Nos 20 anos de "A Viagem", Guilherme Fontes diz que interpretar galãs cansa
Amanda Serra
Do UOL, em São Paulo
Vinte anos após a exibição da novela "A Viagem", reprisada pela terceira vez no Canal Viva, o ator Guilherme Fontes, 47 anos, relembra como foi interpretar o perturbado Alexandre e analisa as mudanças de fases em sua carreira: do protagonista ao homem de família.
"Galã como o f*** da história é sempre muito bom. Só que se ele não ultrapassa as fronteiras do que já conhecemos, cansa. Nesse sentido os coadjuvantes dão mais liberdade. Gosto muito e aprendi a viver a vida real. Portanto, se você faz o galã da novela, tem que gravar muito e fica sem tempo pra viver, curtir a vida, a repercussão nas ruas, o retorno direto. É muito bom conseguir viver tudo intensamente", analisou Guilherme em entrevista ao UOL.
Entre os anos 80 e 90, Fontes protagonizou uma série de novelas que o consolidaram como galã. Em "Mulheres de Areia" (1993), ele viveu o protagonista Marco, dividindo o amor das gêmeas Ruth e Raquel (Glória Pires); já em "Bebê a Bordo" (1988) ele era Rei, o garoto que lançou a moda da bandana. Na primeira versão de "Ti Ti Ti" (1985), aos 18 anos, Guilherme interpretou Caco. Atualmente, o ator encarna o corretor imobiliário Mário, tio do protagonista Rafael (Marco Pigossi) na novela "Boogie Oogie", no ar às 18 horas na Globo. Em 2013, ele deu vida ao paizão Flávio na trama das sete "Além do Horizonte".
Seu posto de queridinho do público, no entanto, nunca dependeu da doçura de seus personagens. A prova é justamente "A Viagem", trama espírita de Ivani Ribeiro, em que o ator conquistou o público na pele do vilão Alexandre, jovem drogado e problemático que comete um assassinato e depois se suicida. "Temos que rezar e ajoelhar ao longo de nossa trajetória. Conseguimos fazer personagens que são lembrados pelo público. Eu fiz alguns e eles se repetem, fazendo mais uma geração conhecer um trabalho que foi maravilhoso", afirmou o ator.
Para o artista, o fato de Alexandre ter sido entregue para a polícia pelo irmão e pelo cunhado foi uma atitude questionável para os telespectadores e isso talvez tenha feito com que o carinho das pessoas aumentasse. "A sociedade não permite traição de familiares". Inconformado em passar anos na prisão, o irmão de Dinah (Christiane Torloni) se mata e vai parar no Vale dos Suicidas e promete se vingar de todos que o prejudicaram.
Alexandre não só está presente na memória dos telespectadores como marcou a trajetória profissional e pessoal do artista, sendo responsável por impulsionar seu retorno ao cinema. "Os capítulos iniciais foram tão significativos que me impressionam até hoje. Pude curtir o impacto da novela pelo Brasil adentro. Foi inesquecível. Estávamos todos inspirados. Abençoados neste trabalho".
Com "A Viagem", o Viva atingiu a melhor audiência no horário das 14h30 desde que o canal foi criado, em 2010, e ficou à frente no ranking da TV por assinatura entre o público adulto, que é de 18 a 49 anos.
"Naquele momento fiquei muito seguro de que estava na hora de retornar ao cinema, onde comecei [o primeiro longa foi 'A Cor do Seu Destino', de Jorge Duran]. Também estava me separando e precisava de algo que me transformasse ainda mais. Hoje, estou pronto pra continuar produzindo mais e mais", contou. O ator ainda manifestou seu desejo de voltar a interpretar personagens mais impulsivos e complexos. "Sinto falta total de viver personagens mais densos, passionais. São sempre os melhores. Mas a comédia também é uma farra. Temos que trabalhar isso".
Por conta do sucesso do personagem, Guilherme pensa em produzir um filme de "A Viagem". "Seria fascinante revivê-lo, mas não sei como seria meu envolvimento. Mas tem que ter grana pra fazer o suspense, terror e religião com recursos. Vou conversar com a Globo ainda. O fato é que este personagem tem um público enorme. São três gerações, dá para brincar".
"Chatô - O Rei do Brasil"
Por falar em filme, o ator, que está há quase 20 anos para lançar "Chatô - O Rei do Brasil", baseado na vida do magnata brasileiro das comunicações Assis Chateaubriand, prometeu divulgar em breve a data de lançamento. "Em breve passarei um cronograma de pré-estreias em diversas capitais".
Guilherme filmou entre os anos de 1999, 2002 e 2004 e foi acusado de mau uso de dinheiro público captado para o longa. A Justiça ordenou que ele devolvesse R$ 36,5 milhões ao Estado e em 2010 o condenou a três anos de reclusão por sonegação fiscal. A pena foi revertida em prestação de serviços comunitários. Questionado sobre as denúncias, o ator justificou-se: "A disputa por verbas neste país é desigual e terrível em todas as áreas. Mas o resto dos detalhes mais felizes e os mais sórdidos vou deixar secreto para um futuro livro".
Em entrevista para revista "Status" em abril, o ator defendeu que o imbróglio se trata de uma conspiração de grandes nomes do cinema nacional contra ele.