"Sexo e as Negas" recebe denúncias de racismo e TV Globo é autuada
Ana Cora LimaDo UOL, no Rio
Já são sete o número de denúncias de racismo recebidas pela ouvidoria da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) por conta da série "Sexo e as Negas", de Miguel Falabella, que estreia no dia 16 de setembro na Globo. Nesta quarta-feira (10), o órgão federal autuou a Rede Globo e solicitou mais informações sobre o conteúdo da trama. No documento, a Seppir sinaliza que também encaminhou as acusações ao Ministério Público no Rio de Janeiro para uma avaliação do caso.
"A Ouvidoria da Igualdade Racial vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de manifestação que reproduza estereótipos racistas, machistas, que se alicerce na sexualidade das mulheres negras, ou venha a reforçar ideias de inferioridade dessas mulheres, seja nas artes, no cinema ou nas telenovelas e seriados", afirmou o titular do órgão, Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior, ao UOL.
Carlos Alberto fez questão de ressaltar que os veículos de comunicação têm papel importante numa sociedade democrática e devem atuar no sentido de garantir os direitos das pessoas independente de sua cor,raça, crença religião ou orientação sexual. "As produções televisivas deveriam refletir a diversidade da população brasileira em todos os seus segmentos, contribuindo para a consolidação de uma sociedade justa, plural e igualitária".
O autor da série, Miguel Falabella rebateu as críticas sobre preconceito e se mostrou indignado. "Como é que se tem a pachorra de falar de preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso sobre algo que sequer viram? 'Sexo e as Negas' não tem nada de preconceito. Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência, como autor", escreveu ele em sua página pessoal do Facebook.
"Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as 'negas'? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os baianos arrastam a língua e dizem 'meu nego', os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é por que elas são de comunidade?", completou o autor.
A Assessoria de Imprensa da Rede Globo informou que não recebeu qualquer ofício questionando o nome ou o conteúdo do programa.
Boicote ao programa
Inspirada na série americana de sucesso em todo mundo "Sex and City", "Sexo e as Negas" tem sofrido com uma campanha na internet de boicote ao programa. Nos últimos dias, diversas organizações do movimento negro e de mulheres se manifestaram contra o seriado. Em entrevista ao UOL nesta semana, Falabella contou que texto da série foi cortado, mas negou que haja censura.
Ainda em seu desabafo no Facebook, Miguel fez questão de defender os atores negros e a importância da temática racial em sua produção.
"Estou nessa profissão há muitos anos. Tenho feito grandes amigos, tenho construído laços de afeto e respeito e costumo estabelecer, com aqueles que trabalham comigo, laços de amor. Portanto, dói-me ver a luta de meus colegas negros na nossa profissão. As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos", escreveu.
Miguel ainda citou o cineasta negro, norte-americano Spike Lee, conhecido pelo seu engajamento sócio racial. "Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar. Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda", explicou.
Falabella estranhou a campanha de boicote ao seriado e comparou aos tempos de ditadura e coronelismo."Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos são graves de qualquer maneira", justificou e finalizando o comunicado: "Never complain e never explain! (Nunca reclame e nunca explique)".