"Fizemos tudo o que achávamos digno", diz Regina Casé sobre dançarino morto
Do UOL, em São Paulo
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Domingos Peixoto/Agência O Globo
Regina Casé, apresentadora do programa "Esquenta", da TV Globo, chora no velório do dançarino DG no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro
Após as acusações de Maria de Fátima da Silva -- mãe do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, que trabalhava no "Esquenta!" e foi encontrado morto em abril deste ano na comunidade Pavão-Pavãozinho, a apresentadora Regina Casé resolveu se manifestar por meio de um comunicado publicado em sua página no Facebook, nesta quarta-feira (26).
"Pensei muito se deveria voltar a esse assunto ou não. Mas é que nos últimos dias fiquei triste e perplexa acompanhando a repercussão gerada pelas palavras e acusações, muitas delas cruéis e injustas, de dona Maria de Fátima, mãe do DG. Fizemos tudo o que achávamos correto e digno. Quando fizemos um programa de despedida, foi de coração, recebemos todos os convidados desse dia com o mesmo cuidado de sempre. Talvez a única diferença tenha sido que a gente deu ainda mais atenção para dona Maria e sua família", escreveu ela.
Regina ainda defendeu sua trajetória ligada as camadas sociais desprivilegiadas. "A minha história sempre foi de luta contra o preconceito, a desigualdade e as injustiças sociais, mas ela sempre foi também de respeito a transparência e a verdade".
"É uma mentirosa", disse mãe
Durante um debate do evento Sernegra, que discutia, na última quinta-feira em Brasília, discriminação racial, a auxiliar de enfermagem afirmou ter sido impedida de fazer declarações contra a polícia em sua participação no programa que homenageou o dançarino, dias após o assassinato. A emissora de pronunciou a respeito, dizendo que as críticas não tinham fundamento. "A emissora entende a dor de dona Maria de Fátima, mas as afirmações não têm fundamento. Ela teve, e tem, todo o apoio da Globo e a solidariedade de Regina Casé e sua equipe", diz o comunicado.
No mesmo evento (o vídeo que mostra o momento na íntegra pode ser visto aqui), ela ainda chamou a apresentadora Regina Casé de mentirosa. "A mídia usou o tempo todo a imagem do meu filho. Setenta e duas horas [depois] da morte dele, houve um convite. Praticamente me arrancaram da minha casa, me levaram para a TV e limitaram o que eu devia falar", disse a auxiliar no debate, que também contou com a participação do deputado federal Jean Willys.
"Ela [Casé] disse para mim que eu só deveria responder o que eles me perguntassem", disse. Maria de Fátima ainda afirmou que ela e seus familiares, entre eles duas mulheres grávidas, foram "trancados" em um pequeno cômodo, de 3 m x 3 m, até o início das gravações.
"O único local que a gente podia circular era o salão de beleza. Foram me oferecer unha e cabelo. Eu estava 80 horas sem dormir. Eu ia querer unha e cabelo? Eu queria uma solução imediata que esclarecesse a morte do meu filho", reclamou a auxiliar de enfermagem. "A Regina Casé é uma farsa, uma artista, uma mentirosa. Mentirosa!", gritou a mãe do dançarino.
Fotos sensacionalistas
De acordo com ela, durante a sua participação na atração, "alguém" jogou uma suposta agenda do programa em sua bolsa, que trazia em uma página, escrita à mão, a frase "solta as fotos sensacionalistas, que é para a mãe chorar". "Em nenhum momento do programa vocês viram ela falar de violência da polícia, e quando eu ia falar, eu era cortada", afirmou.
A mãe do dançarino ainda disse que, em outra página dessa suposta agenda --cujo conteúdo ela prometeu revelar em redes sociais-- estaria registrado que Regina Casé "nunca quis fazer programa para pobre nem periferia", mas um "programa de vanguarda", que teria sido barrado pelo diretor J.B. de Oliveira, o Boninho. A auxiliar de enfermagem encerrou sua fala sendo muito aplaudida pela plateia, que passou a gritar: "O povo não é bobo! Abaixo a Rede Globo!".
O programa "Esquenta!" em homenagem a DG foi ao ar em 27 de abril. Neste domingo (23), a apresentadora não mencionou o assunto no "Esquenta!", mas, no início da atração, disse que chegou lá "triste e arrasada", sem revelar o motivo.