UOL já viu o 1º capítulo da fase final de "Mad Men"; saiba o que acontece

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles

  • Divulgação

    Pôster da última leva de episódios da série

    Pôster da última leva de episódios da série

Como os anos 1960 que escorregam inexoravelmente para os 70, Don Draper (Jon Hamm) vai se dissolvendo no primeiro episódio da temporada final de "Mad Men",  chamada "The End of an Era' (O Fim de uma Era), com estreia marcada para dia 5 de abril nos Estados Unidos e que o UOL viu em primeira mão.

No início da série – e da década – Don Draper era a própria encarnação do pós-guerra nos Estados Unidos, um "self-made man", um personagem inventado, capaz de apagar as cicatrizes da depressão econômica, da alienação social e triunfar na Avenida Madison como um gênio da criação publicitária, promovendo o consumo em uma era de fartura.

Sete temporadas depois, no último episódio da primeira parte da reta final, chamada "The Beginning" ("O Início"),  que foi ao ar no primeiro semestre de 2014, a década termina num turbilhão de profundas mudanças sociais e políticas. O homem pousou na Lua e foi visto em circunstâncias diversas pelos personagens de "Mad Men", selando o domínio da TV e a massificação da informação .

No mesmo episódio Peggy Olson (Elisabeth Moss) assume o papel de ponta numa campanha – papel que tinha sido de Don em quase toda a série – e "vende" a ideia de uma rede de lanchonetes que enfatiza exatamente o quanto os tempos modernos afastaram as pessoas do convívio imediato, e o quanto a mesinha de fórmica da fast-food poderia e deveria substituir os jantares em família.

É um admirável mundo novo, que escapa ao controle dos homens brancos do pós guerra, tão perfeitamente encarnados no Don Draper de Jon Hamm – ombros largos, feições bem definidas, perfil exato, porte imponente, caminhar seguro.

ALERTA: O TEXTO CONTÉM SPOILERS. SE VOCÊ NÃO QUER SABER DETALHES DA SÉRIE, NÃO LEIA.

Mas aqui, no primeiro dos sete episódios finais, tudo isso se desfaz num universo em violenta transformação, onde Don, o herói, não tem mais lugar.

Num bilhete enviado à imprensa juntamente com o DVD do episódio – intitulado "Severance" (Demissão) – o criador e showrunner Matthew Weiner (que escreveu o episódio) pede que não se revelem detalhes da trama. Mas o essencial pode ser dito sem spoilers.

A agência continua, repleta de gente jovem , muito cabelo, muitas costeletas, muitos bigodes, muita minissaia e cores berrantes – mas Don Draper não está mais em seu centro. Peggy e Joan (Christina Hendricks) são agora o coração da empreitada e, ainda que tenham que enfrentar o machismo de colegas (uma cena de reunião vai trazer memórias amargas a toda mulher que teve que abrir seu espaço num mundo de homens) elas são financeiramente independentes, e em pleno controle de suas vidas. Vender para o mercado feminino não é mais uma tarefa secundária. Novos produtos, muitos deles resultado do avanço tecnológico por conta da guerra fria, disputam as atenções dos publicitários.

Don, duas vezes divorciado, vê fantasmas por toda parte. Tenta, em vão, retomar fios do passado --no balanço de sua vida ao longo dos 60, há, agora, mais perdas do que ganhos. Continua um sedutor compulsivo, mas suas conquistas são pontuadas por pesadelos, por uma insatisfação constante. Jon Hamm, que foi um talento excepcional durante toda a série, está absolutamente extraordinário nesta arrancada final. Como Weiner me disse uma vez, Hamm parece que é capaz de "alterar sua estrutura óssea" para nos deixar ver o mundo interior de seu personagem. É o que acontece em "Severance", com Hamm alternando entre o Draper fanfarrão que conhecemos tão bem, e um outro homem, mais velho, emocionalmente abalado, existencialmente confuso, que emerge do fundo de sua alma, cada vez mais.

Num texto de apresentação para um belíssimo livro comemorativo do final da série, Matthew Weiner recorda o texto que escreveu para o primeiro release de "Mad Men", em 2007: "Espero que, vendo esta série, nós nos tornemos um pouco esses personagens e, através deles, possamos reconhecer parte de nossas vidas em suas histórias, e sentir algo extraordinário." A essa observação ele acrescenta: "Este sentimento não mudou ao longo desse tempo."

E, de fato, tendo ou não vivido os anos 1960, o arco de sete anos de "Mad Men" demonstra com clareza que a narrativa da ascensão, queda e transformação de Don Draper e seus colegas sempre foi uma história universal.

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