"I am Cait" mostra sensibilidade ao retratar transição de Caitlyn Jenner
Beatriz Amendola
Do UOL, em São Paulo
É madrugada quando Caitlyn Jenner, 65, faz uma pergunta para a câmera: "Será que vou passar a mensagem certa?". A cena é a primeira da série documental "I am Cait", que estreia no Brasil deste domingo (2) e mostra o início da nova vida de Caitlyn, anteriormente conhecida como Bruce Jenner, ex-campeão olímpico e ex-padrasto de Kim Kardashian.
Por muitos anos, Caitlyn foi patriarca do clã retratado em "Keeping Up With the Kardashians". Mas a nova série está bem distante de sua "irmã" do canal E!. Educativa, "I am Cait" retrata com sensibilidade o período em que Caitlyn se assumiu publicamente como mulher transgênero e os impactos dessa decisão, como a transformação das relações familiares e a preocupação política em contribuir para a comunidade trans.
É em frente às câmeras que acontece o primeiro encontro de Caitlyn com sua mãe e suas irmãs após a transição. Preocupada em ir aos poucos com a família, Caitlyn escolhe um terninho ao invés de um vestido para a ocasião – e é revelado que, na juventude, ela já havia se aberto com uma das irmãs, Pam, mas o assunto nunca mais foi discutido.
A reunião familiar, comovente, conta com a presença de uma terapeuta, que explica a importância de se referir a Caitlyn no feminino, usando o pronome "ela". Sua mãe, Esther, compartilha sua dificuldade em se acostumar com as novas circunstâncias, mas diz que o amor que sente pela filha nunca vai mudar.
Caitlyn ainda é pega de surpresa pela filha Kylie, que faz uma ligação por videoconferência e a vê pela primeira vez. "Você está linda", diz a filha, com voz sonolenta após uma visita ao dentista. Depois, Kylie a visita e a abraça, dizendo "oi, linda". A jovem providencia para o pai até apliques verdes para os cabelos, iguais aos que costumava usar. Cait conta que se preocupava muito com a reação de Kylie e Kendall, sua outra filha, mas que o apoio que recebeu de famosos quando se assumiu as ajudou a perceber que tudo ficaria bem.
Outra visita ilustre que Caitlyn recebe é a da enteada Kim Kardashian com o marido, Kanye West. O rapper, que ajudou Kim a aceitar bem a transição de Cait, elogia a coragem da sogra: "Não poderia ser mais difícil, mas ela conseguiu falar 'dane-se'". Kim, por sua vez, garante momentos mais descontraídos. Ela diz que estava "secretamente morrendo por dentro com o closet do Bruce" e nota que um vestido Tom Ford dela é igual a um de sua mãe, Kris Jenner.
Mas nem tudo são flores no clã Kardashian-Jenner. Caitlyn revela que Khloe não gostou do artigo que saiu sobre ela na revista "Vanity Fair" – onde apareceu pela primeira vez como mulher transgênero – e que não recebeu visitas nem dela nem de Rob e Kourteney, seus outros enteados.
Luta contra o preconceito
O propósito de conscientizar o público contra o preconceito também fica muito claro em "I am Cait". Caitlyn, que ressalta várias vezes o fato de agora ter uma grande responsabilidade para com a comunidade trans, conta que chegou a se isolar socialmente por não se encaixar nas definições de masculino e feminino – e que já considerou o suicídio. "Estava com uma arma em casa e pensei 'vamos acabar com isso agora. Sem dor, sem sofrimento'".
Cait também viaja de carro de Los Angeles a San Diego, na Califórnia, para visitar a mãe de Kyle Prescott, adolescente de 14 anos que se matou em maio deste ano. Ela chega ao destino depois de trocar de carro três vezes para despistar os paparazzi -- uma foto sua, na época em que assumiu a transição, podia ser vendida por US$ 250 mil, diz.
O episódio termina com uma mensagem incentivando transexuais que cogitam o suicídio a procurar ajuda, com o número de uma linha de apoio, reforçando o propósito político ao qual a série também serve. Para aqueles que esperavam um reality quase sensacionalista ou muito parecido com o das Kardashian, "I am Cait" é uma grata surpresa.
Thammy Miranda, que assistiu ao episódio na mesma sessão antecipada que o UOL, comemorou a iniciativa de Caitlyn em exibir seu processo de transição: "Nós como pessoas públicas podemos levar essa voz. Acho que é quase nossa obrigação. Agora as famílias começam a entender o que se passa por dentro da gente, que não é só uma roupa, é muito mais que isso".
"I am Cait" vai ao ar no canal pago E!, às 23h. Antes disso, às 21h, o canal exibe a entrevista de Caitlyn com Diana Sawyer, a primeira na qual ela falou sobre sua identidade de gênero.
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