Desafio de Felizes Para Sempre? foi aliar pegada a qualidade, diz Meirelles
Beatriz Amendola
Do UOL, em São Paulo
"Felizes Para Sempre?" representou um novo desafio para o diretor Fernando Meirelles, conhecido por seus trabalhos nos filmes "Cidade de Deus" e "Ensaio Sobre a Cegueira". Investindo pela primeira vez no formato do folhetim, Meirelles – ao lado dos três colegas de direção Paulo Morelli, Luciano Moura e Rodrigo Meirelles – assumiu a missão de fazer uma série popular, mas que tivesse alta qualidade.
"A série é um folhetim, gênero que eu nunca havia dirigido. Ao ler o texto fui fisgado pelos personagens e embarquei. O desafio para os quatro diretores era fazer uma série popular, com pegada, mas ao mesmo tempo muito bem-acabada em todos os aspectos. TV com qualidade", afirmou Meirelles em entrevista ao UOL, por email.
Com uma trama centrada nos relacionamentos problemáticos de cinco casais, a minissérie estreou com muitas cenas sensuais – mas houve um cuidado para não fugir ao bom gosto. "O tema central da série são relações e isso envolve sexo. Tentamos fazer as cenas da forma mais elegante possível, sem exploração gratuita", contou Meirelles, acrescentando que não houve pudores por parte da equipe em mostrar o relacionamento homossexual entre Denise (Paolla Oliveira) e Daniela (Martha Nowill): "As relações entre mulheres não causaram problema nenhum. É tratado na série com a maior naturalidade".
Ter a cidade de Brasília como cenário, fugindo do tradicional eixo Rio-São Paulo, ajudou a fortalecer o drama dos personagens, de acordo com o cineasta. "A cidade nasceu para o cinema, incrível ser tão pouco explorada. Na TV, pouquíssimos projetos foram rodados ali (e escrevo pouquíssimo para me garantir, pois não me lembro de nenhum). A amplidão dos espaços e os vazios são ideais para se falar de personagens solitários como os desta série, usamos a dureza do cerrado a favor do drama também".
Qualidade e mudanças na TV brasileira
Desde que as primeiras chamadas de "Felizes Para Sempre?" foram ao ar, chamou a atenção o acabamento diferenciado e cuidadoso das imagens da minissérie, de aspecto cinematográfico. Para Meirelles, contribuíram para isso não somente o fato de a equipe da minissérie ser oriunda do cinema, como também a própria evolução dos televisores nos últimos anos.
"O grande salto de qualidade nas produções para TV foi possível graças à entrada das TVs HD e de tamanho maior nas casas. Agora é possível contar uma história não só apoiada nos diálogos e no close dos atores, mas também na imagem. Planos mais longos, grandes planos gerais não seguravam muito na TV há cinco anos, mas hoje funcionam, por isso esta sensação de estarmos mais próximos do cinema", explicou o diretor, que também ressaltou a importância do olhar da equipe: "Ela vem toda de cinema, o que significa [os profissionais] estarem acostumados a ir um pouco mais devagar e a fazer tudo com mais cuidado, mais como artesanato do que como indústria. Isso também gera a diferença".
Na opinião de Meirelles, a TV brasileira vive uma boa fase por conta da Lei da TV Paga, que obrigou os canais pagos a inserirem mais conteúdos nacionais em suas grades. "Quero crer que a TV brasileira esteja renascendo. Com a nova lei de obrigatoriedade de programação nacional pelos canais a cabo, a produção para TV multiplicou por 10 nos últimos três anos. Há uma geração de roteiristas e novos diretores chegando, certamente em pouco tempo muitos deles despontarão e teremos uma TV renovada. Sou sempre otimista chegando quase ao nível da estupidez, mas neste caso me parece óbvio que quanto mais gente trabalha, mais chance de aparecer gente boa, e o mercado está bombando". Questionado sobre futuros projetos na TV, o cineasta confirmou que está em negociações sobre um novo trabalho, mas não deu mais detalhes.