Tabet revela como despistou famosos no Show do Kibe: "Não ia ao camarim"
Beatriz AmendolaDo UOL, em São Paulo
Para muitos artistas, falar abertamente sobre mudanças de emissora e desafetos com colegas de profissão não é algo frequente – ainda mais durante entrevistas para a TV. Mas o "Show do Kibe", programa de Antonio Tabet, o Kibe Loco, que estreou neste mês no canal pago TBS, subverteu isso: no talk-show, os entrevistados não sabem que já estão sendo gravados e imaginam apenas estar batendo um papo informal com o apresentador.
Desde o início, a ideia era transformar o formato do talk-show, já que os entrevistados seriam todos comediantes –Tabet entrevistou nomes como Marco Luque, Dani Calabresa, Rafinha Bastos e Fábio Porchat. "Nunca poderia ser um talk-show convencional. Na hora de criar o programa, foi muito sedutor para a gente pensar em desconstruir o formato, porque é um formato muito comum pra comediante", explicou o apresentador em entrevista ao UOL.
As entrevistas renderam revelações surpreendentes para Tabet: "Foi muito marcante pra mim a Dani Calabresa falar da mudança da emissora, de quando ela saiu da MTV e foi para a Band. Ela falou que tinha errado no jogo da vida. E quando a gente gravou, ela estava na Band ainda. O ressentimento que o Rafinha [Bastos] tem com o Danilo [Gentili] também é uma coisa reveladora, porque muita gente acredita que eles são amicíssimos. O Silvio Luís, que é um cara superengraçado, falou que não se acha engraçado".
A revelação de que a pré-entrevista já estava valendo deixou alguns famosos preocupados. "A Dani ficou muito nervosa porque não lembrava o que tinha falado. Como ela estava muito à vontade, ela não lembrava o que tinha dito. O Rafinha depois me chamou para conversar, mas acho que ele se preocupou mais com o programa do que com ele mesmo, perguntou se havia ficado legal. Mas nada demais". E nenhum deles pediu para que as declarações fossem retiradas. "Ninguém pediu pra tirar nada, porque eles acabam desabafando de certa forma", contou Tabet.
Clima favorece revelações
Os comediantes, é claro, não foram os primeiros a fazerem revelações de forma espontânea imaginando que não estavam sendo gravados. Em 1994, tornou-se célebre o "caso das antenas parabólicas", um escândalo que teve início quando o então ministro da fazenda Rubens Ricupero teve declarações informais transmitidas acidentalmente por antenas parabólicas antes de conceder uma entrevista à TV Globo. E, neste ano, o norte-americano Robert Durst confessou assassinatos durante gravações do reality-show da HBO "The Jinx", ao esquecer a presença do microfone.
Para Tabet, as pessoas ficam mais à vontade quando são retirados os elementos tradicionais de uma entrevista ou, no caso de seu programa, de um talk-show. "É como no 'Big Brother', eles acabam esquecendo e falando coisas que ele não falaria com aquele clima, aquela liturgia do programa de entrevista, com plateia".
Diretora do programa, Lilian Amarante ressaltou que a ideia era mostrar uma faceta mais verdadeira dos convidados: "A câmera intimida. O que a gente buscou foi o descontruído, não o constrangedor. Não era intenção fazer uma pegadinha. A intenção era mostrar esse cara que é superlegal, que a gente conhece. A Dani é exatamente daquele jeito, debochado, você não para de rir com ela. O que a gente quis buscar foi um clima verdadeiro dos entrevistados, descontruindo esse verniz da televisão".
Para deixar os convidados à vontade, a produção teve de criar um ambiente propício. "Em um talk-show, alguém vai falar com você antes. Mas era muito importante que a primeira vez que eu fosse ver o convidado fosse no estúdio. Não ia ao camarim, não dava bom dia ou boa tarde, só falava no estúdio. E a equipe inteira sabia. Os câmeras conversavam entre si, as pessoas falavam ao celular, passavam na frente da câmera. Não tem como valer um programa que tem uma escada aberta no meio do palco".
E os humoristas acreditaram o tempo todo que estavam tendo apenas um bate-papo? "Acho que quase todos suspeitaram, porque tinha umas coisas muito surreais que a gente fazia pra deixar o programa engraçado. Era sempre muito bom eu discutir com o diretor e deixar ali uma saia-justa" opinou o apresentador, entregando que Marco Luque "foi ludibriado o tempo todo". Os que perguntavam se a entrevista estava valendo recebiam respostas diferentes de Tabet. "Falava que não, ou que era só para o caso de precisarmos de imagens depois. Dependia do convidado".
Mesmo com a brincadeira já sendo conhecida do público, Tabet afirma que há chances de o "Show do Kibe" ter novas temporadas. "Existem várias outras possibilidades: primeiro, entrevistar pessoas de outros segmentos, e acho que aí conseguimos pegar gente que não esteja muito familiarizada com o programa; podemos fazer uma entrevista falsa. Há mil possibilidades para brincar com a mentira e a simulação".