"Two and a Half Men" entra na reta final à sombra da saída de Charlie Sheen

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

Após onze anos no ar, "Two and a Half Men" estreia nesta quinta-feira (6) sua 12ª e última temporada no Brasil, às 20h. Este será o início do adeus a Alan (Jon Cryer), Walden (Ashton Kutcher), Berta (Conchata Ferrell) e companhia, que devem deixar de vez a telinha no primeiro semestre do ano que vem após uma longa trajetória de sucesso.

Marcada por um humor ácido -- personificado principalmente por Charlie Harper, falecido personagem do ator Charlie Sheen -- a sitcom conquistou uma média de 16 milhões de espectadores nos Estados Unidos logo em sua primeira temporada, mantendo altos índices por anos a fio. Porém, a 11ª fase do programa não repetiu o sucesso das anteriores e manteve uma média de 10,66 milhões de espectadores, a menor desde sua criação.

A audiência baixa recente foi, entre fãs, muito relacionada à atribulada saída de Charlie Sheen, no início de 2011. Em meio a sérios problemas com drogas, o ator foi internado na reabilitação durante a oitava temporada da série e criticou publicamente o autor da atração, Chuck Lorre, e a emissora que a produz nos Estados Unidos, a CBS. Charlie Harper, então, foi morto e entrou em cena Walden, um homem rico e solitário interpretado por Ashton Kutcher.

Consultados pelo UOL, especialistas divergem quanto ao impacto que a saída de Sheen pode ter tido na série. Coordenador da pós-graduação Argumento e Roteiro para Cinema e Televisão da FAAP, em São Paulo, Ricardo Tiezzi disse que é um golpe pesado perder o protagonista e que a sitcom poderia ter ido mais longe com o ator. "Há o desgaste natural, porque mesmo 'Friends' e 'Seinfeld' não chegaram a 12 temporadas, mas se não tivesse havido aquela confusão, poderia ter ido mais longe. É como se você tivesse que se acostumar com outro personagem".

Mais otimista, Aleksei Abib, professor de Roteiro em Audiovisual do Centro Cultural b_arco, acredita que a solução da troca de atores representou um respiro, que contribuiu para a sobrevida da série, apesar de a troca ter desagradado parte dos fãs. "Para aqueles que não estavam tão apegados ao Charlie Sheen, continua funcionando, porque a lógica que o autor propôs estava lá. [O Walden] também era um cara solitário, com problemas familiares. Tudo continuou funcionando de acordo com as regras do universo. Acho que foi uma solução inteligente e bem-articulada", analisa ele, que credita o fim da série a seu desgaste natural.

Divulgação
Charlie Sheen como Charlie Harper e Ashton Kutcher como Walden: mesma função

Entre os motivos para o sucesso do seriado, porém, é unanimidade referir-se à construção dos personagens e ao humor ácido, que permite tratar com leveza temas mais pesados. Abib explica que tanto Charlie quanto Alan buscavam o amor, mas de formas distintas: um ia atrás de uma mulher diferente a cada dia, enquanto o outro tentava investir em um relacionamento sério de cada vez. E ambos vinham de uma família disfuncional, com problemas com a mãe Evelyn (Holland Taylor). "São dois homens que não tiveram um modelo de relacionamento sólido e estão tentando se virar com isso. Todo mundo é capaz de se identificar porque tem familiares que impactam em sua construção".

Tiezzi ressalta que esse fundo de problemas familiares é justamente o que torna a série única "É uma sitcom com aquela linguagem que o público está acostumado, mas não deixa de ser uma família que se gosta no fundo e tem problemas. E esse é o diferencial. Em 'Friends', eles têm problemas inocentes, e em 'Two and a Half Men', eles tentam fazer piada com esse lado mais sombrio", opina o professor, que vê na série um respiro em tempos de politicamente correto. "A gente conseguia ver na série representação de um monte de coisa que é meio interditado falar. Mostrando como as pessoas são mesmo, ou admirando coisas que elas gostariam de admirar, 'Two' consegue representar o público de uma maneira eficiente. Eles pesam a mão, mas sabem a hora de aliviar".

Episódio de estreia e casamento

A última temporada promete fortes emoções logo em seu início. Durante as comemorações do Halloween, Walden tem um problema de saúde e, assustado, começa a repensar a sua vida. O rapaz decide adotar um filho, mas logo se depara com muitas dificuldades por ser um homem solteiro. Ele então decide pedir Alan em casamento para que os dois possam ter uma união oficial e, assim, consigam adotar uma criança para criarem juntos.

Com direito até a um beijo gay para selar a união dos recém-casados, o episódio do casório, o segundo da temporada, contará com uma participação do cantor Michael Bolton, que transformará a música "When a Man Loves a Woman" em "When a Man Loves a Man" ["quando um homem ama uma mulher" vira "quando um homem ama um homem", em tradução livre].

Em julho, Jon Cryer comentou sobre o casamento em entrevista ao E! Online. "Na primeira vez que li, eu pensei 'o que?' E depois pensei 'é, faz sentido, porque o casamento de Alan acabou e o do Walden também'. Os autores tiveram uma boa ideia e ela abriu várias portas. Dois caras heterossexuais se casando porque querem um filho juntos. Ok. Por que não? Eu tenho certeza que isso vai acontecer [na vida real]".

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos