Babilônia

"Tem de tratar com naturalidade", diz Fernandona sobre casal gay em novela

Giselle de Almeida e Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

  • Estevam Avellar/TV Globo

    Estela (Nathalia Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) em "Babilônia"

    Estela (Nathalia Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) em "Babilônia"

"Tenho certeza de que pessoas como Estela e eu ainda vamos mudar a sociedade". Se a "profecia" irá se realizar, ainda não sabemos. Mas a frase, dita por Teresa (Fernanda Montenegro) numa cena de "Babilônia", novela das nove que estreia na próxima segunda-feira (16), revela muito sobre a personagem.

Mesmo após um relacionamento de mais de 30 anos com Estela (Nathalia Timberg), Teresa ainda precisa se impor para que as pessoas encarem o casamento das duas como algo normal. 

"Eu não me espanto com o preconceito porque ele existe, está diminuindo mas ainda está aí. Agora tem de tratar o tema com naturalidade", diz Fernanda, que vive uma advogada famosa por pela libertação de presos políticos na ditadura e por atuar em casos de discriminação sexual.

"A sociedade já caminhou bastante, já vemos uma luz no fim do túnel. Estamos apenas mostrando um par, no caso duas mulheres, que têm uma vida em comum há quase 40 anos e que têm uma vida normal, que têm família, filhos...", continua.

Na trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, Estela é mãe de Beatriz (Glória Pires), mas tem um convívio mais intenso com o neto Rafael (Chay Suede), que criou após a morte da mãe dele. O rapaz tem um carinho tão grande pela avó e sua companheira que chama as duas de mães. Por conta de sua estrutura familiar, o jovem vai até sofrer bullying na novela.

Aos 85 anos, Nathalia Timberg demonstra até um certo incômodo com questionamentos sobre a sexualidade das personagens, que ganharam a atenção da mídia antes mesmo de o folhetim estrear. "O que importa é a história humana das personagens. Imagina como foi para elas assumir esse relacionamento há 35 anos? O Gilberto Braga [autor] apresenta esse caso com dignidade. É um casal como uma relação sólida. O que menos importa é a sexualidade", afirma ela, que torce para a novela conseguir conscientizar os telespectadores mais conservadores.

"Numa sociedade primária, o preconceito ganha cores bastante fortes. Tudo que se faz numa obra como essa é apresentar problemas de ordem humana e esperar que tenha repercussão nesses espíritos ainda tão limitados", aposta a atriz.

Terceira idade

Apesar de tratar de um tema recorrente em novelas recentes da Globo, "Babilônia" aborda a homossexualidade de uma forma diferente: na visão de um casal maduro, que já vivenciou preconceitos no passado e resistiu às pressões da sociedade. E o fato de serem duas mulheres da terceira idade pode provocar um estranhamento ainda maior.

"Pessoas que acham isso são ainda jovens ou se pretendem jovens, e vão saber que é isso também é um preconceito. Chegou a hora de lutar contra isso", desabafa a octogenária Fernanda, que demonstra fôlego para encarar a rotina puxada de uma novela do horário nobre.
 
"Estou entregue à novela. A indústria é tão pesada que o capítulo é um longa por dia, então você tem que dar conta disso. Mas eu e Nathalia somos mulheres privilegiadas. Estamos com 85 anos e trabalhamos como se ainda tivéssemos 30", afirma a atriz.
 

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