Série "True Detective" volta com cadáver sem olhos e heroína feminista

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles

Um cadáver sem olhos sentado num parque à beira da estrada, entre Los Angeles e a cidade costeira de Ventura, une três policiais na segunda temporada de "True Detective", que estreia no próximo dia 21 na HBO.

Ray Velcoro (Colin Farrell) é um veterano da polícia que se encostou na corrupta e rica cidade-satélite (fictícia) de Vinci para melhor poder afogar seus demônios interiores com muita bebida e pouco trabalho. Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) é um patrulheiro rodoviário com uma complicada vida amorosa. E Ani Bezzerides (Rachel McAdams), a personagem mais intensa e fascinante da série, é uma detetive do município de Ventura que sobreviveu a uma comunidade hippie, um pai metido a guru e, imagina-se, coisas muito piores. 

"Tudo o que consigo escrever, normalmente, são histórias de homens violentos fazendo coisas muito, muito ruins. Mas (Ani) praticamente exigiu que eu a escrevesse. Não consegui evitar", diz Nic Pizzolatto, o criador da série.
 
"Ani é uma pessoa muito corajosa de todos os modos pelos quais definimos 'coragem'. Ela tem padrões muito altos para o mundo e para si mesma e não hesita em mantê-los e lutar por eles. Ela não desiste nem quando ameaçada, nem que isso represente risco de vida para ela mesma ou para outras pessoas. E é dona de sua sexualidade. Adoro isso nela. Ela não pede licença, não pede desculpas, não se esconde, não se exibe. Simplesmente é", completa a atriz Rachel McAdams.
 
A camada adicional de intriga é que os três estão encarregados, por seus superiores, de abordar a investigação com ângulos muito específicos e, basicamente, espionar seus colegas de investigação – inclusive a amizade entre Ray e Frank Semyon (Vince Vaughn), um milionário dono de cassinos com ligações ultraperigosas.
 
Divulgação/Montagem UOL
Ani Bezzerides (Rachel McAdams), Ray Velcoro (Colin Farrell) e Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) investigam morte na segunda temporada de "True Detective"
"Não vou contar spoilers, mas a trama vai se aprofundando ao longo dos episódios", diz Taylor Kitsch. "Para o meu personagem, esse mergulho foi muito emotivo, de um modo que me surpreendeu. O tema da série – que temos o mundo que criamos para nós – tem uma ressonância forte em Woodrugh: a família, ou melhor, a ausência da família definem as escolhas que ele faz."
 
Depois de fazer uma carreira em papéis cômicos, Vince Vaughn surpreende como o conflituado Semyon, oscilando entre crime e espírito empreendedor (e os dois ao mesmo tempo), violência, crueldade e laços de amizade, lealdade e carinho. Vaughn conta que se tornou fã da primeira temporada e procurou Pizzolatto para sondá-lo para um novo projeto de cinema, o policial "Term Life". "Acabamos não fazendo o filme juntos, mas ele me ofereceu o papel de Semyon", diz Vaughn. "Acho que foi uma troca excelente – é muito bom mudar o ritmo do trabalho. E é ótimo ter material deste nível para explorar essa área do drama de crime."
 
A amizade entre Semyon e Velcoro é um dos alicerces desta segunda temporada de "True Detective". "É muito interessante explorar o relacionamento entre dois homens com visões opostas do mundo e, aos mesmo tempo, tanta coisa em comum", diz Vaughn. "Os dois têm certeza absoluta de que o mundo é podre. Mas um – Velcoro – ainda está desconfortável com isso, lutando contra a ideia. E o meu Semyon está perfeitamente à vontade nessa podridão."      
 
Divulgação
Cadáver sem olhos é encontrado à beira da estrada em "True Detective"
"Obsessão por detetives"
Pizzolatto diz ter uma "obsessão por detetives" porque eles são "guardiões de nossos segredos". "Como poucas pessoas na nossa sociedade, ele têm acesso a todos os aspectos de nossa vida, todas as classes. Circula tanto nas camadas mais humildes quanto na mais alta sociedade, sem impedimento. E, pela própria natureza de seu trabalho, pelo seu treinamento, pela metologia, ele busca respostas claras, certeiras, além das questões sociais ou psicológicas. É um tipo realmente obsessivo, que, se sua obsessão funciona bem, descobre todas as coisas mais ocultas. Como não ser fascinado por isso?", analisa o criador da série.
 
Divulgação
Vince Vaughn é Frank Semyon
O nome "True Detective" é inspirado pela revista americana do mesmo nome, que circulou nos Estados Unidos e Canadá entre 1924 e 1995 com um conteúdo de histórias teoricamente inspiradas por crimes verdadeiros, do tipo quanto mais sangrento melhor. Pizzolato reinterpretou o formato para a HBO com enorme sucesso. A primeira temporada, no ar entre janeiro e março de 2014, foi vista em média por 2,33 milhões de espectadores, um número mais que respeitável para um canal premium por assinatura. A reação da crítica foi maciçamente favorável, e "True Detective" recebeu uma enxurrada de indicações aos prêmios, levando para casa cinco Emmys e um BAFTA.
 
É claro que, com tudo isso, a expectativa é imensa para a segunda temporada, que estreia na HBO no domingo. "Eu procuro não pensar nisso quando estou criando", diz Pizzolatto. "O mundo da série precisa ser íntegro em si mesmo, e para isso não posso me preocupar com fatores externos." A primeira temporada se passava na região costeira do estado de Louisiana, onde Pizzolatto nasceu e cresceu (e onde o Estado oferece generosos incentivos fiscais para produção audiovisual). A segunda tem como cenário o sul da Califórnia, onde ele mora há cinco anos. "Eu acho a Califórnia inspiradora, uma mistura de fantasia, desejo, reinvenção", diz Pizzolatto. "Sou fã do noir ensolarado". 
 

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