Longe demais? Fãs criticam mudanças e cenas chocantes de "Game of Thrones"

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

A quinta temporada de "Game of Thrones" chegou ao fim no último domingo (14) em meio a uma enxurrada de controvérsias, provocadas por cenas chocantes de estupro e assassinatos e pelos diferentes rumos que a série toma em relação aos livros da saga "As Crônicas de Gelo e Fogo", escritos por George R. R. Martin. E, apesar de ter atingido o recorde de audiência da trama, com um final visto por 8,1 milhões de pessoas, a temporada desagradou boa parte dos fãs, que a têm classificado como a mais fraca até agora.  

ALERTA: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS

Ainda que não seja unanimidade, o veredito tem sido bem propagado nas redes sociais. Até os criadores de um dos maiores sites dedicados ao universo da série, Westeros.org, Linda Antonsson e Elio Garcia, criticaram a quinta temporada. "Esse foi o pior 'Game of Thrones' já visto. Que conquista para o episódio 50", escreveram na conta conjunta que mantêm no Twitter.

Divulgação
Núcleo de Dorne não agradou a fãs que leram os livros da saga "As Crônicas de Gelo e Fogo"

Para a revisora Verônica Valadares, que mantém no YouTube um canal sobre literatura, a trama desagradou, em parte, por ter prejudicado quase todos os seus protagonistas: "Como tem um número grande de personagens, cada um vai se apegar a um núcleo. Mas dessa vez eles conseguiram ferrar todos os núcleos. Ninguém saiu feliz".

As decisões dos roteiristas D.B. Weiss e David Benioff na hora de adaptar o conteúdo dos livros para a telinha, às vezes com grandes mudanças, também não têm sido bem-vistas, assim como o fato de a série estar agora adiantando a trama dos livros – o encontro de Tyrion e Daenerys, por exemplo, deve acontecer apenas em "The Winds of Winter", o sexto livro, com lançamento previsto para 2016.

"Sou a favor de corte, de mudanças, mas quando eles inventam de criar do nada, eles não conseguem, eles perdem as sutilezas. O Martin tem a ideia clara de subverter os clichês de fantasia. Aí quando eles inventam de criar coisas, eles voltam pros clichês", opina Verônica, criticando as mudanças no núcleo de Dorne, um dos mais alterados para a série: "Foi uma paródia. Mas no livro é muito interessante, porque eles são muito progressistas. Cortaram a Arianne e colocaram três moças que são clichês, são personagens vazias".

Administradora da página "Game of Thrones Brasil" no Facebook, a estudante de direito Fernanda Bezerra também criticou as adaptações. "Como leitora, digo que o problema estava na inconsistência da história. Alguns núcleos não ficaram muito bem desenvolvidos e muitos personagens foram descaracterizados ou simplesmente inutilizados", disse ela, citando como exemplo Dorne e o destino de Stannis, bem como personagens que foram esquecidos na reta final da temporada: "Não tivemos o desfecho dos Tyrell, Bran sumiu, Mindinho também, Varys apareceu estilo mestre dos magos em Meereen".

A violência foi longe demais?
A violência despudorada de "Game of Thrones" também causou desconforto nesta temporada, com cenas controversas que pareceram feitas sob medida para chocar e causar repercussões nas redes sociais – como de fato causaram.

A gente vê que as pessoas começaram a fazer para chocar. E é de mau gosto. Acho que a questão não é mostrar a violência, mas saber lidar com a violência Verônica Valadares, fã de "Game of Thrones"

O estupro de Sansa por Ramsay, no sexto episódio, enfureceu fãs – incluindo pessoas públicas. Nos Estados Unidos, a senadora democrata Claire McCaskill anunciou por meio de seu Twitter que havia desistido da série. "Cena gratuita de estupro, nojenta e inaceitável. Foi uma jornada turbulenta que acabou de acabar", criticou.

Por aqui, fez sucesso nas redes um texto escrito por Lidiany CS, uma das criadoras do site Game of Thrones BR, o principal site brasileiro dedicado à série. Intitulado "Por que desisti de 'Game of Thrones'", ele teve quase 7 mil compartilhamentos no Facebook e criticava a forma como as mulheres eram retratadas na trama da HBO: "Várias foram excluídas da série, pois não atendiam aos objetivos dos donos de 'Game Of Thrones' ou da HBO. (...) George não trata as mulheres de sua história como meros peões servindo de joguete para as brincadeiras e fetiche dos homens. A violência retratada em 'Game Of Thrones' tem apenas um objetivo, chocar espectadores e aumentar ainda mais o hype em torno da série".

Verônica Valadares concorda que a série tem exagerado nas cenas chocantes de violência. "Quando isso começa a se repetir, em vários momentos, a gente vê que as pessoas começaram a fazer para chocar. E é de mau gosto. Acho que a questão não é mostrar a violência, mas saber lidar com a violência. Por exemplo, no caso do [diretor Quentin] Tarantino, é o que ele se propõe. Não é a coisa gratuita que a série mostra. O Martin lida com o que acontece depois das cenas, ele muda o foco. Mas a série não".

Para Fernanda Bezerra, o estupro de Sansa, assim como o de Cersei na quarta temporada, tiveram função de chocar, mas também de retratar o ambiente da Idade Média. "Questionam a real importância de mostrar isso. É apenas pra retratar com mais realismo a época medieval ou apenas pra gerar polêmica em busca de audiência? Eu acredito que seja um pouco dos dois", afirmou.

No que se refere às cenas de sexo e nudez que também são abundantes na série, a estudante acredita que elas poderiam dar lugar a partes mais relevantes da trama. "Eu gostaria de um equilíbrio, menos sexo gratuito e mais conteúdo e consistência na trama. Não sou contra [as cenas de] sexo, tem que ter, mas não pode ser o protagonista".

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