"Dizem que Fanny é horrorosa, mas é difícil não gostar", diz Marieta Severo
Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
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Paulo Belote/Divulgação/TV Globo
Marieta Severo como Fanny em "Verdades Secretas"
Depois de 14 anos como uma mãe, esposa e dona de casa exemplar em "A Grande Família", Marieta Severo aparece diariamente na TV como uma mulher ambiciosa e sem escrúpulos que alicia jovens modelos para o mundo da prostituição em "Verdades Secretas". Em vez de estranhar, os telespectadores abraçaram de cara a nova personagem da atriz, que comemora a boa repercussão da novela das 23h.
"Não sei se ela chega a ser uma vilã. Mas é uma mulher amoral, sem escrúpulos, faz tudo por poder ou por dinheiro e não é apegada a nada além dela mesma. Sempre dá uma certa curiosidade saber como o público, depois de tantos anos, vai aceitar. Foi uma geração que conviveu com a dona Nenê. Tenho escutado muito que a Fanny é horrorosa, mas é difícil não gostar dela", conta.
A história que desvenda o lado mais sombrio do mundo da moda foi um atrativo para aceitar logo um novo convite na televisão. O fato de voltar a trabalhar com o diretor Mauro Mendonça Filho, um dos primeiros diretores de "A Grande Família", e contracenar mais uma vez com Reynaldo Gianecchini, que foi seu sobrinho em "Laços de Família" (2001), também pesaram. Mas o retorno não foi planejado, afirma.
"Achei que ia ficar mais tempo descansando porque é avassalador fazer uma personagem por 14 anos, mas era uma proposta irrecusável. E não é muito a minha cara ficar um ano, dois anos esfriando a imagem, descansando a imagem, essas coisas. Só ia criar mais expectativa. Sou uma atriz trabalhando, com personagens variados. Foi bom não ter esperado", avalia.
Para assimilar o universo da trama, Marieta conta que usou uma mistura de referências, que são sempre "subjetivas e misteriosas". "Fui atrás desse mundo da moda, pesquisei sobre algumas mulheres importantes como a Anna Wintour (que inspirou o filme 'O Diabo Veste Prada')", conta.
A extensiva pesquisa que o autor Walcyr Carrasco fez antes da novela também deu base para os atores tratarem de temas mais delicados, como o polêmico book rosa. "Ele passou muitos dados pra gente, isso existe sim. E ele fez questão de colocar nos diálogos, repetidamente, que não são todas as agências que fazem. Não se pode nunca generalizar. Um médico charlatão numa novela não está falando da classe toda, mas de um específico por exemplo. Algumas agências podem ter vestido a carapuça, mas outras estão fazendo seu trabalho profissional e correto, como a maioria", diz.
A atriz considera excelente a resposta do público nas duas primeiras semanas de exibição e diz que a estética sofisticada da atração foi um dos atrativos. Apesar de não aliviar em temas pesados – a protagonista, Arlete (Camila Queiroz), aceita fazer programas para ajudar a família –, a novela foi bem recebida, ao contrário de "Babilônia", que cogitou entrar em terreno parecido e foi apedrejada pelos telespectadores mais conservadores.
"A não aceitação a 'Babilônia' é um grande mistério a ser estudado. Tem todos os ingredientes de uma excelente novela, tem vilões, tem a parte do bem. Gosto de assistir. O núcleo do Aderbal (Marcos Palmeira), do político corrupto é contundente e bem-humorado, fala de um tema atual, mas que sempre existiu, do mau uso da religião. Realmente não entendo. Se for parar para pensar, nossa novela também não é propriamente 'para família', tem temas pesados", constata.
Dedicada às gravações de "Verdades Secretas" até o final de setembro, Marieta já tem planos de rodar o longa-metragem "Os Nossos Filhos", dirigido por Maria de Medeiros, em novembro. Na história, ela vive uma mãe que não aceita bem a relação homoafetiva da filha. "É curioso porque ela é uma mulher da minha geração, foi exilada política, tem a cabeça feita, mas muitos conflitos surgem a partir daí", adianta.
Com a experiência de 50 anos de carreira, Marieta, 68, conta que atuar com um elenco de atores bem jovens é estar sempre com uma turma muito animada. "É muito divertido. Trabalho mais com o Rainer Cadete e com a Camila Queiroz, e toda vez que propomos nos concentrar para bater o texto, é sempre muito produtivo. Eles são muito sérios, muito empenhados", afirma.
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