"Estou recomeçando a minha vida praticamente do zero", diz Datena, em nova fase profissional e pessoal

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

Uma semana após descobrir que estava na mira de sequestradores, o apresentador José Luiz Datena prepara-se para estrear, na próxima segunda (9), o seu novo programa na Band “Quem Fica em Pé?”, em horário nobre da televisão brasileira. Em entrevista exclusiva ao UOL, em um bar de São Paulo, Datena conta que a fase nova não se restringe apenas à profissional. O lado pessoal também está sendo revisto. Prestes a fazer 55 anos, com novo game-show, salário mais baixo e "menos apegado aos bens materiais", como se define, ele acredita estar recomeçando sua vida do zero.

Tem cheiro de ameaça de alguém poderoso. Acho que é alguém grandão que quer calar a minha boca.

Sobre quem pensaria em sequestrá-lo.

“Estou recomeçando a minha vida praticamente do zero. Se eu tiver que voltar a viver cada dia um dia, para mim, tanto faz”, disse. Sem mudar nada em sua rotina e dispensar seguranças, Datena afirma que quem comanda um programa policial e fala abertamente sobre os problemas políticos e sociais do Brasil corre grandes riscos. “É evidente que quando você fala sobre pessoas poderosas, você mexe em um ninho de vespas porque os caras reagem. Gente tentando tolher a sua liberdade de falar, político não querendo que você fale dos caras. Se eu saísse do ‘Brasil Urgente’, eu não iria mais incomodá-los.”

Na noite do dia 28 de março, Datena poderia ter sido sequestrado, caso a Polícia Militar não descobrisse os planos dos bandidos antecipadamente. Para o apresentador, quem tinha esses planos não eram qualquer um. “Tem cheiro de ameaça de alguém poderoso. Acho que é alguém grandão que quer calar a minha boca. E, comigo funciona proporcionalmente ao contrário”.

Mesmo trabalhando em mais um programa, Datena disse que se fosse sequestrado não conseguiria pagar o resgate. Segundo ele, o que recebe da Band atualmente é metade do que recebia na Record.

Em 2011, Datena recebeu proposta milionária da Record e foi para a emissora, mas ele conta que não aguentou ser impedido de dar entrevistas e nem a pressão por audiência. Após quase dois meses, ele voltou para a Band, mas teve que pagar multa rescisória de R$ 50 milhões a Record.

Já cheguei a ganhar muita grana. Hoje ganho um salário razoável e é metade do que eu ganhava. Perdi quase tudo. Mas eu tenho a minha casa para morar, tenho um lugar para ir e descansar.

José Luiz Datena sobre suas finanças


 A emissora está cobrando dele R$ 30 milhões pela rescisão do seu contrato em 2003.

“Eu não tenho mais dinheiro. Eu já fiz tanto negócio errado, mudança de emissora e tal. Para se ter uma ideia, eu perdi metade do meu salário nessa última troca que eu fui para a Record e voltei para a Band. Não tenho grana para pagar o resgate”.

Datena contou que também  perdeu metade de seus bens e que chegou a ter sete carros, mas minimiza dizendo que faz parte do ciclo natural da vida e do recomeço de sua nova fase. “Já cheguei a ganhar muita grana. Hoje ganho um salário razoável e é metade do que eu ganhava. Perdi metade do que tinha, quase tudo. Mas eu tenho a minha casa para morar, tenho um lugar para ir e descansar”.

Divulgação/Band
Eu estou muito de saco cheio de fazer programa policial. Estou tratando o programa como um programa para me divertir

Sobre o programa, "Quem Fica em Pé"

O programa e a Band
“Quem Fica em Pé?” faz parte da nova fase do apresentador. O programa é um jogo de perguntas e respostas sobre conhecimentos gerais em que um concorrente enfrenta outros dez. Quem é eliminado cai direto em um buraco. O game show vai ao ar às segundas, terças e quintas, às 21h20.

A frente do "Brasil Urgente" desde 2003 e com um programa rádio, "Manhã Bandeirantes", diário, Datena está estreando na área de entretenimento. “Eu estou muito de saco cheio de fazer programa policial. Estou tratando o programa como um programa para me divertir”.
Datena também tem vontade de apresentar um talk show e cita um programa no estilo do  "Domingão do Faustão", com auditório e entrevistas, como um possível projeto.


Sob nova direção
A Band passou, no início do ano, por uma mudança na sua direção. O novo diretor artístico e de programação é o argentino Diego Guebel, da Eyeworks-Cuatro Cabezas.

Tem tanto argentino na Band, que só falta o Messi

Sobre nova direção da Band

Na opinião de Datena, a Band está acertando na nova programação e tem tudo para ter programas de alta qualidade. “Tem tanto argentino na Band, que só falta o Messi. Não é a Cuatro Cabezas que está na Band, é as oitenta cabezas. O Diego, que chegou agora, é um cara que tem uma visão fortíssima de televisão moderna.”

Além disso, Datena elogiou a contratação do programa “Pânico” e nomeia o humorístico como uma grife. “’O Pânico na Band’ é genial. Isso deu uma força para a grade porque fica aquele negócio ‘a Band contratou o Pânico‘ e o 'Pânico' é uma grife”.  

Para rechear ainda mais a programação da emissora, o apresentador acredita que Tom Cavalcanti deveria fazer parte da grade.

Família
Datena se diz um cara durão e chato. Segundo ele, sua mulher, Matilde, só o “atura” porque ele quase não fica em casa e está sempre trabalhando. Eles são casados há 35 anos e têm cinco filhos, que, de acordo com o apresentador, estão encaminhados na vida.

Um deles o Brasil já conhece muito bem, é Leticia Wiermann, que fez um ensaio sensual para revista "Vip" e agora é apresentadora da Mix TV. Há ainda outro apresentador na família, Joel, que vai apresentar o “Brasil Urgente” em Goiânia no horário local das 17h.

Ficar lá em cima não me interessa mais. Quero fazer o caminho da volta, quero descer com tranquilidade e aproveitar mais os meus netinhos.

Prestes a fazer 55 anos, Datena está querendo ficar perto da família. Sente que não se dedicou tanto à formação de seus filhos, que não acompanhou tão de perto a infância e adolescência deles. "O dinheiro está em segundo plano", disse.

“Hoje quero aproveitar a vida sentimentalmente, com a minha família e, principalmente, com os meus netos. Com menos bens materiais, eu sou mais tranquilo, muito mais tranquilo. Vivo mais em paz e consigo me dedicar às coisas que eu gosto”, emocionou-se.

Pelo fato de estar desligado materialmente, Datena conta que o sonho para esse recomeço é conseguir descer com tranquilidade a montanha que é a vida.

“Meu sonho é descer da montanha, porque subir, por talento e capacidade, se for um bom alpinista, você chega lá em cima. O difícil é descer, ficar lá em cima não me interessa mais. Quero fazer o caminho da volta, quero descer com tranquilidade. Não quero cair porque se você cai, você despenca e morre de uma vez. Quero descer com tranquilidade e aproveitar mais os meus netinhos”.

Veja outras declarações de Datena durante a entrevista

Não é bem o que eu queria. A primeira coisa que eu sugeri para Band foi um talk show como o do Danilo Gentili, mas a emissora decidiu que o Danilo seria melhor e ele está indo bem pra caramba.
Sobre o programa novo "Quem Fica em Pé?"
Nunca fui justiceiro. Há uma diferença entre você apresentar um programa policial e ser justiceiro. Para mim, justiceiro é algo extremamente condenável. Nós damos a parte social da coisa.
Sobre o modo como ele tratado pela imprensa.
Eu acho que já cumpri o meu papel de apresentar esse tipo de programa, fui rotulado de justiceiro por parte da imprensa, mas como ele [o programa "Brasil Urgente"] dá audiência, as pessoas não me tiram.
Sobre sua permanência no jornalístico da Band.
Acho que o que faz mal à saúde é ficar sem trabalhar. Excesso de trabalho nunca matou ninguém. Cabeça vazia, oficina do diabo.
Eu tenho medo de morrer, de tirar sangue, mas medo de bandido não. Eu sou um cara que acredito muito em Deus e acho que existe uma sequência desta vida, que deve ser melhor. Eu não gosto de falar dos meus medos porque os nossos medos fortalecem esses canalhas.
É melhor você ter riqueza de espírito, da alma, da paz, da tranquilidade. Quanto menos você tem, menos você tem preocupação de perder.

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