Penélope volta a falar de sexo na web e critica TV: "Não há naturalidade"

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

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    Penélope Nova no cenário de seu novo programa na web, o "P & Ponto", no qual fala sobre sexo e relacionamentos

    Penélope Nova no cenário de seu novo programa na web, o "P & Ponto", no qual fala sobre sexo e relacionamentos

Fora do ar há oito anos, o "Ponto Pê", programa sobre sexo e relacionamentos comandado por Penélope Nova na antiga MTV, conquistou uma geração de adolescentes com a forma descontraída com que a apresentadora tirava dúvidas sobre o assunto. E desde o dia 18 de maio, Penélope pode ser vista novamente falando sobre o tema: ela estreou no YouTube o canal P&Ponto, no qual recebe convidados, tira dúvidas de sexo e comenta notícias ligadas ao assunto.

Voltar a falar de sexo era um desejo não só da apresentadora, mas dos fãs. "Desde que o 'Ponto Pê' acabou, tanto eu quanto as pessoas sentimos muita falta dele", disse Penélope ao UOL. "E desde então, muitas pessoas – muitas mesmo, de tudo que é idade, gênero e sexualidade –, me cobravam: 'Por que parou? Por que você não faz?' E mesmo naquela época em que o programa foi extinto, eu já queria fazer um formato para a internet. Mas naquela época não havia a tecnologia necessária para fazer ele de uma maneira legal".

Foi justamente a liberdade permitida pela internet que atraiu Penélope para a plataforma. Na web, não só há mais liberdade para testar formatos, como há bem menos amarras para se tratar de sexo, acredita a apresentadora – que não recebeu propostas de canais para fazer programas semelhantes ao "Ponto Pê" e avalia que não houve grandes mudanças na forma como o tema é abordado na TV desde que ele chegou ao fim.

Reprodução
Penélope Nova no "Ponto Pê", que ficou no ar entre 2004 e 2007

"Essa questão da adequação e de todo esse pudor estraga, a TV não é espontânea", afirma. "Quem fala de sexualidade na TV? Tem o 'Amor e Sexo', mas acho que não mudou nada. A TV aberta continua se referindo a 'aquilo' [para falar dos órgãos genitais]. É quase um consultório. Acho que a TV é entretenimento, não clínica. A TV aberta, de uma maneira geral, trata sexo com desconforto. Sexo é, antes de tudo natural, e não há naturalidade pra falar de sexo na TV aberta. Não é permitido. E fica essa incoerência: Como é que você quer falar de sexo em um programa de comportamento, mas tem que escolher bem as palavras? Você não pode falar da mesma forma que você fala com seus amigos. Aí não dá".

Para Penélope, que estreou seu novo programa online com um bate-papo com Thammy Miranda, a forma como se explora o sexo na televisão é "careta", e reflete velhos conceitos. "É muito moralista, a gente não avança nas questões de comportamento, continua repetindo julgamentos antigos e ultrapassados, não oferece a verdade. No sexo, se confunde muito liberdade com libertinagem. E são coisas muito diferentes. A liberdade, em minha opinião, precede a responsabilidade. E a responsabilidade não precisa ser chata."

O próprio "Ponto Pê", lembra Penélope, surgiu com a intenção de resgatar o lado divertido do sexo, anos depois do "Erótica MTV", que ficou no ar entre 1999 e 2001 e tratava da questão do sexo responsável, com apresentação de Jairo Bouer: "Naquela época, era necessário falar de sexo com responsabilidade, em vista do surgimento da Aids, e foi muito importante trazer o sexo para a TV e para o jovem. Mas a partir de um certo momento, começou a ficar pesado demais. Começou a parecer que sexo era sinônimo de responsabilidade e de risco – quando, antes de mais nada, vamos resgatar o caráter básico e fundamental do sexo, que é o do prazer. E aí surgiu o 'Ponto Pê'".

Os canais pagos também não têm aberto espaço para o tema e, na opinião da apresentadora, não oferecem diversidade em sua programação. "A TV paga reproduz o pensamento da TV aberta, ela busca o número, ela quer ser a TV aberta. O princípio dela é a segmentação, mas você não vê essa diversidade, essa pluralidade".

A forma mais pudica de abordar o sexo hoje, porém, não necessariamente mostra que a sociedade brasileira está mais conservadora, avalia Penélope, para quem o contexto social atual é de extremos, que aparecem tanto na política como no comportamento. "A gente tem a Thammy na mídia, falando abertamente [sobre transgêneros], é um avanço. Mas ao mesmo tempo tem gente quebrando lâmpada na cabeça de casal gay na Paulista. Acho que a gente tem vivido entre extremos. Não sei por que o equilíbrio e o respeito ao indivíduo, que para a gente são tão simples e tão primordiais, são tão difíceis; por que o c* do outro é tão mais interessante do que o da própria pessoa na hora de criticar".

Os programas do P & Ponto vão ao ar às segundas e quintas-feiras, às 20h.

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