"Os velhos comandam, tem muito jovem imitando a gente", diz Raul Gil

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

Na televisão há 52 anos, Raul Gil, que começou sua carreira como calouro até se tornar cantor de boleros, gravar oito discos e virar apresentador, teme pelo futuro dos programas de auditório e diz que os veteranos são insubstituíveis. Aos 76 anos, ele que já passou pelas emissoras Record, TV Paulista, TV Excelsior, Band e SBT – onde está atualmente  – afirma ser difícil se reinventar a cada semana e assume que o assédio das emissoras diminuiu.

"Não tem mais assédio. Tem uns diretores jovens aí que ficam falando que estou velho, mas são os velhos que estão comandando. O Silvio Santos todo domingo ganha da Globo. Não tem esse negócio de velho, o que tem é competência, qualidade e conhecimento. Não adianta falar que o cara está velho, porque tem muito jovem imitando a gente", declarou Raul, sem citar nomes, em entrevista exclusiva ao UOL, durante gravação de seu programa, nos estúdios do SBT, em Osasco, na Grande São Paulo. 

Após revelar talentos como as bandas Titãs, Ultraje a Rigor, a dançarina Gretchen e a menina Maisinha, Raul confessa estar apreensivo com seu destino na televisão. "É difícil prever o futuro da TV, com a internet. A audiência da TV não é mais a mesma. O 'Fantástico' que dava 40 pontos no Ibope, hoje para dar 17 precisa suar. Eu que dava pico de 31 na Record, se der oito, nove pontos, me dou por feliz. Tudo isso assusta a gente, esse negócio da internet. A forma é se adaptar a essa linguagem", afirmou o apresentador, que recebe o patrocínio de uma empresa de produtos de limpeza para divulgar seu show de calouros "Mulheres que Brilham". 

Rodrigo Capote/UOL
"Nunca briguei com ninguém e deixei as portas abertas em todas as emissoras pelas quais eu passei", afirma Raul Gil

Irritado com as cópias de seus quadros, principalmente do célebre "Para Quem Você Tira o Chapéu", Raul critica as produções brasileiras e, ao lado de seu filho Raulzinho, que também é diretor do programa, tenta promover alguma atração que chame a atenção do público. Exibido aos sábados, o "Programa Raul Gil" tem alcançado em média cinco pontos no Ibope e possui cerca de cinco patrocinadores.

"Faço os quadros e as outras produções ficam copiando. Isso é falta de competência. Não me incomoda que façam imitações dos meus quadros, mas isso esvazia o meu programa, meus quadros. Parei com o 'chapéu', porque é tanta coisa igual. Por exemplo, 'para quem você quebra a louça', 'para quem você dá um pontapé', é tudo igual ao chapéu", criticou Raul sem citar o nome dos concorrentes.

Atualmente, o "Domingo da Gente", da Record, exibe o quadro "Para Quem Você Chuta no Gol e Para Quem Você Chuta para Fora". O programa "Mulheres", da TV Gazeta, também tem o quadro "Quebrando a Louça", que é semelhante ao criado por Raul Gil.

"Não acredito em substituição"

Rodrigo Capote/UOL
"Tenho mania de beijar as pessoas e uma vez dei quatro beijos na Kelly Key e o Mion pegou essa imagem e colocou no programa dele, dizendo que eu era um 'velho safado', 'sem vergonha' e 'aproveitador'. Fiquei magoado, ia processar, mas meus filhos falaram para eu não ligar. É chato, faço programa de família, as crianças me chamam de vô Raul e o cara me chama de 'safado'"

Raul ainda prefere acreditar que os veteranos são insubstituíveis, embora reconheça o talento de apresentadores como Luiz Bacci, Celso Portiolli e Rodrigo Faro. "Não acredito em substituição. A Hebe [Camargo] morreu e vai ser difícil alguém substituí-la. Assim como vai ser difícil aparecer um novo Chico Anysio. Os novos apresentadores imitam o nosso jeito de apresentar", analisou.

"Mas tem uma porção de bons apresentadores novos sim. O 'menino de ouro' [Luiz Bacci] tem condições de ser um bom apresentador. Ele é bonito, mas tem que cair nas graças do público. Tem o Faro que é bom, tem o Portiolli, o Danilo Gentili, que é uma promessa. Ele tem tudo para apresentar um programa. O Geraldo Luís também, apesar dele ter um lado policial", completou o apresentador. 

Apesar da dificuldade para emplacar novidades e trazer nomes de peso como Ivete Sangalo, Fábio Jr. e Dinho Ouro Preto – "Vê se um deles vem no meu programa. Não vem, só vão na Globo. Ninguém fala não para Globo", comenta –,  o apresentador se considera um homem reconhecido e amado pelo público "família", como gosta de ressaltar. "Tenho sorte, e talvez seja o meu jeito família e o fato de eu falar muito em Deus que me mantenham na TV. Estou no ar desde da década de 60. Os idosos que assistem ao meu programa incentivam os jovens a verem também. Dou muita chance para cantor, compositor, bailarinos", ressalta o apresentador, que mantém contato com a maioria dos talentos revelados em seu programa. 

Faço os quadros e as outras produções ficam copiando. Isso é falta de competência. Não me incomoda que façam imitações dos meus quadros, mas isso esvazia o meu programa desabafa Raul Gil

Nos bastidores, o clima é familiar. O programa é dirigido por seu filho e conta com a assistência de sua assessora pessoal, Neide, para animar a plateia, além dos "pitacos" da nora, que organiza as calouras do quadro "Mulheres que Brilham". Raul entoa alguns versos de boleros durante os intervalos, tenta ganhar a atenção da plateia, que no dia estava repleta de jovens, e aguarda as ordens de Raulzinho, além de questionar algumas propostas do filho. 

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