Flip 2013

"Estamos em uma ditadura da intolerância", diz autor de "Saramandaia" na Flip

Mirella Nascimento

Do UOL, em Paraty (RJ)

  • Mirella Nascimento/UOL

    5.jul.2013 - Lima Duarte, José Wilker, Ricardo Linhares e o jornalista Edney Silvestre falam de "Saramandaia" em evento paralelo da Flip 2013

    5.jul.2013 - Lima Duarte, José Wilker, Ricardo Linhares e o jornalista Edney Silvestre falam de "Saramandaia" em evento paralelo da Flip 2013

Ricardo Linhares encarou o desafio de escrever uma nova versão da novela "Saramandaia", de Dias Gomes, com liberdade de recontá-la do seu jeito. Incluiu novos personagens, tirou a crítica à ditadura militar, criou novos diálogos e um novo cenário.

Além de trazer o romance dos personagens de Lilia Cabral e José Mayer, que não existiam na primeira versão, o autor buscou destacar nos tipos mais excêntricos-- o homem com asas, o lobisomem, a gorda que come até explodir-- diferentes formas de preconceito e de bullying.

"Não estamos mais em uma ditadura. Nunca mais teremos uma ditadura militar no Brasil. Mas estamos em uma ditadura da intolerância", disse Linhares durante o evento "Dias Gomes e o Realismo Fantástico em Saramandaia", que fez parte da programação paralela à Festa Literária Internacional de Paraty (RJ) na tarde desta sexta-feira (5).

A personagem Dona Redonda (Vera Holtz, que pediu ao autor para ficar com o papel), que na versão original explodia logo nos primeiros capítulos, ganhou uma história maior na trama.

"É uma personagem mau caráter, que critica todo mundo e é incapaz de se olhar criticamente. Quando João Gibão prevê que ela vai explodir e todos ficam com medo de quando isso vai acontecer, ela passa a sofrer na pele o que fazia com os outros", destacou o autor.

A espinha dorsal da história contada por Linhares é a briga entre as  famílias Rosado e Vilar, que também não existia na versão original. "Criei essa disputa e um arco romântico que não tinha. Dias Gomes encarou a censura de comportamentos. Naquela época, não podia mostrar um romance adúltero na televisão, por exemplo".

Momento político

A nova "Saramandaia" estreou na semana que registrou a maior onda de protestos pelo país com a cena de uma manifestação em que os moradores de Bole-Bole pedem que a cidade passe a se chamar Saramandaia. Uma coincidência celebrada pelo autor.

"Eu achava que todo mundo ia me criticar por mostrar uma juventude politizada. Foi uma coincidência feliz, para novela e para o país", disse Linhares.

O ator José Wilker, outro convidado para o debate, classificou a criação de "Saramandaia" como "um ato de rebeldia" de Dias Gomes. "Não era a vontade do autor de criar um novo jeito de contar história, era uma vontade de esculhambar mesmo. 'Roque Santeiro' tinha acabado de ser censurada e ele quis provocar, ver o que iriam censurar agora".

Também participou do encontro o ator Lima Duarte, que contou histórias de bastidores de novelas como "Roque Santeiro" e "O Bem Amado". A conversa foi mediada pelo jornalista Edney Silvestre.

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