Roberto Bolaños

Opinião: Gênio, Bolaños ultrapassou barreira do espaço e do tempo

Danilo Gentili*

Especial para o UOL

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    Fã de Bolaños, Danilo Gentili fala da importância de Chaves para o humor

    Fã de Bolaños, Danilo Gentili fala da importância de Chaves para o humor

O universo que Roberto Gómez Bolaños criou habita meu mundo lúdico desde a primeira vez que eu tive contato com a obra. É referência em tudo o que faço. E, na verdade, eu uso até hoje frases do seriado com meus amigos de infância quando nos vemos.

Eu tinha cinco anos na primeira vez em que assisti. No princípio quem decidia se passava Chaves ou Chapolim era a sorte. O Bozo girava a roleta. Se dava Chaves, assistíamos a um episódio da Vila. Se dava Chapolim, a um episódio do Polegar Vermelho.
 
Eu gosto de me gabar desse fato sem importância: eu asssiti à primeira vez em que um episódio do Chaves passou na televisão brasileira. Era o episódio da lagartixa e do estilingue. Chaves estreou por aqui com 15 anos de atraso. A atual geração está conhecendo sua obra com 40 anos de atraso. Percebe-se que, pra essa geração, tudo continua tão vivo como da primeira vez que eu vi. Não envelheceu nada: as piadas, a história, o conceito. Nem aqui, nem em toda a América Latina. Precisa ser um gênio pra criar algo que ultrapasse a barreira do espaço-tempo dessa forma. Ele conseguiu. 
 
O segredo que torna a obra de Bolaños universal e atemporal está enterrado um pouco mais fundo do que a maioria vê. O Chaves mesmo, essa história, não é sobre aquelas pessoas que vivem naquela determinada vila. É sobre pessoas que conhecemos muito bem. Conhecemos toda aquela gente e o que eles fazem, como pensam, como agem. Eles estão na nossa escola, na nossa rua, em nosso trabalho agindo daquela mesma maneira. 
 
A vila do Chaves é um lugar miserável habitado por pessoas gananciosas, invejosas, egoístas, preguiçosas, exibidas, violentas e vingativas, que, por falta de opção, dividem o mesmo pátio. Nenhum deles queria estar ali. Todos sonham com um lugar melhor. A realidade inegável da natureza desse mundo onde o maior oprime o menor acompanha a obra o tempo todo. 
 
A forma como buscam conviver com isso, também. Por que isso tudo torna essa ficção tão maravilhosa? Porque essa é a vida real. Essa série faz eu rir do lugar de onde eu vim. Do mundo que habito. Dos lugares em que passo todos os dias. Quando dou risada do Chaves, estou rindo de mim mesmo. 
 
Conhecemos poucas pessoas que conseguiram tornar a crueldade e a miséria do mundo tão divertidas. Roberto Gómez Bolaños faz parte desse seleto e invejável grupo. E eu sou feliz por ter crescido com essa referência.
 
* Danilo Gentili é humorista e apresentador do programa "The Noite" do SBT
 

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