I Love Paraisópolis

Wolf Maya quer mostrar em novela orgulho que moradores têm de Paraisópolis

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

A favela como o principal cenário de uma novela pela primeira vez na TV. Esse é o pano de fundo de "I Love Paraisópolis", que inclusive, leva o nome de uma das maiores comunidades do Brasil. De acordo com o diretor Wolf Maya, a próxima trama das sete de Alcides Nogueira e Mário Teixeira além de ser uma homenagem a São Paulo, tem como objetivo mostrar a diversidade e fazer com que o público amplie seu olhar e saia da zona de conforto.

"A relação de miscigenação da cidade de São Paulo não só étnica, mas de moradia, bairros e a convivência entre [o bairro de classe alta] Morumbi e Paraisópolis, principalmente. A novela conta com a alegria e a felicidade da comunidade alternativa. É uma novela popular, e nada melhor que São Paulo para essa pluralidade de pensamento sob o olhar do jovem. 70% do meu elenco é jovem, talvez esse seja o produto mais jovem da TV Globo hoje", afirmou Wolf, nos bastidores de uma gravação acompanhada pelo UOL.

O diretor ainda comparou as comunidades de São Paulo, concentradas nas periferias, com os morros cariocas, que rodeiam o Rio de Janeiro. Localizada na Zona Sul de São Paulo, Paraisópolis ainda não é reconhecida como um bairro, mas chama atenção por estar próxima ao Centro, fazer parte do bairro nobre do Morumbi e ter cerca de 100 mil habitantes (segundo dados de lideranças locais).

Manuela Scarpa e Marcos Ribas/Photo Rio News Romper um preconceito seria pretensão nossa, mas é um grande passo para ampliar o olhar diz Wolf Maya sobre "I Love Paraisópolis"

"Os moradores têm orgulho de morar em Paraisópolis, diferente das favelas do Rio, onde as pessoas do Complexo do Alemão, por exemplo, querem sair de lá porque é perigoso, tem tiro... Em Paraisópolis eles querem melhorar o bairro. A personagem da Bruna Marquezine (Marizete) é fruto da comunidade. É uma menina que fala inglês, não é ignorante. São Paulo não tem limite, sou daqui, sou de lá. A pluralidade de lá é tão interessante que vamos mostrar o ponto de vista religioso, a convivência do evangélico com o espírita, com o católico", disse Wolf.

Nessa comédia romântica, a luta de classes ficará a cargo das protagonistas Marquezine e Tatá Werneck (Danda), que são frutos da nova classe C. Após retornarem de uma viagem aos Estados Unidos, elas chegam em Paraisópolis com o objetivo de melhorarem de vida, e consequentemente o lugar onde nasceram. Por não sonharem em morar em outro local, as jovens iniciam uma disputa com Soraya (Letícia Spiller), grande empresária do Morumbi, dona de uma empresa de arquitetura, que quer construir um condomínio de luxo no espaço que a comunidade ocupa.

"Romper um preconceito seria pretensão nossa, mas é um grande passo para ampliar o olhar. O preconceito vem do desconhecimento e do medo. O público vai conhecer Paraisópolis, ver como pode ser uma comunidade alternativa e perder o medo disso, [daquilo]. Sei que lá tem um lado mais dark (perigoso), mas perigo temos com tudo. Sem dúvida a novela vai ser um orgulho para os moradores, um orgulho para São Paulo e um aprendizado para integrar melhor o Brasil", afirmou Wolf.

Por conta de esse olhar, o tráfico de drogas e a bandidagem não terão tanto enfoque. O próprio líder da comunidade será representado como um transgressor e não como mafioso. "Diferente do cinema brasileiro, não faço uma crítica da favela, dos moradores e dos hábitos. Temos personagens positivos e negativos, mas não vou tratar da criminalidade. A atividade irregular do personagem Grego (Caio Castro) é o desmanche de carro roubado, o que me remete a uma coisa mais jovem, de 'Grease - Nos tempos da Brilhantina'. É um cara irregular, um bandido, mas não vou falar de arma, droga, nada disso, o foco não é esse. Para tratar disso precisaria de mais verticalidade e talvez o melhor horário não fosse o das sete", explicou o diretor. A trama deve estrear no dia 11 de maio.

Sem atuação

Dono de uma escola de teatro em São Paulo, Wolf teve a ideia de retratar a comunidade após iniciar um grupo de estudo antropológico com seus alunos. "Queria tirar o foco de formação da alta burguesia, montar uma escola [teatro] dentro da comunidade, encontrar pessoas fora da estética e trazê-los para a profissão. Frequentei comunidades, centros culturais e associações de moradores, fiquei encantado e sugerimos Paraisópolis para uma novela. Montamos um centro de treinamento na comunidade, para que os moradores fossem figurantes. As pessoas têm a cara de lá, não é uma coisa fake (falsa)".

Maya descartou fazer uma ponta como ator no folhetim. "Tinha um personagem que eu ia fazer, mas não dá. Estou abrindo um teatro no Rio de Janeiro, estou com uma escola no Rio, outra em São Paulo, mais um projeto para o ano que vem e quero dirigir a novela até novembro, preciso estar à frente todos os estúdios. Ser ator é uma brincadeira que desta vez eu pulei", afirmou.

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