Para evitar pirataria, canais apostam em transmissão online e menos atrasos
Beatriz AmendolaDo UOL, em São Paulo
As séries de TV estrangeiras estão se tornando a paixão de um número cada vez maior de brasileiros - que não perdem nenhum episódio de sucessos como "Game of Thrones", "The Walking Dead" e "The Big Bang Theory". O interesse pelas séries é tanto que muitos espectadores recorrem às vias ilegais. Não à toa, em 2014 o Brasil foi campeão na pirataria desse tipo de programa, com 28,4 milhões de downloads entre as dez séries mais baixadas do ano, superando Rússia (28, 1 mi), Índia (16 mi), Austrália (15,4 mi), China (14,9 mi) e os Estados Unidos (14,4 mi).
Os dados, aferidos pela consultoria Excipio e divulgados pela revista "Variety" no início deste ano, estão em consonância com uma pesquisa divulgada pelo instituto Tru Opik em agosto. De acordo com ela, brasileiros foram os que mais baixaram séries de forma ilegal entre abril e junho de 2014 – com 7,2 milhões de usuários. Frente a esses números, o que está sendo feito para revertê-los?
A HBO foi uma das pioneiras em tomar uma ação, reduzindo o intervalo de espera que deixa muitos fãs tentados a recorrer aos downloads. Na esteira do sucesso estrondoso da primeira temporada de "Game of Thrones", a segunda estreou por aqui no mesmo dia em que nos Estados Unidos, em uma iniciativa até então inédita na TV brasileira. O canal depois usou a mesma estratégia com "Girls", "The Leftovers", "Looking" e a nova "Togetherness", que estreou no último dia 12.
Outros canais, embora não tenham exibições simultâneas, também passaram a aproximá-las das estrangeiras. A primeira temporada de "The Big Bang Theory", por exemplo, estreou no Brasil, no Warner Channel, com dois meses de atraso em relação aos Estados Unidos, em 2007. Mas atualmente, na oitava temporada, há uma espera de apenas uma semana. Caso semelhante aconteceu com "The Walking Dead", exibida por aqui pela Fox. A quinta temporada da série estreou com dois dias de atraso em relação aos EUA, mas o canal optou por exibir o mid-season finale apenas um dia após a exibição original, o que foi aprovado pelo público e irá continuar na segunda metade da temporada, conforme conta Daniel Steinmetz, chefe do escritório antipirataria da FOX na América Latina.
"A diminuição de janela de exibição é uma das medidas que nos esforçamos para conseguir realizar e ajuda sim a combater a pirataria. E, felizmente, a audiência tem reagido positivamente", disse ele em entrevista ao UOL. Mas ele ressaltou que nem sempre é possível diminuir o tempo dos intervalos. "A exibição de cada série depende de seu contrato de aquisição da FOX International Channels Latin America com cada distribuidora. No Brasil, pensando em uma exigência de sua audiência, os canais FOX não exibem séries legendadas e o processo de dublagem leva em torno de 90 dias– são várias etapas, desde seleção do elenco, aprovação ao trabalho de dublagem em si. Por conta desse processo e estratégias de programação há um espaço entre a janela americana e a estreia no Brasil. No caso de 'The Walking Dead', que é um fenômeno mundial, a série chega muito antes para dublagem pois há um acordo contratual que prevê a dublagem com antecipação e exibição cada vez mais perto do mercado dos Estados Unidos".
E os serviços alternativos?
Havia a expectativa de que a chegada e a popularização de serviços de streaming como Netflix, Hulu e Amazon Prime ajudassem a mudar o jogo contra a pirataria, mas os efeitos deles ainda não são tão significativos. O primeiro motivo é que por enquanto só o Netflix e o Crackle operam no Brasil. O segundo é que muitas das séries que figuram na lista das mais baixadas do mundo não estão disponíveis neles e nem nos outros serviços – como é o caso de "Game of Thrones" e "Big Bang Theory". E, quando elas estão disponíveis, nem sempre elas estão atualizadas com aquilo que é exibido na TV, o que frustra os espectadores mais afoitos.
Mas, paralelamente, surgiram outros serviços que também permitem ao espectador ver suas séries favoritas sem se ater a um horário pré-determinado por um canal pago. A HBO criou HBO Go. pelo qual seus assinantes podem assistir aos programas em vários dispositivos, como computadores, tablets e celulares. Ele só está disponível para assinantes, mas isso deve mudar em breve: o canal já anunciou que pretende lançar ainda neste ano um serviço de streaming independente da TV a cabo.
A FOX, dona de canais como FX, FOXLife e FOX Sports, criou um serviço semelhante, o FOX Play, que já está dando resultados. "Há pouco mais de seis meses lançamos o FOX Play, e hoje já dobramos o número de assinantes da plataforma. Sem dúvidas, oferecer o conteúdo primeiramente e colocá-lo à disposição para que os consumidores possam consumir a qualquer hora e em qualquer lugar é um recurso para combater a pirataria", avalia Steinmetz.
Na própria TV a cabo, há ainda a opção do Now, e do Vivo Play, disponíveis para assinantes da Net e da Vivo, respectivamente. Por meio dele, o espectador tem acesso ao conteúdo de boa parte dos programas disponíveis em seu pacote, sem custos adicionais.
Mas é necessário também trabalhar com a própria cultura do espectador, acredita Steinmetz: "A pirataria é também um problema cultural e educacional. Grande parte da população não considera o roubo de sinal um crime, ou vê como um delito menor. Neste sentido, é uma tarefa para todos mudar esses maus hábitos e acabar com eles definitivamente. Pirataria produz centenas de milhões de dólares em perdas não só para a indústria de TV por assinatura, mas também para o governo brasileiro, principalmente através de receitas fiscais mais baixas".
*A HBO e a Warner Channel foram procuradas, mas não puderam atender à reportagem