Michael J. Fox ri da própria doença em série que estreia segunda no Brasil
James Cimino
Do UOL, em Nova York
Michael J. Fox, estrela da trilogia "De Volta para o Futuro" que no ano 2000 foi diagnosticado com mal de Parkinson, uma doença degenerativa que destrói as funções motoras, está de volta à TV com um programa no mínimo ousado.
"The Michael J. Fox Show" é uma comédia familiar que mostra o dia a dia de Mike Henry, um ex-âncora da rede NBC que abandonou a carreira devido à doença, mas que resolve voltar à ativa devido à pressão do ex-chefe, interpretado pelo ator Wendell Pierce. O programa estreia nesta segunda (4), às 20h, no canal pago Comedy Central.
Eu jamais poderia fazer um reality show! Muito esquisito! Eu não sou uma Kardashian!
As semelhanças com a vida real não são coincidência. No ano 2000, Fox anunciou ao vivo que abandonaria a comédia "Spin City", da qual era protagonista e que havia lhe rendido seis prêmios, por conta do Parkinson.
Neste meio tempo, escreveu três livros sobre o assunto, criou uma fundação para pesquisa e tratamento da doença, fez algumas dublagens e participações especiais em outras séries. A luta lhe rendeu a reputação de herói americano. Por isso, quando ofereceu à rede americana NBC a ideia do programa, nem precisou apresentar um episódio piloto. Ganhou uma primeira temporada com 22 episódios em que contracena com Betsy Brandt (a Marie da série "Breaking Bad") emulando situações que ele vive com a família cotidianamente.
Nesta quinta (31), Fox recebeu um grupo de jornalistas para uma entrevista coletiva nos estúdios da Silvercup, em Nova York, local onde já foram gravados sucessos como "Sex and the City" e "30 Rock".
Durante a conversa, fez piadas, trocou de cadeira, interrompeu a entrevista para ir ao banheiro, pediu o contato do ator Paulo José ao saber que ele também retratará sua experiência com Parkinson na próxima novela das nove da Globo e explicou por que resolveu tratar do assunto por meio da comédia em vez de fazer um reality show. "Eu jamais poderia fazer um reality show! Muito esquisito! Eu não sou uma Kardashian!" Leia a entrevista:
UOL - Como está sendo para você voltar à ativa?
Michael J. Fox - É muito bom! Eu tinha me esquecido de como era, mas estamos com um elenco ótimo. Eu ajudei a escolhê-los. Acho importante trabalhar com pessoas com quem você pode conviver por seis ou sete meses do ano e potencialmente mais oito a dez anos. E já gravamos 15 episódios. As crianças são ótimas e talentosas. E a Betsy é incrível! O programa devia se chamar "The Betsy Brandt Show"!
A NBC te deu 22 episódios sem nem você ter que apresentar um piloto. Como isso aconteceu?
É uma sensação contraditória para mim, porque você nunca sabe o que vai acontecer com o programa, mas eles têm confiança na gente, nos produtores e eles gostaram da história. Especialmente porque eu vivo um âncora e não um ator. E nos Estados Unidos um âncora tem muito carisma com sua comunidade.
Por que você optou pela comédia para falar de sua condição e não um documentário ou um reality show, como talvez fosse a opção mais óbvia nos dias de hoje?
Eu jamais poderia fazer um reality show! Muito esquisito! Eu não sou uma Kardashian! Minha filha mais nova adora elas, inclusive... Mas eu estava fazendo coisas como "The Good Wife" e "Curb Your Enthusiasm" e comecei a pensar que eu poderia encontrar um jeito de fazer aquilo de novo. Então procurei os produtores e eles compraram a ideia, leram meus livros e achamos que seria legal falar da minha experiência sem auto piedade.
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Na comédia, Michael contracena com Betsy Brandt, a Marie da série "Breaking Bad"
Você que escreve as piadas sobre o mal de Parkinson?
Na verdade não. A intenção não é exatamente fazer piada, mas mostrar uma situação cotidiana semelhante a que passo com minha família. É um programa para a família. Nos primeiros episódios a gente teve que falar mais sobre isso, até para apresentar as situações. Mas se você começa a olhar a coisa de perto, em algum momento o Parkinson vai se tornar uma coisa engraçada. Então você não vai se sentir mal por rir daquilo. É uma oportunidade de mostrar como pessoas com alguma disfunção lidam com aquilo. E no meu caso é rir da situação. É não tentar esconder nem tampouco negar. Então se você acha que eu estou sendo insensível ou cruel, eu digo: não estou. Eu estou sendo realista com a situação.
Na série, é o ex-chefe do Mike quem o incentiva a voltar à TV. Na vida real, quem foi que te incentivou?
Eu mesmo. Eu apenas estava trabalhando com outros atores e diretores e estava adorando. Então pensei: ora, por que eu não posso fazer esse programa? Levanta essa bunda e vai trabalhar! Escolhi ser feliz e fui em frente.
Seu personagem em "The Good Wife", o Louis, era um cara que não se importava muito em mexer com dinheiro sujo e conseguir o que queria. Por que você decidiu que o Mike seria um personagem legal nessa nova série?
Bom, é meio fácil interpretar o cara bonzinho. Quando penso no Louis, eu o imagino tendo prazer no que faz. Fora isso eu adoro a ideia de que uma pessoa com deficiência também possa ser uma "cuzona".
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O brasileiro Paulo José também retratará sua experiência com Parkinson na próxima novela das nove da Globo
Você pensa no que vai fazer no futuro? Talvez um filme ou outro programa de TV?
Não, não. Deus, não! Eu posso me dar por satisfeito por já ter tido essa oportunidade de voltar. Isso é incrível. Eu não quero mais fazer cinema. Me incomoda pensar em ser filmado tão grande e tão de perto. TVs de 50 polegadas para mim já está bom!
No Brasil temos um ator, Paulo José, que também sofre de Parkinson e que vai interpretar um papel semelhante na próxima novela, só que será um papel dramático. Você acha mais eficiente o drama ou a comédia para tratar desse tipo de assunto?
Acho as duas formas incríveis! E fico muito feliz de saber disso! Eu acho que tudo que aproxima o público bom. Seja o dramático, mostrando o lado sombrio das coisas, mostrando o ser humano lidando com seus problemas. Porque no fundo não se trata de falar sobre alguém lidando com o mal de Parkinson apenas, mas de alguém lidando com um problema. E todos nós temos os nossos problemas. É muito importante. E o melhor que nós da indústria do entretenimento temos a fazer é usar nosso trabalho para refletir sobre a condição humana. Eu aprecio muito o que ele vai fazer. Ele é muito corajoso! Será uma nova batalha e de cabeça erguida.
Você toparia fazer um remake de "De Volta para o Futuro"?
Qualquer que fosse o remake de "De Volta para o Futuro", certamente não faria o Marty McFly. Talvez o pai, o avô... Talvez até o doutor... (Risos).