Contra enquetes e favoritos, torcida diz ter dado suor e sangue por Vanessa
Ana Cora Lima, Felipe Pinheiro e Mirella Nascimento*
Do UOL, no Rio e em São Paulo
Briguenta, bissexual e polêmica, a modelo paulista Vanessa Mesquita foi anunciada na noite desta terça-feira (1º) como a vencedora do "Big Brother Brasil 14", contrariando inúmeras enquetes de intenções de voto na internet, atropelando um suposto favoritismo do rival Marcelo e subvertendo o perfil de bom mocismo que garantiu a vitória a pelo menos os dois últimos campeões do reality, a "princesa" Fernanda e o "caubói" Fael.
A despeito dos que acreditam em jogo de cartas marcadas – desconfiança reforçada pelo fato de a TV Globo não divulgar relatórios completos das votações –, dezenas de milhares de fãs que se intitulam "clanessas", em homenagem ao casal formado por Vanessa com a stripper Clara durante o programa, comemoram o resultado com uma sensação de missão cumprida.
"Teve gente que não dormiu e só parava para uma refeição rápida de 15 minutos", afirmou ao UOL Nathane Furtado, administradora da página "Vanessa Mesquita BBB14 Fan Page", referindo-se àquela que foi considerada a final antecipada do programa , o paredão em que Vanessa derrotou Marcelo, no domingo passado, com 55% dos votos.
"Eu estava com uma gripe horrível, mas consegui fazer 500 votos", comemorou a garota de 20 anos, moradora de Uberaba, que nunca viu a sister pessoalmente e torceu por um BBB pela primeira vez. "Eu sempre acompanhei o jogo, mas nunca fiz parte da torcida. Me identifiquei com a Van de cara por causa da causa dela de defender os animais. Depois, por ela ser bacana, amiga de todos e também pelo romance com a Clara. Viramos um torcida só", declarou.
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Deborah Daneluci mostrou fãs da torcida "Clanessa" com mãos enfaixadas e calos depois das maratonas de votação no "BBB"
Conhecida de Vanessa – as duas são defensoras de causas animais –, Deborah explicou ao UOL como funcionaram os mutirões de votação que promoviam a favor da dupla: "Temos uma regra e algumas estratégias. A regra era não participar de enquetes [extraoficiais, sem influência sobre o jogo] e só votar no site. Já as estratégias dependiam dos paredões, se eram triplos ou duplos. No caso do triplo, as líderes escolhiam um alvo e a gente fazia um mutirão de votos em cima desse alvo", explicou.
Os mutirões eram liderados pela prima Andressa e a amiga Thais, do lado de Vanessa, e pelas amigas Stefanie Chasseraux e Mayra Dias Gomes, do lado de Clara. "Os fã-clubes maiores serviam de apoio para os menores e coordenavam os mutirões. Em um minuto uma pessoa pode votar de três a cinco vezes. Em quatro horas, esse fã mais rápido pode conseguir mais ou menos mil votos", disse Luma Lacerda, uma das administradoras da página "Mafia Clanessa".
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De óculos escuros para esconder as olheiras depois de noites de votação, Luma Lacerda, administradora da Máfia Clanessa, torcida que votou pela vitória de Vanessa no "BBB14"
Angelica Brito, de 23 anos, que mora em Portugal e acompanha o programa online, contabilizou 3.000 votos no paredão que eliminou o paranaense. "A cada uma hora, fazia 400 votos. Descansava meia hora e voltava", contou a fã.
O poder de fogo e organização das "clanessas" - que fez lembrar a atuação da "Máfia Dourada", que deu a vitória ao lutador Marcelo Dourado no "BBB10" com votações impressionantes - foi capaz até de superar a cisão interna entre as fãs, que na final desta terça-feira tiveram de se decidir entre Vanessa e Clara, no paredão triplo contra a rival Angela, tida por muitos como a maior vilã desta edição e apelidade de "Cobrangela".
"Está diferente esse 'BBB', chega a dar impressão que a intenção é acabar com a credibilidade das enquetes", diz Ribeiro. "É bem possível que existam as torcidas, os call centers, mas isso sempre existiu. As torcidas são vaidosas e gostam de mostrar para quem estão torcendo, por isso não acho que deixariam de votar nas outras enquetes. Não sei por que, mas nos paredões que não têm essa dupla Clanessa, as pesquisas sempre acertaram. Acho que as torcidas podem ter força, mas não tanto assim", continua.
Slim e Nasser desconfiam
O participante Valter Slim, eliminado em paredão contra Clara na semanada passada, também viu os números com desconfiança. "Não acredito que seja apenas a força de uma torcida [que defina o resultado do paredão], pois muitas pessoas me apoiavam e eu também tenho uma torcida grande. Não consigo entender e acho que alguma coisa pode ter acontecido", declarou o rapper em entrevista ao UOL.
O UOL apurou que torcidas de Diego e Marcelo, por exemplo, contaram com esquemas semelhantes de mobilização e também afirmaram não votar em enquetes que não as oficiais. "Não fazia a contagem, deixava para os fã-clubes fazerem. Teve fã-clube que afirmou ter passado dos 6 milhões de votos no paredão contra a Vanessa, mas não tem como saber se esse número é real", afirmou Fabiano Liberato, cunhado de Marcelo e um dos administradores das redes do paranaense.
"Pedíamos a para o pessoal não votar nas enquetes [extraoficiais] porque não valem nada. Pedíamos para focar no site da Globo. Mas era uma briga, porque queriam votar nas enquetes", contou Liberato.
Entre os torcedores de Marcelo, houve um grupo que criou uma petição online pedindo auditoria dos votos do paredão. Procurada pelo UOL em mais de uma ocasião desde a estreia do programa em janeiro, a assessoria de imprensa da TV Globo não respondeu se as votações dos paredões são auditadas por alguma empresa independente e desconsiderou questionamentos sobre quantidades de votos e porcentagens das eliminações.
"Não acredito 100% que o Brasil decide quem vai vencer e quem vai perder", defendeu o ex-BBB Nasser, vice-campeão do "BBB13", em participação ao vivo no programa "Segunda Tela do BBB", exibido pelo UOL nesta terça.
"O Boninho, como um diretor, tem que saber o que é melhor para ele. Ele tem que entender a história que está rendendo, quem deve ficar ou não deve. Se for muito longe a [distância na] votação, acho que ele pende para o [preferido pelo] Brasil. Se tem uma margem muito pequena, acho que ele tem uma decisão da parte dele", concluiu Nasser, que também disse desconfiar do segundo lugar de Angela. "A torcida da Vanessa e da Clara era muito maior que a da Angela. Mesmo se dividindo, o primeiro e segundo lugar era para ser delas."
* Colaborou Beatriz Sartorio