Netflix vê "excesso de cautela" da Globo em não dividir bolo da nova TV
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio*
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Divulgação
Terceiro a partir da esquerda, Ted Sarandos, executivo do Netflix, em foto no anúncio do vencedor do Prêmio Netflix no Rio
Responsável pelos investimentos do Netflix em conteúdo próprio, como as séries "House of Cards" e "Orange is the New Black", e também pela decisão de colocar todos os episódios à disposição do público de uma só vez, o executivo americano Ted Sarandos é hoje uma figura poderosa na indústria do entretenimento americano.
Em visita ao Rio, onde anunciou nesta quarta-feira (9) o vencedor do Prêmio Netflix, uma iniciativa destinada a dar visibilidade a um filme brasileiro pouco conhecido, Sarandos falou ao UOL por cerca de 20 minutos. Um dos temas da entrevista foi a ausência de programas da Rede Globo no catálogo brasileiro do serviço, que tem mais de 37 milhões de assinantes em 40 países.
"É uma situação única no mundo. É a única grande rede de televisão que não negocia com a gente", disse Sarandos. "Acho que eles têm medo de que vamos canibalizar o negócio deles, mas somos complementares para o sistema", diz.
Segundo o executivo, a Netflix compra direitos de programas de grandes redes, nos EUA e no México, por exemplo, e os oferece em seu catálogo nos próprios países. "A Globo vende novelas para a gente, mas para exibição em outros mercados da América Latina."
Sarandos fala, com orgulho, dos elogios que recebeu recentemente do diretor da premiada série "Breaking Bad", Vince Gilligan, pelo impulso que a série ganhou ao ser exibida pelo serviço de TV por internet quando os seus índices de audiência no canal pago AMC não eram os melhores. "A TV americana já entendeu que a gente pode ajudar a ampliar o mercado", diz Sarandos. "A Globo está tendo um excesso de cautela", lamenta.
Para provar a sua tese, o executivo oferece um dado: nas duas semanas posteriores à exibição do último episódio da quinta temporada de "Breaking Bad", o piloto da primeira temporada foi o episódio mais visto pelos assinantes do Netflix. Ou seja, enquanto os olhos dos fãs estavam voltados para o canal AMC, uma nova leva de espectadores descobria a série pelo serviço de streaming.
Sobre a produção de conteúdo próprio no Brasil, Sarandos diz que pretende continuar a fazer algumas experiências, mas não revela detalhes. A empresa apostou, até o momento, em alguns especiais de humor, de Rafinha Bastos e Danilo Gentili, entre outros, e numa série em três episódios de Felipe Neto, intitulada "A Toca".
Este é o primeiro passo, diz, para investimentos de maior peso, como a eventual produção de um seriado. Foi assim, também, nos Estados Unidos. A empresa já existia há quase 15 anos quando decidiu apostar US$ 100 milhões em duas temporadas completas de "House of Cards". A base de assinantes no Brasil, cujo número a empresa não divulga, não justifica um investimento deste peso.
Procurada pelo UOL, a Globo deixou claro que não tem a intenção de alterar a situação apontada pelo Netflix. "Acreditamos que a exploração do nosso conteúdo, na web ou na TV paga, deve ser feita por nós, através de um sistema de distribuição próprio", diz a mensagem enviada pelo setor de comunicação da empresa.
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