Em meio a polêmica, Porta dos Fundos estreia na TV sem medo de censura

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

Uma decisão judicial recente mostrou aos humoristas do Porta dos Fundos que a internet não é um território tão livre assim. Mas é justamente no auge da polêmica, que retirou dois esquetes do grupo do ar, que os humoristas se preparam para estrear na televisão, um meio considerado mais conservador, sem nenhum medo de censura. "Porta dos Fundos", o programa, estreia na Fox na próxima terça-feira (14), às 22h, reunindo todo o material produzido pelo coletivo de humor, dividido em 26 episódios, com um média de dez esquetes cada. "A Fox foi a primeira emissora que fez um convite sensato, que não desrespeitasse nosso conteúdo. A nossa liberdade é muito sagrada pra gente. Vamos ao ar sem corte, sem censura. E eles também não tentaram nos tirar da internet, como outros canais queriam", explica Gregorio Duvivier, um dos fundadores do Porta.

Conhecidos pela irreverência há mais de dois anos, quando lançaram seus primeiros vídeos, os comediantes já irritaram muita gente, inclusive o deputado Marco Feliciano, que se ofendeu com piadas religiosas. Mas foi só no início deste mês, ao citar o ex-candidato a governador do Rio Anthony Garotinho em "Você Me Conhece", que uma denúncia resultou numa proibição. A citação ao político voltou a acontecer em "Zona Eleitoral", e os dois vídeos não podem mais ser acessados no canal deles no YouTube. Revoltado com a decisão, o grupo está recorrendo na Justiça. "Não entendo essa proteção que os políticos têm no Brasil. Já falamos de Jesus, de sexo, de violência e nada deu problema. Mas com o Garotinho nós exageramos? Ele está solto, e a gente está censurado. É o famoso dois pesos e duas medidas", reclama.

No entanto, não está nos planos dos comediantes nenhum esquete ironizando o episódio. "Não queremos perder tempo com Garotinho. Ele não mereceu nem chegar ao segundo turno, só merece o esquecimento. Quero é que os vídeos voltem", desabafa Duvivier, que acredita que a situação ainda pode ser revertida. "Nosso advogado diz que a lei está do nosso lado, o Tribunal Superior Eleitoral não. Acho um absurdo, cadê a liberdade de expressão?", completa.

Fox/Divulgação

Na TV, o humorista fará intervenções divertidas nos episódios da atração, ao lado dos colegas Fábio Porchat, Clarice Falcão, João Vicente de Castro e Antonio Tabet, entre outros. A Gabriel Totoro coube a missão de gravar as vinhetas que vão agrupar os esquetes por temas. "Se o programa tratar de ciúme, por exemplo, eu e Clarice entramos em cena para fazer uma ceninha", conta. Embora a ideia da atração seja aproveitar o material já produzido por eles, Duvivier não descarta a produção de um conteúdo exclusivo para a TV num próximo projeto. "Nosso foco agora continua sendo a internet, mas a gente não despreza nenhuma mídia", despista.
 
Desprezar não é mesmo a palavra. Tanto que falta pouco para o Porta conquistar outras telas em breve: as do cinema. O primeiro longa-metragem do grupo, um épico medieval, começa a ser rodado em janeiro. "Seremos nós rindo de nós mesmos, uma coisa meio trash, claro. Escrevi a primeira versão do roteiro e entreguei pro Ian SBF, que está fazendo a segunda. Deve estrear no meio do ano que vem", adianta.

Divulgação Não entendo essa proteção que os políticos têm no Brasil. Já falamos de Jesus, de sexo, de violência e nada deu problema. Mas com o Garotinho nós exageramos? Gregorio Duvivier, humorista, sobre a proibição de dois vídeos do Porta dos Fundos

Além disso, o grupo lança na primeira semana de novembro uma nova série na internet, chamada "O Refém". "É uma ideia muito boa do Fábio Porchat, meio comédia, meio ação, que se passa dentro de um ônibus sequestrado", adianta Duvivier, sem querer dar muitos detalhes para não estragar a surpresa.

Envolvido até esta semana nas filmagens da comédia romântica "Desculpe o Transtorno", com a namorada, Clarice Falcão, Duvivier esclarece ainda uma outra "polêmica" envolvendo o grupo nos últimos dias. Segundo alguns veículos, os comerciais do "Porta dos Fundos" em que o ator zomba do humorístico "Vai que Cola", do Multishow, teriam causado um mal-estar com os colegas. Ele garante que isso nunca existiu. "Imagina, foi uma brincadeira. Isso é coisa de jornalista que não tem humor e jogou para os atores. Todo mundo sabe que a gente se adora, Paulo Gustavo, Fernando Caruso são amigos da vida toda. A Júlia Rabello e o Porchat já fizeram participações lá. Acho o programa o melhor da TV a cabo", explica.

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