"Eu tenho vontade de continuar a trabalhar", diz Eva Todor aos 95 anos
Marcela RibeiroDo UOL, no Rio
Aos 95 anos e celebrando 80 anos de carreira, Eva Todor sonha em voltar a atuar. A atriz veterana, que vive no Rio de Janeiro e sofre com alguns sintomas da idade e do Parkison, reforça sua paixão pela arte.
"Eu tenho vontade de continuar a trabalhar, mas isso depende de Deus. Se eu tivesse saúde, você nem imagina como eu tenho vontade", contou a atriz por telefone ao UOL, apresentando dificuldades na fala.
Nascida na Hungria, Eva veio para o Brasil com a família em 1929. Ela começou a trabalhar no teatro em 1934 no espetáculo "Quanto Vale uma Mulher", de Luiz Iglesias, seu primeiro marido. Na TV, ela estrelou algumas novelas na TV Tupi antes de atuar em "Locomotivas" (1977), na Globo. Na trama, era Maria Josefina, uma ex-vedete dona de um salão de beleza que já mostrava seu dom para a comédia.
De lá pra cá, emprestou sua imagem para vários personagens, entre eles, a Morgana de "Top Model" (1989), a Josefa de "O Cravo e a Rosa" (2000) e Miss Jane, de "América" (2005).
"Dezenas de personagens marcaram a minha vida. A esses personagens eu agradeço a minha estabilidade", disse ela. O mais recente papel da atriz na televisão aconteceu em 2012, como a Dália, de "Salve Jorge".
Nesta segunda-feira (17), Eva Todor vai receber uma homenagem no Teatro Leblon, na zona sul do Rio, pelos 80 anos de carreira e 95 de idade, completados no último dia 9.
"Quero ver se depois dessa homenagem eu ainda consigo, no ano que vem, se o físico, a idade e a saúde permitirem, voltar ao trabalho. Quero chegar aos 100 anos. Estou sensibilizada com a homenagem, só peço a Deus que não seja a última. Só espero que ela não seja a minha despedida. Se eu não morrer, vocês vão me ver trabalhar ainda", reforçou a veterana com a voz embargada.
Eva Todor é viúva, não tem filhos e vive com empregados. A Globo custeia uma assistência domiciliar que conta com a ajuda de cuidadores e enfermeiros, além de tratamentos com fisioterapia e fonoaudiologia.
Marcos Otaviano, motorista da atriz há 25 anos, contou ao UOL que ela continua muito vaidosa: "Ela costuma sair para ir a médicos e ao cabeleireiro, onde passa duas, três horas. É muito vaidosa, ela que faz a própria maquiagem diariamente", disse ele, por quem a artista tem um carinho de filho.
A atriz enfrenta dificuldades para se locomover e está com a fala e audição comprometidas. Durante o dia, ela gosta de ver novelas e de se rever em algumas reprises.
Sobre a carreira
Eva Todor nasceu em Budapeste, na Hungria, em 9 de novembro de 1919 e fixou residência em São Paulo com a família em 1929, no período pós-primeira guerra.
Ainda criança começou a estudar balé e, quando a família se mudou para o Rio de Janeiro, continuou seu aprendizado com Maria Olenewa -- fundadora da primeira escola de dança do país.
A atriz conheceu seu primeiro marido, Luis Iglesias, no teatro, e ficou casada por mais de 20 anos. Depois de ficar viúva, Eva casou-se novamente com o empresário Paulo Nolding, que passou a cuidar de sua carreira. O casamento com ele durou 25 anos, até seu falecimento em 1989.
No teatro, ela se destacou em muitas peças, entre elas "Senhora da Boca do Lixo" (1966), "De Olho na Amélia" (1969) e "Quarta-Feira Lá em Casa, Sem Falta" (1977).
No cinema seu último papel foi em 2008 como Dona Marly, a "vovó do pó" em "Meu Nome Não É Johnny".
Na TV, ela atuou em mais de 30 novelas e séries, entre elas "Locomotivas" (1977), "A Gata Comeu (1985) e "Caminho das Índias" (2009).