"Falavam que o CQC não era humor brasileiro", diz Diego Guebel, o argentino prodígio da Band

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

  • Fernando Donasci/UOL

    Diego Guebel, criador do "CQC", conta, em entrevista exclusiva ao UOL, como ganhou espaço na Band nos últimos quatro anos (11/04/12)

    Diego Guebel, criador do "CQC", conta, em entrevista exclusiva ao UOL, como ganhou espaço na Band nos últimos quatro anos (11/04/12)

Por muito tempo, o argentino Diego Guebel bateu às portas das principais emissoras do Brasil com uma proposta debaixo do braço: um programa que misturasse humor e jornalismo, chamado “CQC”. “Falavam que isso não era humor brasileiro”, relembra ao UOL o dono da produtora Eyeworks – Cuatro Cabeças.

Em 2008, a Band resolveu apostar na atração que agora é um dos carros chefes da emissora. Quatro anos depois, Guebel é o novo diretor geral de conteúdo do canal brasileiro, com salário estimado em mais de R$ 150 mil, e um cargo abaixo apenas da presidência e vice-presidência da Band.

Depois do “CQC”, sua produtora já emplacou no canal programas como “A Liga”, “Polícia 24 Horas”, “Agora É Tarde” e “Mulheres Ricas”. “Tem tanto argentino na Band, que só falta o Messi. Não é a Cuatro Cabezas que está na Band, são as oitenta cabeças”, brincou o apresentador José Luiz Datena, em uma entrevista recente.

Quando você não tem nada, você arrisca, sai correndo na rua, tenta fazer outras coisas

Diego Guebel, ao falar sobre a aposta da Band em formatos diferentes de programas

Para explicar como mudou a cara da Band nos últimos anos, Guebel recebeu o UOL na grande sala que ocupa na emissora, onde televisores transmitem programas da concorrência. “Se você é o número 1, você fica conservador”, diz, referindo-se à TV Globo, líder de audiência nacional. “Quando você não tem nada, você arrisca, sai correndo na rua, tenta fazer outras coisas. Se você é milionário, tem que se segurar. Eles querem conservar o que já têm. Nosso lugar é o lugar da luta. Temos que ficar atentos”, opina.

Com o sucesso da experiência do “CQC” no Brasil, Guebel acredita que a boa audiência é mais uma questão de ter certa inocência. “Não pensamos que uma coisa pode dar certo porque já funcionou antes. É impossível saber o que as pessoas querem ver. É a mesma coisa quando você vai a um restaurante. Nosso trabalho é oferecer para depois saber se o público responde ou não”.

Pânico na Band
O diretor reconhece, no entanto, que a experiência ajuda a minimizar as falhas e a afiar o olhar sobre o que pode dar certo ou não. E apostando nessa experiência, a Band não pensou duas vezes em convidar o programa “Pânico” para compor a grade de programação. “É como descobrir a pólvora. É um tipo de humor que já temos na Band e que estava num horário que aqui é fraco, o domingo à noite. É uma oportunidade que não dá para pensar porque o ‘Pânico’ já estava saindo da Rede TV!. Não acho que seja uma genialidade”, disse ele.

O "Pânico" já estava saindo da Rede TV!. Não acho que seja uma genialidade

Diego Guebel, sobre a contratação do humorístico comandado por Emílio Surita

No começo de março, Marcelo Carvalho, vice-presidente da Rede TV! disse que "foi pego de surpresa" com a saída do “Pânico”, no final de 2011, e que soube da "troca" pela Band através do noticiário.

Quando o humorístico da Rede TV! finalmente chegou à Band, surgiu a preocupação de que o Pânico pudesse enfraquecer a atração comandada por Marcelo Tas, por ter mais pontos de contato do que diferenças.

Para Guebel, porém, os conteúdos dos programas não entram em conflito. “Se funcionava bem com eles trabalhando em emissoras diferentes, não faz diferença nenhuma. Não acho que seja conflitivo, mesmo estando no mesmo lugar. Cada um tem um olhar diferente, uma abordagem diferente”, defende.

Sobre comentários de que haveria ciúmes entre os integrantes dos dois programas, ele acredita que é natural que isso aconteça. “Se isso acontece, eles não me falam. Mas acho que é natural. Tem coisas que o ‘CQC’ não gosta que o ‘Pânico’ faça, e vice versa”, afirmou.

Rafinha Bastos

Ele achava que era mais importante o que ele pensava do que o que o grupo pensava e em uma convivência, você tem que negociar

Diego Guebel, sobre a polêmica com Rafinha Bastos e a cantora Wanessa

Com a ida do Pânico para a Band, a Rede TV! contratou Rafinha Bastos, que deixou a Band após fazer uma piada com a cantora Wanessa, que estava grávida de seu primeiro filho. Em entrevista a Marília Gabriela, Rafinha disse que não pediria desculpas só por pressão da opinião pública. “Eu ia abrir um precedente horrível contra a minha profissão e o meu caráter. Eu estaria sendo falso se pedisse desculpas públicas naquele momento”, disse ele à apresentadora.

Na visão de Guebel, Rafinha pensou mais individualmente do que como parte de um grupo. “Ele achava que era mais importante o que ele pensava do que o que o grupo pensava e em uma convivência, você tem que negociar. No momento em que você acha que não dá para negociar, não dá para seguir.”

O diretor ainda contou que foi oferecida a oportunidade de Rafinha permanecer na “Liga”, mas o humorista não quis. “Eu pessoalmente não gostei da piada que ele fez, mas eu acho que isso não muda seus quatro anos de trabalho no ‘CQC’. Rafinha é um bom cara”, afirmou.

UOL Cursos Online

Todos os cursos