Em edição para esquecer, coelhos tirados da cartola de Boninho não fizeram mágica

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL
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    Numa final previsível e frouxa, Fael conquistou o prêmio de R$ 1,5 milhão com 92% dos votos

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Duas das principais qualidades do reality show mais longevo e rentável da televisão brasileira têm sido a energia de quem faz o programa e a permanente capacidade de reinventá-lo.

Não à toa, o “BBB12” terminou nesta quinta-feira com um anúncio (estão abertas as inscrições para o “BBB13) e uma promessa de novidade (apenas dez candidatos serão selecionados).

Foi, porém, um programa frouxo, sem pique, que nem mesmo o suingue de Thiaguinho conseguiu animar. Saltaram aos olhos os sinais de que é preciso fazer algo para estancar o crescente desinteresse por este produto tão importante para a Globo.

Os coelhos que sempre saíram da cartola do diretor Boninho, ajudando o “BBB” a se renovar a cada ano, não produziram o efeito desejado em 2012. Ao contrário, eu diria que nada deu certo nesta edição.

O caso Daniel: O “BBB12” será lembrado, infelizmente, como a edição em que a Globo eliminou um participante por “comportamento gravemente inadequado” logo no sexto dia e passou os dois meses seguintes tentando abafar o caso e reescrever a história do jogo.
 
Operação-abafa: Eliminado Daniel, a primeira medida de Boninho foi proibir que os participantes mencionassem o nome do modelo no jogo. Monique deixou a casa para depor à polícia, no Projac, e foi igualmente orientada a não falar do assunto com seus colegas ao retornar.

Tipos óbvios: A seleção de candidatos resultou num fracasso de grandes proporções. Batizados com clichês como “o descolado”, a “perua”, o “galã”, a “princesa”, o “ogro”, os 16 participantes poderiam, na verdade, ter sido apresentados com três nomes apenas: as gostosas, os bonitões e os esquisitos.

Conflito forçado: Como tem ocorrido já há alguns anos, a divisão em dois quartos ou casas estabelece obrigatoriamente um conflito previsível. Este ano, entre “Praia” e “Selva”. Surpreendente, a esta altura, seria um “BBB” sem esta divisão estanque.

De olho no espelho: Como Paulinha fez no “BBB11”, Rafa narrou o jogo em voz alta, diariamente, prevendo cada passo do reality. Os candidatos, a esta altura, nem fingem mais que olham diretamente para as câmeras atrás dos espelhos em vez de encarar os colegas de confinamento. Como surpreender estes “bebebólogos”?

"Discursos": Marca do programa, os discursos de eliminação de Bial, ou suas "croniquetas", como chamou, divertem cada vez mais pela falta de sentido. O apresentador disse no programa final que os candidatos, nervosos. não têm  como entender mesmo o que ele diz. O mesmo vale para o público, tranquilo, no sofá de casa.

Paredão duplo: Tentativa louvável de alterar a dinâmica do jogo, os paredões duplos, no lugar dos triplos, não produziram o efeito desejado e caíram igualmente na rotina.

Sem surpresa: Que eu me lembre, Boninho só conseguiu, de fato, surpreender os participantes uma única vez em todo o programa: quando Jonas atendeu o Big Fone e Bial exigiu que indicasse alguém para o paredão em cinco segundos.

Improvisação: Mais uma vez, chamou a atenção a quantidade de erros técnicos, provas mal elaboradas e improvisações feitas no programa. O resultado de uma prova do líder teve que ser anulado por conta de um erro de produção. Os problemas alimentam a suspeita do público sobre a idoneidade do reality.

Sem transparência: Não há uma política clara de divulgação de número de votos para o público. Quando interessa, Bial descreve formidáveis avalanches de votos; quando os números não são tão bons, ele praticamente não fala a respeito. O paredão final teve 43 milhões de votos, contra 50 milhões do “BBB11” e 150 milhões do “BBB10”.

Ibope: De uma audiência média de 47,5 pontos no “BBB5”, o Ibope caiu ano a ano, alcançando o seu momento mais baixo no BBB11, com média de 24,8. Este ano houve uma discreta melhora e chegou a 25,3, sem contar os últimos três dias.

Publicidade e merchandising: As notícias sobre o faturamento com publicidade, que Boninho sempre divulgou para alguns colunistas, desapareceram em 2012, num claro sinal de que o entusiasmo do mercado com o programa não é mais o mesmo.

Revanche: O apresentador Faustão, que ousou falar o nome proibido de Daniel em seu programa, foi punido. Apesar de ter oferecido o seu palco para o modelo, a primeira aparição do rapaz foi à mesa do café da manhã de Ana Maria Braga, que conversou com ele por quase uma hora sem fazer uma única pergunta sobre o ocorrido no “BBB12”.

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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