Reality tenta imitar "1984" e transforma Daniel numa "impessoa"

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer

Crítico do UOL
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    Para os confinados na "casa mais patrulhada do Brasil", Daniel virou uma "impessoa", ou seja, nunca existiu

    Para os confinados na "casa mais patrulhada do Brasil", Daniel virou uma "impessoa", ou seja, nunca existiu

“Vamos abrir um canal de comunicação com a casa mais patrulhada do Brasil”, disse Pedro Bial na noite de quinta-feira (19), trocando a palavra que sempre usa, “vigiada”, por uma outra, com um sentido mais irônico.

Bial provavelmente estava se referindo às críticas pesadas que o programa vem sofrendo desde que, na madrugada de sábado (14), o modelo Daniel e a estudante Monique protagonizaram uma cena ainda mal explicada sob o edredon.

Da minha parte, como já escrevi, o episódio serviu para mostrar as dificuldades da Globo em lidar, com um mínimo de transparência, com uma situação que a envolve negativamente.

A esta altura, a emissora já tomou as rédeas da situação e está dando a publicidade devida ao caso. Menos em um lugar: justamente dentro da “casa mais vigiada do Brasil”.

No famoso romance “1984”, George Orwell descreveu um mundo terrível, vigiado pelo “Big Brother”, onde as pessoas falavam um idioma repleto de eufemismos, chamado “novilíngua”.  

No regime autoritário imaginado por Orwell, as pessoas que tinham opiniões divergentes simplesmente desapareciam sem deixar traços. Eram chamadas, em “novilíngua”, de “impessoas”.

É exatamente isso, uma “impessoa”, que o modelo Daniel virou dentro do “BBB12”. Como contou Analice ao UOL, ao deixar a casa, os candidatos foram proibidos de falar do rapaz.

“Assim que avisaram para a gente que ele estava fora do jogo, ficamos todos perplexos, mas não passaram nada para a gente. Começamos a especular, mas ninguém sabia de nada. Até agora, não sabemos. Mas, quando entramos de volta, comentamos o assunto e recebemos orientação para não comentar”.

Cria-se, assim, uma estranha situação na qual o assunto mais comentado no país é interditado justamente aos protagonistas do show. É mais um erro que o diretor Boninho comete neste episódio. Só ajuda a reforçar a impressão de que controla um show e morre de medo da realidade.

Comparado ao “Big Brother” de Orwell, o “Big Boss” Boninho é, felizmente, apenas um aprendiz desajeitado.
 

Mauricio Stycer

É jornalista desde 1986. Repórter e crítico do UOL, autor de um blog que trata da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor. Conheça seu Blog no UOL

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