Gays, trans, latinos: para estrelas do Netflix, sucesso está na diversidade

James Cimino

Do UOL, em Los Angeles

  • Divulgação/Montagem UOL

    Para atores e criadores, séries como "Sense8", "Orange Is The New Black" e "Narcos" revolucionam ao retratar personagens de diferentes origens e orientação sexual

    Para atores e criadores, séries como "Sense8", "Orange Is The New Black" e "Narcos" revolucionam ao retratar personagens de diferentes origens e orientação sexual

Não foi apenas na forma de assistir a séries e filmes que o Netflix, serviço de vídeos on demand, revolucionou o mercado do entretenimento. Para estrelas de títulos originais como "Orange Is The New Black" e "Sense8", o sucesso da marca está no retrato que suas séries fazem da diversidade humana, dando visibilidade a protagonistas de diferentes origens, identidade de gênero e orientação sexual.

"Acho que 'Orange Is The New Black' faz sucesso exatamente por causa disso [diversidade]. Não apenas em termos de cores e etnias – como brancas, negras, latinas –, mas também lésbicas, transgêneros. É bom fazer parte da história. E, pela primeira vez, as mulheres estão sendo retratadas de uma maneira diferente", opinou a atriz Selenis Leyva, que interpreta a presidiária Gloria, durante um evento do Netflix em Los Angeles, na Califórnia (EUA).

"Curiosamente, 'Sense8' também é da Netflix e eu acho que eles têm sido pioneiros no que diz respeito à representação do mundo como ele é na tela. Outras produtoras e canais têm tentado fazer isso e, ao longo dos anos, temos ouvido essa palavra 'diversidade' o tempo todo. Mas, em geral, os programas apresentam apenas um personagem diverso", completou.

Divulgação Pela primeira vez, as mulheres estão sendo retratadas de uma maneira diferente Selenis Leyva, atriz de "Orange Is The New Black"
Leyva é uma atriz de origem cubana e dominicana e, segundo ela, "afro-latina". Ela falou sobre o assunto ao lado da colega de elenco Natasha Lyonne, a Nicki da mesma série que conta a história de uma mulher branca de classe média alta que vai parar em uma prisão feminina. Curiosamente nas duas últimas temporadas, o papel da protagonista Piper tem diminuído conforme as histórias das outras personagens têm aumentado.
 
Para Lyonne, que recentemente esteve no Brasil participando da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e que afirma ter se apaixonado pelo país, "o público está cada vez menos interessado em ver os mesmos tipos de programa que ele já viu milhões de vezes antes, com uma falsa visão idealizada do ser humano". "Acho que as pessoas que nunca tiveram voz passaram a não mais aceitar esse tipo de tratamento, porque juntos nós somos a maioria aqui", completou.
 
Durante sua passagem pelo Brasil, Lyonne protagonizou uma polêmica com o repórter do CQC Rafael Cortez. Após ser questionada se sua beleza não atrapalhava na carreira, a atriz respondeu que Cortez estava sendo sexista.
 
Questionada pelo UOL se, apesar da diversidade nas telas, mulheres ainda têm de lidar com isso em sua profissão, limitou-se a responder que, hoje em dia, este tipo de tratamento diminuiu pela metade. "Acho que não temos que lidar nem metade do que tínhamos antes à medida que esse tipo de pergunta chata, 'como é ser mulher' ou 'como é ser bonita', por exemplo, está ficando cada vez mais ridícula".
 
Pessoas diferentes, mesmas situações
A atriz transgênero Jamie Clayton destaque que "Sense8" – criada pelos irmãos Wachowski, os mesmo de "Matrix" – conta a história de oito pessoas diferentes, em oito cidades pelo mundo, passando pelas mesmas situações e sensações.
 
"O que eu mais gosto na história da Nomi [sua personagem, uma mulher lésbica e transgênero] é que ela não é sobre sua transição, e isso nunca foi feito antes. Ela é uma personagem completa, com uma namorada, um trabalho. E agora ela está lutando pela vida, pois foi informada que tem um câncer e que terá de fazer uma cirurgia no cérebro. E isso nada tem a ver com o fato de ela ser trans. Essa série é basicamente sobre empatia. E ela é tão lindamente editada, pois mostra pessoas diferentes passando pelas mesmas situações", disse.
 
Seu companheiro de elenco, o ator Brian J. Smith, que interpreta o policial Will Gorski na série, comentou que "Sense8" se destaca da maioria dos programas de TV porque coloca todo tipo de gente em contato. "Acho importante ter esse tipo de conexão com as pessoas", declarou.
 
EFE/Tal Cohen Eu sempre ouvi nos festivais da América Latina em que fui o seguinte: 'Vamos integrar a América Latina. Vamos fazer um produto que tenha atores brasileiros, argentinos, peruanos, mexicanos e chilenos' José Padilha, diretor da série "Narcos"
E o diretor brasileiro José Padilha, de "Tropa de Elite" e "Ônibus 174", que também esteve no evento para divulgar a inédita "Narcos", que narra a história do traficante Pablo Escobar, vivido na série por Wagner Moura, também aponta aspectos revolucionários de seu novo programa, que foi gravado em inglês e espanhol: "Eu sempre ouvi nos festivais da América Latina em que fui o seguinte: 'Vamos integrar a América Latina. Vamos fazer um produto que tenha atores brasileiros, argentinos, peruanos, mexicanos e chilenos'. Quem fez isso foi o Netflix".
 
Para o diretor, o modelo da plataforma permite mais liberdade para quem cria as séries. "Existe uma revolução acontecendo via Netflix e via Amazon, pois o modelo de negócio dessas plataformas não demanda que um filme ou uma série façam sucesso para ganhar dinheiro. Numa novela da Globo, se não der Ibope, eles perdem dinheiro. No Netflix, como o modelo dela é com base no assinante, eu não preciso que todos os meus assinantes assistam a todos os programas. Eu posso arriscar. Então, o audiovisual autoral, e com dinheiro, está renascendo onde? Nas séries da TV americana. E agora o Netflix e a Amazon estão investindo em filmes. Ou seja, o cinema de autor está, na verdade, renascendo."
 

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