Atores de "Babilônia" se esquivam de crise em novela, em premiação de TV
Ana Cora Lima e Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
Parte do elenco principal da novela "Babilônia" se reuniu na noite desta segunda-feira (8), na cerimônia de entrega do Prêmio Contigo!, no Rio de Janeiro. Mesmo depois da corajosa entrevista de Gilberto Braga ao jornal "O Globo", em que o autor falou abertamente sobre a crise na novela e sobre as mudanças feitas na trama, a maioria dos atores preferiu se esquivar do assunto e agir como se a principal atração de teledramaturgia da emissora não passasse por um momento delicado.
Glória Pires -- uma das protagonistas da novela das nove e principal homenageada da noite -- disse acreditar que a vilã Beatriz não enfraqueceu com as alterações na sinopse. "Eu estou tão feliz com a minha personagem. Depois da paixão, ela sofreu mudanças, como acontece conosco, seres humanos. A gente se transforma. Ela não deixou de ser complexa. A novela é uma obra viva. O barato dela é a transformação", disse a estrela, que viu sua personagem iniciar a trama como "pegadora", mas teve a característica amenizada após críticas do público.
Já Fernanda Montenegro, uma das apresentadoras da premiação, ao lado de Mateus Solano, diz que não se preocupa com os números do ibope e que agora o trabalho já está numa fase mais tranquila. "Acho que está tudo bem agora. Não sei se melhorou ou não de audiência. Vou lá, faço meu trabalho e pronto. Acho que já passou esse turbilhão de patrulhamento, mudanças de texto, mas não vou entrar nesse mérito. Faço com carinho e acho que é uma grande novela."
O único que se posicionou contrário à onda conservadora que provocou a alteração da sinopse inicial da trama de Gilberto Braga foi Bruno Gagliasso. Ganhador do troféu de melhor ator de série e destaque do ano do Prêmio Contigo de TV, o ator falou em "retrocesso" em seu discurso, referindo-se à rejeição ao beijo gay da novela, e afirmou que o papel do artista é transformar.
"Eu faço arte, sou contra qualquer tipo de censura, qualquer tipo de preconceito. Acredito que a arte transforma. Vamos transformar, não regredir. Faço o melhor para o meu personagem e para a trama. Faço o meu papel", afirmou o ator ao UOL, depois de um agradecimento emocionado, que arrancou aplausos dos colegas.
Entre os atores que não têm compromisso com "Babilônia", no entanto, a diferença de opinião é nítida. Marcelo Serrado, Enrique Diaz e Paulo Betti criticaram a onda conservadora que influenciou as mudanças da novela e se mostraram preocupados com a ideia de ver a trama modificada na metade.
Serrado, que fez sucesso com o personagem Crô em 2011 e 2012, acredita que o preconceito contra a novela uma bobagem. "A arte tem que ser livre, libertária em tudo, não pode se prender a amarras, estamos em outro estágio. Já passamos por todo tipo de preconceito, a sociedade tem que se abrir, nada como uma novela levar essas questões adiante. Em 'Fina Estampa' eu fiz um gay, mas era bufão, era outro caminho. Acho que o público está se abrindo aos poucos", opinou.
Para Enrique Diaz, o que aconteceu com Babilônia foi "o fim da picada"."Deve ser terrível ter que participar de uma novela e ter tantas transformações no meio do processo. Mas nós atores temos que estar sujeitos a isso, faz parte do trabalho. Se é preciso mudar por uma questão de audiência e é uma coisa da direção, da casa, ok. Mas isso que aconteceu com 'Babilônia' é a pior coisa do mundo", disse o ator a respeito das alterações feitas na novela para amenizar as histórias dos personagens mais polêmicos.
Paulo Betti diz que acompanhou a polêmica a distância, mas que a resposta dos grupos de discussão devem mesmo servir para corrigir o que não está dando certo nas atrações. "Tem um certo moralismo no ar. Para os atores esses ajustes devem ser muito complicados, você não sabe qual o destino dos personagens. Mas esse pessoal, o Silvio de Abreu, o Gilberto Braga, são especialistas. Li a entrevista do Gilberto. Eu sou paulista, acho que é difícil saber o que o paulista deseja, é um estado complexo. Não dá pra saber só com o ponto de vista do Leblon."
Já Paolla Oliveira -- que viveu cenas tórridas com homens e mulheres na série "Felizes Para Sempre?" -- diz que um relacionamento gay pode ter causado tanta comoção, entre outros fatores, por envolver atrizes tão emblemáticas no horário nobre. E considera que as mudanças fazem parte de um processo. "A novela está passando por ajustes agora, mas isso abre discussão. Precisa de um tempo para ter essas modificações mesmo. O que não pode é parar", afirmou.
"Império" levou seis prêmios
Fernanda Montenegro e Mateus Solano fizeram par na apresentação de um dos prêmios. O ator substituiu Fernanda Torres na função. "Nós fizemos o primeiro casal gay do prêmio", brincou Fernanda, referindo-se à Teresa de "Babilônia" e ao Félix de "Amor à Vida".
Antes de ganhar o troféu de melhor atriz, Lília Cabral representou Alexandre Nero na categoria masculina. Ela recebeu a homenagem e brincou com a colega Marina Ruy Barbosa. "Ele vai dividir esse prêmio comigo. E agora vai ter que mandar um motoboy na minha casa", disse. A novela "Império" foi a grande vencedora da noite, levando seis categorias -- saiu também campeã nas premiações de melhor autor, novela, revelação e atriz coadjuvante.
Eleita revelação, Viviane Araújo foi uma das que mais se emocionou. Para não fazer feio no modelito longo azul, ela fez um sacrifício. "Nem comi hoje para caber no vestido", disse a atriz, que engordou dois quilos após "Império" e assinou um novo contrato com a Globo.
Marina Ruy Barbosa recebeu o troféu de atriz coadjuvante com um vestido dourado com uma fenda generosa, desenhado para a ocasião pelo estilista Rodrigo Grunfeld. No discurso, ela agradeceu ao autor Aguinaldo Silva pelo papel de Maria Isis. "Ele acreditou em mim no momento que eu mais precisava", declarou a ruiva, que passou por uma saia justa em sua novela anterior, "Amor à Vida", em que virou fantasma após se recusar a raspar a cabeça.
Outra que chamou atenção pelo modelito foi Sophia Abrahão, que vestia um longo vermelho de pedraria. Na hora de subir ao palco, a transparência da roupa mostrou demais, e a atriz, sem jeito, tentava se cobrir na hora das fotos.
A premiação, marcada para as 20h, teve um atraso de cerca de três horas, gerando reclamações entre os convidados. Nesse meio tempo, assessores de alguns atores do segundo escalão pediram que eles "grudassem" em colegas mais famosos para aparecer nas fotos. Atrizes contratadas por uma marca de cosméticos eram orientadas a não sair do espaço reservado. Taís Araújo ficou visivelmente chateada com a situação constrangedora.
Também chamou a atenção o fato de alguns atores da Record deixarem o salão Golden Room de fininho, antes mesmo do fim do evento, que terminou morno, sem pista de dança nem a tradicional confraternização entre os artistas.
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