Mesmice e vilania como protagonista afastam telespectadores da Globo
Amanda Serra e Giselle de Almeida
Do UOL em São Paulo e no Rio
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Reprodução/GShow/Babilônia
A vilã Beatriz (Glória Pires) atira na vilã Inês (Adriana Esteves) em cena de "Babilônia". Quantidade de maldade na trama é queixa constante de telespectadores
Emissora líder de audiência, a Globo acaba de completar 50 anos vendo dois pilares de sua programação, o "Jornal Nacional" e a novela das nove, tropeçando no Ibope. No caso de "Babilônia", a vilania como protagonista é apontada por telespectadores ouvidos pelo UOL como um dos fatores que os motivam a mudar de canal. Em relação ao jornalismo, há quem diga que a concorrência ofereça conteúdo mais imparcial.
Tanto a trama do horário nobre quanto o tradicional telejornal têm se reinventado (com mudanças na trama ou novos cenários e formatos) para recuperar a atenção do público, que se torna cada vez mais exigente. Afinal, a internet e os canais de TV paga oferecem cada dia mais opções para quem gosta de televisão.
Para a administradora paulistana Mariana Gonçalves, 29, a falta de qualidade na TV aberta, as mudanças no meio do caminho e a ausência de roteiro são os principais problemas nas novelas da Globo.
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"Parei de assistir à novela das nove quando ainda passava 'Império'. Depois que a Cora (Drica Moraes) morreu, a trama mudou, parecia outra novela e perdeu todo sentido. E aí, 'Babilônia', que não me chamou atenção em nada, histórias repetitivas, diálogos iguais, personagens caricatos. As novelas da Globo não são ruins, mas têm histórias difíceis de engolir. 'Babilônia' parece em remake chulo de 'Avenida Brasil' [sucesso de audiência e público]. Fala apenas de vingança e mostra a mocinha boazinha, guerreira que não existe na vida real... Uma mesmice. Nesse horário, assisto a 'Carrossel' [o SBT optou por reprisar o folhetim que terminou em 2013]", diz Mariana.
A administradora, que deixou o trabalho para cuidar do filho recém-nascido e tem mais tempo para ver TV, diz ainda que não deixou totalmente de acompanhar a Globo, mas que prefere variar em alguns horários, como as tardes durante a semana e aos domingos. "O Faustão é sempre repetitivo, aí prefiro o Silvio Santos, que apesar de estar anos na TV, sempre tem uma tirada".
A jornalista Fabiane Bastos, 30, diz que a última novela que acompanhou do início ao fim foi "Joia Rara" (exibida no horário das 18 horas), de 2013. "Nos anos 90 devo ter visto todas, agora elas têm que trazer alguma coisa diferente pra prender minha atenção. Elas estão repetitivas, e parece que estão com elenco muito pequeno, tem até criança emendando novela. Aí você vê o mesmo casal fazendo par romântico três vezes. Cansa a imagem dos atores. Quem enjoou da Marina Ruy Barbosa levanta a mão?", brincou.
Na opinião dela, as outras emissoras da TV aberta ainda não oferecem competição à altura. "Esse é o problema. As outras têm pontos fortes, mas não fazem páreo. A Band, por exemplo, exibe direito as séries, mas é só isso. O SBT é nossa fuga da ditadura estadunidense, em prol dos vizinhos latinos. E a Record está tentando criar dramaturgia, mas está presa na igreja, que manda nela", comparou.
O excesso de crueldade na ficção afastou a corretora de seguros Eliana Oliveira, de 35 anos, da emissora líder. "Parei de assistir às novelas da Globo porque sempre são as mesmas histórias. A última que vi foi 'Boogie Oogie'. Para piorar, ultimamente, o vilão sempre tem final feliz. A gente fica meses esperando ele se ferrar e aí ele sai vitorioso. A novela é o único momento que tenho para relaxar, para viajar em um romance em que a história tenha compromisso com o amor e não com a ganância, mentira. Em 'Babilônia' quiseram retratar o dia a dia da 'sofrência', enquanto o que queríamos de fato era fugir dessa realidade cruel. Achei os primeiros capítulos cruéis", disse a paulistana ao UOL.
Para a telespectadora, a novela que tem se destacado na televisão brasileira é a turca "Mil e Uma Noites", da Band. Assim como o SBT faz com as novelas mexicanas, a Bandeirantes optou por importar um produto pronto e exibi-lo no horário nobre (às 21h). A atração foi produzida entre 2006 e 2009 e fez sucesso em países como Colômbia e Chile.
"É uma novela totalmente família e mesmo assim aborda assuntos como o alcoolismo, crime contra as mulheres em todos os sentidos, além do aborto. A determinação que faz a protagonista passar em cima de tudo, seja no trabalho ou na hora de proteger o filho e, principalmente, em não abaixar a cabeça pra nada, me encantam. É uma história de amor linda. Até meu namorado que não curte novela está acompanhando", afirma ela.
Apesar de afirmar que as cenas do casal de lésbicas interpretado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em "Babilônia" não a incomodam – "Não me ligo nisso porque talvez eu não tenha filhos" –, a corretora de seguros ressalta o pudor de "Mil e Uma Noites". "As mulheres vulgares da novela, no máximo, saem com os rapazes e dão risada de um modo histérico. Não tem ninguém mostrando nada do corpo. A protagonista parece uma irmã da Igreja Presbiteriana e todo mundo acha ela linda. Enfim, em minha opinião se pode fazer uma novela com história boa sem ficar enfatizando o corpo, a mentira ou a sexualidade de cada um", conclui.
"Mil e Uma Noites" possui 90 capítulos e a história gira em torno de Sherazade (Begüzar Korel), uma jovem arquiteta que não consegue pagar o tratamento de saúde do filho pequeno, Kaan (Efe Çinar), que tem leucemia. Disposta a tudo para salvá-lo, ela aceita ir para cama com seu chefe, o rico e manipulador Onur Askal (Halit Ergenç), em troca do dinheiro. Após passar a noite com Sherazade, Onur se apaixona pela funcionária e muda sua forma de ser em nome da paixão que sente.
Além das novelas
Telespectador assíduo de jogos de futebol na TV, o professor de educação física Fábio Campos, acha que a Globo deixa a desejar nesse quesito. "Ela tem realmente as melhores câmeras e a melhor transmissão, mas os comentaristas são horríveis, muito fracos e tendenciosos. Por isso prefiro assistir em outros canais", conta.
Já a professora Alessandra Silva Santos, 31, prefere sintonizar na Band para assistir ao noticiário. "O 'Jornal da Band' é muito melhor do que o 'Jornal Nacional', na forma como abordam as reportagens, é mais dinâmico e mais completo". Há cerca de dois anos, ela resolveu radicalizar e não assistir a nenhum programa global. Hoje prefere seriados, documentários e programas que assiste na internet. "Depois de ter participado de várias manifestações é que a gente vê a parcialidade da Globo. Já tinha uma noção, mas passei a ter um olhar mais apurado depois da greve dos professores de 2013 também", diz.
Porém atitudes radicais, como a de Alessandra, são exceções. A maioria dos entrevistados, uma hora ou outra, sintoniza o canal. "Eu cansei da Globo, mas não sei se existe essa pessoa que cansou e largou tudo. Não tem como fugir. A Globo pega até sem antena, e ela tem exclusividade sobre o futebol, o Carnaval, as Olimpíadas, o Oscar, tem a maior equipe de jornalismo, cedo ou tarde você muda para ela," afirma Fabiane.
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