você. É uma cooperativa de confiança.”
Leila: “Então, tá”
André: “Tenha bons sonhos”
Leila: “Você não vai pedir meu telefone?”
André: “Leila, eu jogo claro. Eu pratico ‘a night stand’.”
Leila: “Não estou dizendo que estou querendo nada sério. A gente pode só se encontrar...”
André: “Pra não ter nenhuma falsa expectativa, para não alimentar nenhuma esperança, eu não repito transa, por melhor que tenha sido.”
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Rafa: “Como fazem um negócio desse com você, pai? Te trataram igual criminoso, até algema usaram”
Cortez: “Tudo teatro, meu filho, circo pra patuleia.”
Paula: “Será que não é melhor a gente sair do país? Eu aturo até Miami, se precisar”.
Wagner: “Também não é caso. O delegado só queria lançar a carreira política dele”
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Kleber: “Eu tinha preparado a cama pro corrupto do Cortez e agora não posso escrever uma linha sobre ele”.
Olivia: “Coloca na internet”
Kleber: “Não, filha. Internet é coisa pra desocupado. Jornalismo na internet não é sério. É um lixo. Os caras mal sabem escrever”
Daisy: “Mas estão escrevendo. Você não está. Se você acha que falta seriedade, por que você não leva a sua seriedade pra lá? As coisas mudam, Kleber”
Kleber: “Se eu fosse seguir todos esses modismos por aí, o que você quer? Você quer que eu depile todo o meu corpo, agora?”
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Henrique: “Por que você não vende o controle do banco? Pega a grana e se manda pra fora do país.”
Cortez: “Você acha que eu sou covarde?”
Henrique: “É só uma ideia.”
Cortez: “Eu não vou me desfazer do trabalho de uma vida inteira só por causa de um delegadozinho. Eu conquistei essa posição. Eu sou um grande banqueiro. Nunca vou me contentar com menos.”
Henrique: “Tudo bem. Mas o banco vai sofrer um baque. Os telefones estão congestionados. Se o abalo de confiança for muito forte...”
Cortez: “É pra isso que eu pago relações públicas. Eles que cuidem disso”.
Mauricio Stycer
É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL