Avenida Brasil

Viciado em "Avenida Brasil", repórter fica uma semana sem ver a novela e relata "tortura"

Thiago Stivaletti

Do UOL, em São Paulo

Popular entre todas as classes sociais, gêneros e idades, a novela "Avenida Brasil" tem feito diversos de seus telespectadores marcarem compromissos para depois de sua exibição, só para não perder nenhuma das armações das amadas e odiadas Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves). Ir para a balada no sábado? Só depois da novela. Jantar? Idem. E se não tiver TV na festa onde vou? Leve o laptop e assista pela internet.

Atento a esse movimento, o UOL Televisão me pediu na última segunda-feira (2) uma missão sacrificante: ficar uma semana sem ver “Avenida Brasil”, novela na qual, como muita gente, estou viciado a ponto de parecer doença. Não é exagero. Sou noveleiro convicto desde os oito anos de idade, quando minha mãe professora saía pra dar aula e me deixava na frente da TV assistindo “Roque Santeiro”, “Ti-Ti-Ti”, “Um Sonho a Mais”, “Que Rei Sou Eu?”. Uma criança criada na frente da TV nos anos de ouro das novelas da Globo fica com sequelas pra toda a vida.

Mas voltando ao desafio, entre as regras que me foram impostas, eu deveria evitar qualquer banca de revista com fofocas da trama ou os links com cenas dos próximos capítulos que até o UOL publica sem parar. Da última vez que pude ver “Avenida Brasil”, Max (Marcelo Novaes) estava chantageando Nina para que ela saísse com ele. Depois, seguiu-se uma semana de total desespero. A seguir, um diário dessa difícil semana de abstinência novelística:

Segunda-feira: Fico mais tempo na academia para escapar da novela. Passo no supermercado pra comprar algo para o jantar. Na fila do caixa, meus olhos esbarram sem querer numa manchete: “Jorginho flagra Nina na cama com...” Não preciso nem terminar: só pode ser com o Tufão (Murilo Benício). Pior é que o Tufão até merece, ele anda fofo nos últimos tempos – além de ser o único que lê os bons livros que a Nina indica. Rezo pra que a cena não vá ao ar nesta semana de resguardo.

Terça-feira: No escritório, a novela é sempre o primeiro assunto entre as colegas, muito antes de qualquer pendência de trabalho, por mais urgente que seja. Minha sorte é que minha colega mais noveleira está de folga esta semana. À noite, antes de dormir, Carminha e companhia me vêm à cabeça. Será que ela já flagrou a Nina com o Max? Será que a Nina vai desmascará-la primeiro, ou a megera vai descobrir primeiro que instalou a enteada como criada na sua mansão e vai acabar com a raça dela antes?

Quarta-feira: Na hora da novela, aproveito pra me fechar no quarto e tirar o atraso de um livro que não termino há meses. Meu marido assiste à novela na sala. Só o som esparso dos diálogos já é suficiente pra me desconcentrar do texto. Ouço a Carminha falando com a Nina – putz, as cenas entre as duas são sempre as melhores. Normalmente é a Carminha dizendo que a Nina é a única pessoa no mundo em quem ela pode confiar, as duas dando aquele abraço de serpente, a Esteves e a Falabella mandando muito bem nas caras de falsas... Volto ao livro, sem muito ânimo. Tudo bem, hoje a novela nem é o forte da noite mesmo. A cidade inteira está em convulsão com a final do Corinthians na Libertadores. Assisto ao jogo pra me consolar. Mas só porque é a única saída. Se troco até jogo do meu Santos por uma boa novela, imagina jogo de time que nem é meu...


Quinta-feira: No meio da tarde, cai na minha caixa de entrada o e-mail de um amigo: “Tava vendo o capítulo de ontem da novela aqui na internet. Nossa, tá muito boa! Mal posso esperar pela hora em que a Carminha descubra que a Nina é a Rita. Vai ser uma baita reviravolta”. Explico minha situação, ele fica com muita pena. À noite, decido ir ao cinema para não ter que encarar a TV desligada. Escolho o filme mais diferente possível de uma novela: o russo “Fausto”, de Aleksander Sokurov. Obra-prima absoluta, fotografia espetacular. Mas em algum momento aquele demônio do Mefistófeles que manipula o Fausto me faz pensar na Carminha – o que ela deve estar aprontando nesse exato momento? Expulsando o Max de casa? Envenenando o Jorginho (Cauã Reymond) contra a Rita? Vai saber... Faço um esforço pra me concentrar no filme de novo.

Sexta-feira: Aniversário do meu irmão na casa dele. Mais da metade da família não sai da frente da TV na hora da novela – e eu tendo que me esgueirar pelos cantos pra não ver nada. Ouço vozes – Carminha ameaçando Betânia (Bianca Comparato), Nina jogando pesado com Max. Na cozinha, só me resta devorar o bolo. No supermercado, mais uma manchete vista sem querer: “Carminha enterra Nina viva!”. Assim mesmo, com a devida exclamação. Essa parece ser muito absurda. Mas seu Carneiro, se você tiver coragem de botar em cena uma loucura dessas, prometo ser um discípulo fiel pra todo o sempre (como se já não fosse...).

Sábado: Vou ao teatro. E só consigo pensar que, daqui a algumas horas, estarei livre do castigo de não poder ver a novela.

Domingo: Escrevo este texto de manhã e envio pro UOL. Tempo de fechar o Word, entrar no site da novela e passar pelo menos uma hora e meia tirando o atraso de tudo o que perdi. Vício de verdade é assim: a gente pode até segurar por uma semana, mas quando volta, a fome é dez vezes maior. Novela querida, de agora em diante prometo não me afastar de você por nenhum motivo, ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a próxima novela da Glória Perez nos separe.

 

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