"'Narcos' não é sobre policial americano que salva o 3º mundo", diz Padilha

James Cimino

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

O cineasta brasileiro José Padilha afirmou nesta terça-feira (28), em Los Angeles, que sua nova série, "Narcos", não pretende fazer o espectador torcer sempre para os mocinhos - isto é, os policiais americanos - contra os bandidos - os traficantes do cartel de Pablo Escobar. 

"Esta série não é sobre o policial americano que salva um país do terceiro mundo dos bandidos malvados. É como em 'Game of Thrones' e 'Breaking Bad'. Um dia você acha aquele personagem horrendo e no outro você se apaixona por ele."

Dirigida por Padilha ("Tropa de Elite") e com Wagner Moura no papel do traficante Pablo Escobar, a série estreia no serviço de TV por internet Netflix no dia 28 de agosto. Filmada na Colômbia, a história é narrada sob a perspectiva de um agente do DEA (Drugs Enforcement Administration, divisão da polícia americana de combate ao narcotráfico), que investiga o cartel colombiano. 

"Ninguém é bom nesta série. Todo mundo tem seu lado obscuro. Escobar, por exemplo. Uma das coisas que ele fez foi derrubar um avião inteiro só para matar uma pessoa. Obviamente ele é uma pessoa má. Um sociopata, mas quando se trata de sua família, ele tem um lado doce", explica Padilha.

O diretor, que atualmente vive em Los Angeles, foi duro ao falar sobre o fracasso da guerra contra as drogas nos últimos 30 anos.

"Se você segue o caminho pelo qual o dinheiro circula na Colômbia, você passa a ver o que o dinheiro causa. E havia essa ideia nos anos 1980 no governo americano de que se você acabasse com o tráfico de drogas na Colômbia, você acabaria com o tráfico nos EUA. Mas o dinheiro das drogas compra armas, políticos corruptos… E se acaba aqui, eles mudam de lugar e continuam produzindo. Não acho que a série tenha uma receita para o que poderia ser feito para mudar isso, mas ela certamente mostra que o que fazemos hoje não funciona nem nunca funcionou, seja nos EUA, seja no Brasil, seja na Colômbia."

Wagner Moura, que interpreta o traficante Escobar na série, completou: "É uma política totalmente errada. Não sei se é porque vocês estão aqui nos Estados Unidos e não percebem, mas a forma como os americanos lidam com essa questão nos afeta totalmente. Não acho que a série deva ter alguma responsabilidade social, mas seria bom que as pessoas a assistissem e pensassem sobre isso."

"Não precisamos de dragões"

O ator Pedro Pascal, que interpretou o personagem Oberyn Martell em "Game of Thrones", e que também está em "Narcos", fez uma piada sobre o novo trabalho.

Questionado sobre as semelhanças entre os dois papeis, Pascal respondeu: "Acho que eles são muito comparáveis. Acho inclusive que 'Game of Thrones' poderia se inspirar na guerra que houve na Colômbia. Elas têm o mesmo tamanho… E não precisamos de dragões, temos cocaína."

 

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