Roberto Bolaños, criador de Chaves e Chapolin, morre aos 85 anos no México

Do UOL, em São Paulo
Divulgação
O mexicano Roberto Bolanõs criou personagens como Chaves e Chapolin

O ator Roberto Bolaños, criador de personagens como Chaves e Chapolin, morreu aos 85 anos nesta sexta-feira (28), em sua casa em Cancún, no México.

Com problemas respiratórios, dificuldades para se locomover e se mexer, o ator e comediante havia se isolado com a família em Cancún em busca de ar puro, segundo informações divulgadas em abril. Em suas últimas aparições públicas, Bolaños se deslocava com o auxílio de uma cadeira de rodas.

Bolaños era casado com Florinda Meza, a atriz que interpretava a maioria dos personagens femininos, inclusive a Dona Florinda, desde 2004. Ele era pai de Roberto, Paulina, Graciela, Marcela, Teresa e Cecília, frutos do primeiro casamento, com Graciela Fernández Pierre. 

"El Chavo del Ocho", nome original da série "Chaves", foi exibida pela primeira vez em 20 de junho de 1971 no México. No Brasil, "Chaves" é o seriado infantil de maior longevidade da TV. No ar no SBT desde 1984, o programa conta a história de um menino órfão que vive dentro de um barril, em um cortiço.

O personagem e seus amigos Quico, Chiquinha, Nhonho, seu Barriga, seu Madruga, dona Florinda, professor Girafales e dona Clotilde, conhecida como "a bruxa do 71", conquistaram crianças e adultos de todas as gerações no país com seu humor ingênuo, cheio de bordões e sem qualquer palavrão. As histórias de Chaves e sua turma ganharam adaptações em desenho animado, videogames e peças de teatro.
 
O SBT interrompeu a exibição de um episódio de "Chaves" para noticiar a morte do artista (veja vídeo abaixo). À noite, a emissora divulgou uma nota lamentando a morte e anunciou a exibição de um especial em homenagem a Bolanõs, às 21h15. "É com muito pesar que a direção do SBT confirma o falecimento do ator Roberto Bolaños, o Chaves, na tarde desta sexta-feira. O SBT lamenta a perda do grande artista que faz parte da programação da emissora há 30 anos. Lamentamos a perda do ator e deixamos nossos sentimentos aos familiares, amigos e admiradores de Roberto Bolaños", dizia o comunicado.
 

SBT se despede de Bolaños

 
Assim que foi divulgada a informação da morte do ator, artistas do Brasil e do exterior manifestaram tristeza. Edgar Vivar, intérprete de Seu Barriga, escreveu no Twitter. "Roberto, não se vá. Permanece em meu coração e em todos os corações de tantos a quem nos fez feliz. Adeus, Chavito, até sempre".
 
A atriz que fazia a Chiquinha, Maria Antonieta de Las Nieves, também usou o Twitter para se despedir do colega: "Obrigada por ter feito tanta gente feliz e pelos maravilhosos momentos que dividimos no grupo."
 
Entre os humoristas brasileiros, Tatá Werneck foi uma das primeiras a se manifestar nas redes sociais. "Pelo amor de Deus!!! Luto oficial!! Meu maior ídolo! Meu amor!! Minha grande inspiração! Chaves!!!!!! Caraca, tô chorando que nem uma idiota", escreveu a atriz. 
 
Mesmo debilitado, Bolanõs era usuário da internet e escreveu para os brasileiros em suas últimas publicações no Twitter. "Todo meu amor, para Brasil", escreveu em resposta a uma fã brasileira em agosto.
 
A pedido do UOL, a dubladora de Chiquinha no Brasil gravou uma mensagem de despedida para o personagem mais famoso de Bolaños: "O Chaves morreu? Ele não vai mais brincar comigo? Eu estou muito triste. Ele vai fazer muita falta. Ele vai estar sempre no meu coração e no coração de todo mundo".
 

Biografia

Roberto Gómez Bolaños nasceu na Cidade do México em 21 de fevereiro de 1929. Filho da secretária bilíngue Elsa Bolaños Cacho e do pintor, cartunista e ilustrador Francisco Gómez Linares, Bolaños começou a carreira como escritor criativo para rádio e televisão durante a década de 1950. Começou a representar como ator em 1960, no filme "Dois Criados Malcriados". 
 
"Desde criança, minha característica principal sempre foi o medo. Lembro que sentia medo de olhar debaixo das camas e quando jovenzinho, foi pior, por isso fui briguento", contou Bolaños em uma das muitas entrevistas que concedeu.

Quando adolescente, Bolaños sonhava ser jogador de futebol e se destacou em torneios escolares de boxe, que disputava escondido da mãe. Aos 22 anos, começou a estudar engenharia mas se aventurou a escrever anúncios em uma agência de publicidade e logo estreou como roteirista em programas de rádio, televisão e cinema que ganharam fama.

Mais tarde, aproveitou a ausência de algum ator nas gravações para fazer graça diante das câmeras, dando os primeiros passos para o comediante que interpretaria personagens nascidos em sua própria imaginação.

Aos 40 anos, Bolaños estreou na televisão mexicana com o programa "Chespirito" que, com interpretações diversas, ficou no ar por 25 anos ininterruptos em horário nobre. Após alcançar níveis inéditos de audiência, foi exportado para o restante da América Latina e para a Espanha.
Bolaños começou sua carreira como roteirista de programas de comédia e de obras do seu xará de codinome, o britânico William Shakespeare, cujo apelido no diminutivo, pronunciado à espanhola, se leria "Chespirito".
 
Em 1968, começaram as transmissões Independentes de Televisão no México e Chespirito foi chamado como escritor para a realização de um programa com duração de meia hora. E assim, nasceu "Los Supergenios de la Mesa Cuadrada". Ao lado de Chespirito, contracenavam Ramón Valdés, Rubén Aguirre e María Antonieta de las Nieves.
 
Em 1970, o programa teve sua duração aumentada. Nessa época, surge o Chapolin Colorado, um herói atrapalhado. Um ano depois, foi criado o personagem que se tornaria o maior sucesso de Bolaños, Chaves. Ambos os personagens funcionaram tão bem que as sketches se tornaram séries independentes de 30 minutos de duração em 1973, após o fim do "Programa Chespirito".
 
Conhecido pelo carisma, Bolaños também colecionou polêmicas durante a carreira, várias delas relacionadas ao elenco de seus seriados. A principal foi uma batalha judicial com Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, pelos direitos de utilização da personagem, criada e posteriormente registrada por ele, nos anos 1970.
 
Com Carlos Villagrán, o Quico, a relação também não era das melhores, principalmente após a saída do ator do elenco de "Chaves". Proibido de encarnar o personagem no México, ele foi obrigado a rumar para a Venezuela, onde estrelou a própria série, num formato similar ao seriado original.