Mãe e amigos lembram Bacci como "garoto prodígio" e fã de Silvio Santos

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

Luiz Bacci, de 30 anos, despertava atenção de amigos e familiares em Mogi das Cruzes (SP), sua cidade natal, quando ainda era um garoto desinibido, orador da turma, imitador do Silvio Santos e que tinha o sonho de ser um grande comunicador. Segundo filho da professora Nádia Bacci com o ginecologista Luiz Carlos Bacci, o apresentador, que completa 20 anos de carreira e atualmente está à frente do "Tá na Tela", na Band, evidenciou o gosto pela área quando ainda estava aprendendo a falar.

"Quando ele tinha dois anos a paixão dele era segurar o microfone. Ele adorava. Desde bem cedo percebemos essa vontade dele", lembra Nádia, que com o pai eram seus principais incentivadores.

Arquivo pessoal
Nádia Bacci segura o filho, Luiz Bacci, no colo. Ao lado, a irmã do apresentador, Fernanda Bacci
O talento do filho caçula, que tem uma irmã quatro anos mais velha, começou a ser percebido por brincadeiras na infância. "Ele queria ter uma rádio na escola para falar nos intervalos sobre as provas e os acontecimentos em geral. Isso nunca foi permitido, mas o meu marido comprou uma caixa de som com microfone que começava a funcionar no prédio a partir das 8 da manhã", contou a professora ao UOL.

O menino era ouvinte das entrevistas do pai, que era convidado para falar de saúde em programas da rádio Diário de Mogi. Nádia conta que o apresentador do programa insistia para o pequeno Bacci visitar a rádio, mas ela torcia um pouco o nariz para a ideia.

"Sempre protelei muito, pois sabia que a hora que ele entrasse não iria mais sair. Essa vida nessa área de jornalismo é muito difícil. É muita responsabilidade. Quantos querem e quantos conseguem? Nunca me senti muito à vontade", admite.

O fato decisivo para Bacci engrenar de vez na carreira de radialista aconteceu quando ele tinha 11 anos de idade, depois de algumas participações nas quais narrava o que achava interessante do livro "Guia dos Curiosos" .

"A coisa ficou mais difícil quando ele pediu um horário para o dono da rádio. Estávamos em um restaurante e mostrei pra ele quem era o dono da rádio Diário. Ele não teve dúvida. Foi até o homem e falou que queria muito ter um programa. O Spartaco [atualmente diretor de redação do jornal Diário de Mogi] disse para ele levar um projeto para ser analisado. Eu falei, 'Esse cara enlouqueceu para dar um microfone a um menino de 11 anos'", compartilha a mãe.

Em pouco tempo, o garoto prodígio conquistou o respeito de seus colegas de trabalho e ganhou o seu primeiro programa, que ia ao ar aos domingos de manhã, no qual ele realizava entrevistas com personalidades de destaque no cenário político e da atualidade, como o jornalista Heródoto Barbeiro. Os pais estavam sempre ao seu lado.

"Ficávamos atendendo telefone. Tinha o sorteio de um brinde no final do programa e de uma assinatura do jornal, então choviam telefonemas", afirma.  "Ele ia sem salário, sem ganhar um tostão. Era só a experiência, o maior valor que ele recebeu em tudo isso", completa.

Atualmente na área de diretoria de ensino, ela diz que o filho realizava todas as pautas do programa e, mesmo com tanto trabalho, garante que os estudos não eram deixados de lado. "Sou professora e sempre achei que ele tinha responsabilidade desde pequeno. O que acontecia, no máximo, era ele não fazer a prova no dia se tivesse algum programa, mas depois ele fazia. Bacci sempre foi um bom aluno e suas notas eram razoáveis", diz orgulhosa.  

Darwin Valente, editor-chefe do Diário de Mogi, supervisionava a extinta rádio, que ficava no andar de cima da redação do jornal. "Ele era uma criança, mas já tinha uma desenvoltura que era impressionante. Ele chamava e eu ajudava, mas ele jamais perdia a pose. Ele tinha a cara de rádio. Era ágil. Tínhamos certeza que dali sairia um grande comunicador", aponta.

Reprodução
Bacci participa do "Jô Soares Onze e Meia", no SBT, e troca de lugar com o apresentador
Segundo o jornalista, um dos momentos mais marcantes da carreira de Bacci foi quando ele participou do programa do Jô Soares, no SBT. "Lá aconteceu uma coisa muito interessante. Eles trocaram de lugar e o Jô tentou dar uma volta nele, mas que nada, ele deu um show como se fosse o dono do programa! Daí pra frente a coisa se consolidou", afirma.

Após sair da rádio Diário, Bacci trabalhou na rádio Metropolitana e depois ingressou, aos 18 anos, na TV Diário, retransmissora da TV Globo. No canal ele teve o seu primeiro programa com plateia, antes de passar pelas principais emissoras do país, na extinta Manchete, SBT, Record e agora na Band.

"O que mais me chamava atenção era a veia artística que ele tinha com o jornalismo. Fazia as pessoas rirem e se comoverem. O dom que sempre teve no rádio ele conseguiu levar para a TV, de fazer aquele suspense e prender as pessoas nos programas", destaca a jornalista Marilei Schiavi, que trabalhou como repórter de Bacci aos 25 anos quando ele ainda era adolescente na rádio Metropolitana. Chamada por Bacci de "Percival de Saia", em menção Percival de Souza, hoje ela comenta as notícias do "Tá na Tela".

Ela diz que o talento promissor do Menino de Ouro incomodava muitos profissionais na época da rádio Metropolitana e da TV Diário. "Com 17 anos, ele virou diretor artístico. As pessoas tinham muito medo de ele tomar o emprego delas. Quem não tem competência não se estabelece. Pensavam 'ele vai pegar meu lugar'", recorda-se.

Morte do pai e o "verdadeiro parto"

Arquivo pessoal
Luiz Bacci com o pai, o médico Luiz Carlos Bacci, o maior incentivador de sua carreira
A morte do pai ocasionada por um enfarte fulminante foi o pior momento na vida do jornalista, que declara detestar cigarro, entre outros motivos, por seu maior ídolo ter sofrido a morte súbita provavelmente em virtude de ter sido fumante.

"O pai foi seu grande incentivador. Foi quem pegou ele pela mão e disse: ' Filho, você tem um sonho? Eu vou com você em busca desse sonho'. Era uma pessoa fantástica, muito querida e que morreu muito cedo", diz Marilei. "Foi muito doloroso, pois era o companheirão dele. Quando ele recebeu o convite do SBT uma semana após a morte do pai, ele me falou: 'meu pai está trabalhando lá em cima'", conta a mãe.

A mudança para São Paulo é citada por Nádia como um parto, difícil, mas necessária: "Esse foi o verdadeiro parto, o que cortou o cordão umbilical. Você não cria os filhos para você, mas para o mundo. A dor não supera a felicidade".

Substituto do Silvio Santos?

Luiz Bacci realizou o sonho de trabalhar para Silvio Santos e conseguiu até a bênção do ex-patrão para a sua estreia na Band. Apesar de não dividirem mais a tela da mesma emissora, o editor Darwin Valente aposta que os destinos dos dois apresentadores ainda vão se cruzar novamente.

"Ele é um grande profissional que vai fazer coisas ainda muito mais surpreendentes. Ele vai atingir a meta de fazer um programa de variedades em uma grande emissora de TV. Bacci é o cara para substituir o Silvio quando ele se aposentar. Acho que esse é o sonho dele também (risos)", diz lançando um palpite. 

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos