Para jurada do "MasterChef", quem quer ser chef não entra em reality show

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

  • Reinaldo Canato/UOL

    Paola Carosella é considerada uma das mais exigentes nos bastidores do "MasterChef"

    Paola Carosella é considerada uma das mais exigentes nos bastidores do "MasterChef"

À frente de 60 funcionários que se dividem entre seus dois restaurantes em São Paulo – Arturito e La Guapa Empanadas –, a jurada da versão brasileira do "MasterChef", Paola Carosella, 42 anos, enxerga-se mais como uma professora do que como uma chef de cozinha. Exigente, a argentina defende a rigidez com a qual ela e os colegas de programa, Erick Jacquin e Henrique Fogaça, tratam os concorrentes e diz não ver nenhum participante do reality como a grande descoberta da gastronomia brasileira.

"Se alguém realmente sente que vai ser a 'grande revelação', não vai para um reality show. Vai trabalhar em um restaurante de verdade, se dedicar à gastronomia. Quem vai para um reality show é 'carne' de reality show", disse Paola em entrevista ao UOL.

"São pessoas [candidatos] que gostam de cozinhar, veem a chance de mudar de vida, mas não são as próximas revelações. O Hamilton [Carvalho, piloto de helicóptero da polícia no Distrito Federal], por exemplo, pode pegar os R$ 150 mil e colocar a família inteira para trabalhar em um food truck. O cara vai mudar de vida ou talvez preparar sua aposentadoria. Mas será a próxima revelação da gastronomia brasileira? Não", concluiu.

"Não podia ser bonita, tinha que ser tão cozinheira como os caras" 

Reprodução/Instagram/PaolaCarosella
Paola e o namorado, o fotógrafo inglês Jason Lowe. "A vida com você é mágica. Te amo. Obrigada por mudar a minha vida", escreveu a chef de cozinha na legenda da imagem publicada em seu Instagram

Maquiagem, cabelos esvoaçantes, vestidos, saltos e o status de musa. Termos pouco usuais no universo de Paola, mas que se tornaram mais comuns desde o início da segunda temporada do "MasterChef". Discreta, a mãe da Francesca, 4 anos, não costuma andar com roupas chamativas e estranha quando recebe elogios relacionados a sua beleza física. Isso porque durante um bom tempo, além de não se achar atraente, precisou se "masculinizar" para obter respeito entre seus pares.

"Na cozinha, a gente não anda de cabelo solto, maquiada e ouvindo Beyoncé. Sempre me considerei uma mulher feia, muito alta... Hoje, vejo que tenho uma beleza particular e gosto dela, de mim. Comecei a trabalhar na cozinha aos 18 anos e nessa época não tinha mulheres na cozinha. Precisava demonstrar que era tão macho como os machos. Nunca pus nem tempo, nem energia na minha parte estética. Não podia ser bonita, porque tinha que ser tão cozinheira como os caras", contou ela, que viu sua vaidade se aflorar diante das câmeras.

"Se você está na TV, tem que ser carne de TV, tem que estar bonita. Não posso falar: 'Vou me vestir como se estivesse no Arturito'. Sugerem macacão e falo: 'Sim, não usaria muito isso, mas tudo bem [risos]. Antes ninguém olhava para mim nas ruas. Acho engraçado [comentários sobre o fato de ser musa], a televisão coloca todo mundo em um pedestal".

Encarando a segunda temporada do reality, ela diz que já se sente mais à vontade na frente das câmeras. "Estou mais natural do que na primeira temporada, aprendi como funciona", diz a chef, deixando claro que não faz tipos para 'apimentar' a edição. "Não somos atores, não temos como interpretar personagens". 

Com 24 anos de experiência e ciente das dificuldades do mercado, Paola não aceita "mimimi" e não acha correto quem classifica os jurados como insensíveis.

Divulgação
"Se alguém realmente sente que vai ser a 'grande revelação' não vai para um reality show, vai trabalhar em um restaurante de verdade, se dedicar à gastronomia. Quem vai para um reality show é 'carne' de reality show", afirma a chef Paola Carosella

"Quando alguém fala que somos perversos fico preocupada, não por achar que estou sendo, sei que não sou. Mas me preocupa muito com o que consideram perverso, o que consideram exigência... Essas pessoas que nos consideram cruéis dariam uma oportunidade dessas para qualquer um?".

"É uma responsabilidade entregar um prêmio desse ('MasterChef'). Você vai dar para qualquer um ou para aquele que além de cozinhar bem, de ser respeitoso com os outros, de segurar a onda, a pressão e ter uma linguagem própria, não apenas copia receita de livros? Levo meu trabalho a sério, não estou nisso porque acho divertido fazer TV. Não daria o prêmio para qualquer um. Tem muito coitadíssimo neste país, isso me preocupa. Os participantes escolheram estar lá e já sabem a fórmula do programa", analisou a chef.

Trajetória

Adepta de comidas orgânicas, Paola nasceu na Argentina, cresceu rodeada de animais, cercada por mantimentos naturais e aprendeu com os avós maternos a importância de cada alimento. De origem humilde, a chef chegou a pagar para trabalhar, passou por cozinhas da França, dos EUA e de seu país de origem, e teve que lavar chão e muita louça, para alcançar o que almejava.

Reinaldo Canato/UOL
"Levo meu trabalho a sério, não estou nisso porque acho divertido fazer TV. Não daria o prêmio para qualquer um. Tem muito coitadíssimo nesse país, isso me preocupa. Os participantes escolheram estar lá e já sabem a fórmula do programa", Paola defende a rigidez com que ela e os colegas Erick Jacquin e Henrique Fogaça tratam os participantes

Com uma vida solitária, ela preferiu não se fazer de vítima, mas sorrir com as oportunidades e também com as broncas que a profissão lhe proporcionaram. "Não cheguei ontem. Dói ouvir: 'Coloquem um chef de verdade, tirem essa argentina daí'. Não sou a melhor de nada, nem quero ser. Sou boa e sei disso. Estudei, fui ajudante do ajudante por muito tempo, fui cobrada por um nível de excelência e exigência muito alto durante anos, li muito, trabalhei por horas e horas, sem folga, sem dormir. Minha vida não foi fácil. Perdi meus pais muito nova, com 27 anos [suspira] ... Mas na verdade não fui criada por eles. Minha mãe trabalhava muito e nunca estava comigo. Se ela parasse, parava a produção de dinheiro. Meu pai nunca esteve próximo", contou a cozinheira.

De olho no talento nato das pessoas, a própria trajetória fez com que seu lado tutora despertasse e ego ficasse de escanteio. Por isso é comum vê-la emocionada com alguns pratos servidos na competição da Band.

"Sou mais uma professora para os meus cozinheiros do que uma chef de cozinha. Faz parte das minhas características pessoais, gosto de formar equipes em que todos saibam o que estão fazendo e escolham fazer aquilo porque sabem que é melhor. É diferente de apenas dar uma ordem. Estar com os meus cozinheiros em um dia tranquilo, em que possa cozinhar, conversar. Estar dentro do restaurante me dá prazer. É emocionante ver alguém fazer uma coisa perfeita", declarou.


"MasterChef" 

Onde: Band

Quando: Terça-feira, às 22h30

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