Série "Prófugos" chega à 2ª temporada com história de "Carandiru chileno"

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/HBO

    13.set.2013 - Luis Gnecco (Mario Moreno), Néstor Cantillana (Vicente Ferragut) e Benjamín Vicuña (Álvaro Parraguez) são os protagonistas da série chilena "Prófugos"

    13.set.2013 - Luis Gnecco (Mario Moreno), Néstor Cantillana (Vicente Ferragut) e Benjamín Vicuña (Álvaro Parraguez) são os protagonistas da série chilena "Prófugos"

"No Chile há esse cinismo de que o país é seguro. As pessoas costumam dizer: 'isso não acontece no Chile', mas aconteceu." Com esta declaração, o diretor Pablo Larraín, da série "Prófugos" (Fugitivos, em tradução livre), tenta desmistificar a aura fantástica da cena de fuga que encerra o primeiro episódio da segunda temporada.

Na sequência, que vai ao ar a partir deste domingo (15) às 22h no canal pago HBO, um incêndio criminoso é usado literalmente com cortina de fumaça para encobrir a fuga de dois dos protagonistas da série, que escapam de helicóptero. Em meio à confusão, 64 presos acabam morrendo e o presidente chileno tem de encarar o desgaste político que pode lhe custar a reeleição.

Segundo Larraín, a cena foi inspirada em dois casos reais. O primeiro aconteceu no dia 8 de dezembro de 2010, quando um incêndio no presídio de San Miguel (a cerca de 300 km da capital Santiago) matou 81 detentos.

O segundo caso lembra a fuga do traficante Escadinha ocorrida em 1986, no Instituto Penal Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Só que dez anos depois, no Chile, na véspera do ano novo de 1997, quatro terroristas foram resgatados por um helicóptero alugado para fins turísticos em meio a um tiroteio. Na época, a história já era chamada pela imprensa local de "cinematográfica". "A diferença é que [em San Miguel] ninguém abriu as portas e os prisioneiros morreram. Eu vejo também alguns traços de semelhança com o que aconteceu no Carandiru. Se bem que, pensando bem. 'Prófugos' é um passeio no parque comparado com o que ocorre nos presídio de São Paulo", disse o diretor.

Com sequências de ação gravadas em locações inóspitas como o deserto do Atacama e as gélidas terras do sul chileno, "Prófugos" é mais uma das séries de sucesso que têm como enredo principal o tráfico de drogas, como as premiadas "Weeds" e "Breaking Bad".

"É um negócio sem precedentes. Queremos mostrar algo que tenha elementos dramáticos fortes", diz o Larraín para explicar por que o assunto desperta interesse tanto das produtoras quanto de telespectadores. "A TV está contando histórias reais."

Vingança e Pinochet

A primeira temporada de "Prófugos", que foi indicada a diversos prêmios no Festival de Televisão de Monte Carlo, mostra Vicente Ferragut (Néstor Cantillana), o herdeiro de um cartel de drogas que quer apenas ser veterinário, mas acaba na cadeia devido a uma traição.

"O desafio na primeira temporada era mostrar que Vicente não queria estar onde estava. Após a traição, vemos um tipo que está disposto a tudo e está conduzido por um sentimento de vingança", conta Cantillana.

Ele relatou, durante lançamento da série em São Paulo, que em muitas cenas não precisou atuar. "Em cenas de ação, a 4.000 metros de altitude, no deserto do Atacama, não é necessário atuar. A própria natureza te modifica. A gente tinha que parar para respirar em balões de oxigênio de tempos em tempos. O mesmo aconteceu no sul do país, com aquele frio de matar."

A série também faz referências ao período em que o país esteve sob a ditadura do general Pinochet. Elas aparecem na figura do personagem Mario Moreno, interpretado pelo ator de novelas Luis Gnecco.

Em um português quase impecável, Gnecco explica que Moreno é um "saudosista da era Pinochet" e diz que há uma frase do personagem que esclarece suas preferências políticas. "Ele representa todo aquele mundo da polícia repressiva. Por isso ele diz em uma cena: 'Antes eu preferia um general, hoje prefiro um rei. A democracia é um fantasma'."

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