Padrão diz que teve pesadelos todas as noites ao cobrir ebola na Guiné
Amanda SerraDo UOL, em São Paulo
Longe da TV desde março de 2013, a jornalista Ana Paula Padrão resolveu dedicar o ano de 2014 para se arriscar em novos projetos, como foi o caso do reality show "Masterchef", da Band, e sua aparição no humorístico jornalístico "CQC". Mas a apresentadora não perdeu a veia de repórter e no meio da epidemia do ebola -- o vírus é considerado um dos mais mortais do mundo, matando até 90% das pessoas contaminadas, segundo a Organização Mundial da Saúde -- ela sugeriu para direção da Bandeirantes que eles fizessem um especial na Guiné, onde menos de 40% dos doentes sobrevivem. Em conversa com o UOL, a repórter conta como foi passar cinco dias no país africano.
"Saí do Brasil muito preparada e optei por não fazer nada sozinha em nenhum momento. Queria voltar com a reportagem e não virar mártir. Em uma das matérias, em um mercado de peixe começou a ter uma aglomeração, comecei a ficar com medo do que pudesse acontecer, porque além da doença as pessoas têm sofrido muito preconceito. Um homem cuspiu ao lado da minha produtora, como quem diz: 'Olha, posso te contaminar'", disse a Ana Paula.
"Ebola – Ana Paula Padrão na África no meio da guerra contra o vírus mortal" irá ao ar na quinta-feira (4), às 22h30 e terá uma hora de duração. A produção começou em outubro logo após o fim das gravações do "Masterchef" e como precaução, a jornalista aceitou ficar hospedada na casa do embaixador do Brasil na Guiné e evitou hotel. "Um dos cinegrafistas tem uma filha de dois meses, me sentia responsável por ele", afirmou Ana Paula.
Além do especial, Ana Paula irá participar do "Jornal da Band" na quinta-feira, ao lado do jornalista Ricardo Boechat para contar como foi seu processo de produção na África. "É pesado ver uma pessoa sendo enterrada sozinha porque os parentes não aceitam o processo de enterro [a maioria na Guiné é muçulmana e tem como cultura lavar o corpo dos mortos, fator que aumenta o contagio do ebola], ficar na porta dos hospitais vendo os familiares recebendo as notícias de mortes, é triste. Tinha pesadelo toda noite", contou Ana Paula, que não chorou durante as reportagens, mas contou que quando pensa no que viu lá não consegue conter as lágrimas. "Estou chorando agora, chorei a viagem inteira de volta", disse ela.
Com contrato até o meio do ano de 2015 com a Band, a jornalista tem carta branca para conversar e sugerir ideias de reportagens para os programas das casa. "Além do ebola, trouxe mais duas matérias para o 'Jornal da Band' e estou com bastante liberdade na emissora para escolher, opinar essa é uma situação rara", disse ela, que já passou pela bancada do "Jornal Nacional", "Jornal da Globo", "Jornal da Record" e "SBT Brasil".
Com perspectivas de apresentar a segunda temporada do "Masterchef" no próximo ano, Ana Paula se divertiu na bancada do "CQC" e ignorou os comentários negativos que recebeu. "Quando me chamaram, perguntei: 'Eu? Não acho que o programa tenha a ver comigo'. Estou gostando de experimentar, se vão criticar, falar mal, tudo isso é menos importante que o fato de eu experimentar. Estou em uma emissora que me dá a oportunidade para isso. O Diego Guebel [diretor geral da Band] me disse uma coisa e ele está certo. 'Não preciso fazer uma coisa só. Tenho um perfil múltiplo'. Fiz um caminho diferente dos meus colegas, tenho duas empresas, sou empreendedora. Cobri guerra, economia, política. Estou em um momento especial, perdi o medo de experimentar e isso faz com que eu seja feliz", afirmou.
"Me diverti muito com o 'Masterchef' e acredito que só tenho a somar em uma segunda temporada, porque tenho muita coisa para aprender ainda. E ganhei amigos novos definitivamente", concluiu a jornalista, referindo-se aos chefs de cozinha Henrique Fogaça, o francês Erick Jacquin e a argentina Paola Carosella.