Foco em tecnologia ajudou Globo a dar passos mais largos em 50 anos
Edianez ParenteDo UOL, em São Paulo
Quando a TV Globo nasceu, em abril de 1965, a televisão brasileira já era uma mocinha de 15 anos e outras emissoras já estavam bem estabelecidas, como Tupi e Record. Mas o caminho que a estreante fundada por Roberto Marinho traçou ao longo destes 50 anos foi sempre pavimentado com o que de mais inovador em termos de tecnologia havia na TV mundial. Se a emissora não foi exatamente a pioneira em alguma novidade, certamente a implantaria depois com escala, qualidade e peso maior do que as concorrentes, como resultado de significativos investimentos em tecnologia e pessoal qualificado.
Hoje, a emissora atinge de forma gratuita quase a totalidade da população brasileira, com 5 emissoras próprias e 118 afiliadas, além de sinal aberto no satélite (a chamada banda C, captada via antena parabólica). Praticamente, a rede só não atinge os lares onde não há energia elétrica, aqueles domicílios situados em regiões remotas.
Como explica o engenheiro Olímpio Franco, presidente da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), inovação sempre foi o ponto de destaque no caso da Globo, em equipamentos e sistemas diferenciados: "O uso da inovação provoca saltos de diferenciação, de qualidade e de resultados latentes nos conteúdos exibidos". O presidente da SET lembra ainda que a emissora, desde a sua fundação, buscou a máxima qualidade possível em todo o processo de geração e produção de conteúdos, compreendendo captura, processamento, pós-produção, exibição e distribuição. "Os sistemas técnicos da TV Globo se tornaram referência mundial pelo primor, confiabilidade e performance", afirma.
Quando a Globo começou, muito da TV ainda era feito ao vivo, mas já existiam o videotape e as transmissões via Embratel, então uma empresa do governo. A transmissão da chegada do homem à Lua não foi uma exclusividade sua, mas naquele mesmo ano a Globo usou sinal Embratel diretamente de Roma para entrevistar o Papa Paulo VI. O Canal 4 do Rio de Janeiro e o Canal 5 de São Paulo já tinham programação sincronizada e apresentavam conteúdo com capricho de embalagem.
Na Copa do Mundo do México, em 1970, a Globo recebeu um sinal experimental em cores da Embratel, mas o grande aprendizado da emissora foi com a Televisa: o uso do replay, tão importante para os principais lances do futebol, como gols e faltas, até os dias atuais.
A primeira transmissão original em cores foi feita no Brasil em 1972, pela TV Difusora, que transmitia sinal da TV Bandeirantes, na Festa da Uva de Caxias do Sul/RS. Globo, Tupi e Record, entre outras, entraram como parceiras ali. Mas bastaram poucos dias para a Globo colocar ela mesma no ar a primeira produção própria colorida: o "Caso Especial – Meu Primeiro Baile", cheia de glamour com Glória Menezes e Tarcísio Meira. Em 1973, veio a primeira telenovela em cores da TV brasileira, "O Bem Amado", exibida no horário das 22h. As demais seguiam em preto e branco. Levou quase dez anos até que a emissora encerrasse totalmente suas transmissões em P&B – outras o fizeram antes, como a Bandeirantes. A última atração sem cores da Globo foi a novela "Estúpido Cúpido", de 1977, cujo último capítulo já foi exibido colorido.
Também foi a Globo que inaugurou o conceito de "rede nacional", ao interligar suas afiliadas, primeiramente pelo sistema de microondas (operação muito cara), e posteriormente integrando-as pelo sistema via satélite, o que possibilitou transmissão simultânea e agilidade nas operações. Antes disso, havia diferença de horários e até dia de programação à espera da chegada das fitas com os programas.
O publisher Rubens Glasberg, que fundou no início dos anos 90 a revista Tela Viva, totalmente dedicada à produção de TV, lembra que a Globo sempre esteve à frente na aquisição de equipamentos de produção modernos, quando toda a infraestrutura era muito cara. "Numa época em que os custos eram altíssimos, a Globo podia adquirir os melhores equipamentos, câmeras, ilhas etc, o que lhe dava um diferencial enorme no mercado", afirma. Era uma realidade muito diferente da atual, em que a digitalização provocou o barateamento dos equipamentos, fazendo com que qualquer garoto com um smartphone filme e edite vídeos com facilidade.
Muitas inovações chegaram junto aos grandes eventos da emissora. Assim, a Copa de 78 na Argentina foi totalmente transmitida em cores; em 82, no México, a Globo inaugurou o famoso "Tira-Teima"; em 98 fez a primeira transmissão em HD (high definition ou alta definição) intercontinental – foi do jogo entre Brasil x Escócia. A final da Copa de 2002, na Coreia, também foi transmitida em HD.
A participação direta do público nos rumos da programação veio em 1992 no programa "Você Decide", em que o telespectador escolhia uma opção de final para cada episódio por votação em tempo real via telefone. O programa foi um sucesso e precursor das votações posteriores via SMS e internet. Aliás, os sorteios e promoções via torpedo promovidos pelo "Domingão do Faustão" foram apontados em vários eventos de telecomunicações como o principal educador do brasileiro para o envio de mensagens via celular.
Mas só equipamento sem expertise de nada adianta. Como lembra Franco, da SET, outro fator que contribuiu para o sucesso da Globo no campo de inovação foi capacitar suas equipes, dotá-las de conhecimento para avançar e ousar na adoção de soluções avançadas de tecnologias de ponta.
Em televisão, a humanização da tecnologia pode fazer toda a diferença. Com o advento da TV digital full HD, chegou uma preocupação extra na televisão, já que cenários e estúdios tiveram de ser adaptados ou refeitos porque a alta definição também amplia qualquer detalhe fora do lugar ou defeito. E isso se refletia no rosto das estrelas da casa. O ano era 2010 e a Globo não titubeou em adquirir filtros para suas câmeras, semelhantes aos usados em cinema, que garantissem ao elenco a suavização nas linhas e rugas de expressão. O objetivo era dar uma espécie de "photoshop" nos closes das estrelas, o que hoje é possível com inúmeros softwares de edição. "Nossas atrizes são estrelas e merecem aparecer lindas no vídeo", disse à época o então diretor geral, Octávio Florisbal.
A Globo seguiu com experimentações importantes, como o 3D -- fez via cabo transmissões do Carnaval, esportes e até do BBB, mas sobre este o público não se interessou. Na última Copa da Fifa no Brasil, houve captação e transmissão em 4K (altíssima definição) também via cabo e a emissora já mira no 8K (ultra alta definição). É aguardar para ver qual será a boa nova no 51º aniversário.