Serginho e Dicesar disputaram, segundo Bial, "o paredão mais colorido da história do BBB"
O diretor Boninho usou o Twitter no início de março para mandar o seguinte aviso: “Botamos no BBB os piores, cabe a vocês decidir o menos ruim para ganhar o jogo. Não é um voto para vencer. É um reality para eliminar”. Neste domingo, em entrevista à Folha, melhorou um pouco a frase: “Não temos nem bons nem maus meninos, não há esses parâmetros no programa. Há o grupo que você ama ou odeia, mas não há um grande vilão ou um grande herói.”
Em resposta a uma questão sobre a presença de três gays assumidos na décima edição e dos conflitos causados dentro da casa em função dessa escolha da produção, Boninho disse: “Não colocamos ninguém no BBB para discutir homo ou heterofobia, minorias... Não escolhemos um personagem representando coisas. O fato de ser ou não homossexual não é para interagir no jogo. Não estou preocupado se o cara é gay ou não. Ele não vai entrar por ser gay, mas pelo que traz para a competição.”
Em todos os seus comentários, Boninho procura passar a imagem de um diretor de televisão preocupado exclusivamente com o entretenimento e, por consequência, com audiência e bons resultados comerciais. Se ocorre algo além disso, parece dizer, não é sua responsabilidade.
Boninho seria cego, o que não parece ser, se ignorasse o impacto que provocou com a composição do “zoológico humano”, para citar as palavras de Pedro Bial, montado para esta edição do BBB. O conflito que ficou latente entre Uiliam e Fernanda, deixando no ar um problema de racismo, não teria ocorrido se o programa não preenchesse uma espécie de cota, escolhendo regularmente, ano após ano, um participante negro.
O conflito entre Angélica e Dourado e, agora, entre Dicesar e Dourado coloca em discussão uma questão muito antiga, que diz respeito à comunidade gay, sobre a sua afirmação como minoria e o combate ao preconceito. Não à toa, o programa se viu obrigado, mesmo contra a vontade de Boninho, segundo a colunista Patricia Kogut, de "O Globo", a corrigir no ar a ignorância (ou “batatada”, segundo Bial) dita por Dourado sobre transmissão do vírus da Aids.
Sim, estão todos disputando R$ 1,5 milhão, e para alcançar este objetivo serão capazes de pisar um no pescoço do outro. Mas é impossível ignorar, em meio a esta disputa brutal, o surgimento de questões que vão muito além do prêmio e da vontade dos candidatos. Citei racismo e homossexualidade, mas poderia falar também sobre o público, sobre a qualidade da programação da televisão brasileira e sobre o nível geral dos participantes, para citar outros exemplos. Ao insistir em negar isso, Boninho reforça a sua fama de mau – o que deve contar pontos em certos círculos, mas não ajuda a entender o impacto do programa que dirige.
Mauricio Stycer é repórter especial e crítico do UOL.